Folha de S.Paulo

Mercedes critica abertura comercial abrupta

Assessor da Fazenda diz que “a gente vai ter de trocar o pneu com o carro andando”

- FLAVIA LIMA EDUARDO SODRÉ

FOLHA

As empresas e suas entidades representa­tivas não hesitam em apoiar o ajuste fiscal, mas fazem suas defesas quando os subsídios ao setor são colocados em discussão.

O impasse ficou claro em debate ocorrido no Insper nesta terça (28). Philipp Schiemer, presidente da MercedesBe­nz no Brasil, avisou que as montadoras fechariam as portas diante de abertura comercial feita de modo abrupto.

João Manoel Pinho de Mello, assessor de reformas microeconô­micas da Fazenda, rebateu com críticas duras ao setor. Mello reconheceu que a transição para um novo programa de incentivo ao setor automotivo não pode ser feita com “açodamento”. Mas pontuou que a transição requer menos protecioni­smo e não inclui políticas “considerad­as ruins”.

“Gostaríamo­s de transitar de maneira suave [para expor o setor à competição], ninguém é louco”, disse Mello. “Mas, perdão, a gente vai ter que trocar o pneu com carro andando porque a pressão que se coloca também faz o carro andar”, afirmou.

Schiemer e Mello, ao lado de outros especialis­tas, debatiam relatório do Banco Mundial sobre políticas para a indústria automotiva.

O documento sugere eliminação gradual do tratamento tributário diferencia­do dado a veículos produzidos no Brasil —pilar do Inovar-Auto (atual programa de incentivos às montadoras) — e foco nas exportaçõe­s.

Schiemer defendeu a indústria ao dizer que não seria possível alterar as regras do jogo enquanto ele se desenrola. O Brasil, disse, precisa entrar no “mundo liberal”, mas isso precisaria ser feito com estabilida­de.

Mello alertou: há um ‘trade-off’ entre estabilida­de e “más políticas” e será preciso, afirmou ele, encontrar um meio-termo para isso.

A Mercedes-Benz do Brasil foi uma das primeiras a receber benefícios estipulado­s na década de 1950. Desde então fabrica caminhões na região do ABC (Grande São Paulo).

Nos anos 1990, nova rodada de estímulos à produção local fez a empresa se instalar em Juiz de Fora (MG) para produzir um dos maiores fracassos da indústria automotiva, o compacto Classe A.

Hoje, a Mercedes ainda paga pelos prejuízos da fábrica mineira (que produz caminhões) e trabalha para tornar rentável a fábrica de Iracemápol­is (interior de São Paulo).

Essa última unidade fabril veio na onda de incentivos do Inovar-Auto — e baseada em um mercado que apontava 4 milhões de veículos emplacados por ano.

Com menos proteção à produção local, a Mercedes teria de arcar com os custos altos de fabricar no país e ainda concorrer com importados isentos de tarifas extras.

No país de origem da empresa, a história é outra. A Alemanha está entre os três maiores exportador­es do mundo e entre as economias mais complexas do planeta.

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Fabio Braga - 16.jun.15/Folhapress O presidente da Mercedes do Brasil, Philipp Schiemer

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