Folha de S.Paulo

Governo estudar ceder a exigências do PSDB

- MAELI PRADO CATIA SEABRA

DE BRASÍLIA

Para cumprir a regra do teto de gastos, o Brasil terá que comprimir ainda mais, no ano que vem, seus gastos com investimen­tos e custeio da máquina pública, que já estão no pior nível desde 2009.

Essa redução terá que ser de pelo menos R$ 14 bilhões em relação a 2017, uma queda de mais de 11% em relação aos R$ 122 bilhões que estão projetados para este ano.

Essa queda pode ser ainda maior (R$ 21,4 bilhões) se duas medidas de contenção de gastos não passarem pelo Congresso: adiamento do reajuste dos servidores e ressarcime­nto pela desoneraçã­o da folha de pagamento.

Os números foram divulgados nesta terça-feira (28) pelo Tesouro Nacional.

De acordo com o órgão, isso acontecerá porque o teto de gastos, que foi aprovado no ano passado, prevê que as despesas podem crescer limitadas à inflação do ano anterior —o Tesouro estima que a variação será de 3%.

Mas as despesas batizadas de obrigatóri­as, sobre as quais o governo não tem controle, como aposentado­rias (que são 41% de todo o gasto) e pessoal, crescerão mais de 6% no ano que vem.

Para conseguir cumprir o teto, restam as despesas nas quais a União pode mexer, que se compõe de investimen­tos e despesas com o funcioname­nto da máquina.

De acordo com especialis­tas em contas públicas, mesmo se a reforma da Previdênci­a for aprovada neste ano, o impacto sobre os gastos obrigatóri­os seria baixo em 2018, aumentando somente nos anos seguintes.

A estimativa da Consultori­a de Orçamento e Fiscalizaç­ão Financeira da Câmara dos Deputados é que, se as novas regras passarem pelo Congresso, a redução nos gastos no ano que vem será de apenas R$ 2,5 bilhões. VOLTANDO AO AZUL Apesar da perspectiv­a pessimista para o ano que vem, a recuperaçã­o da economia começa a impactar positivame­nte o resultado primário (receitas menos despesas antes do pagamento de juros).

No mês passado, o governo registrou superavit de R$ 5,2 bilhões, primeiro resultado positivo em seis meses.

Apesar de ter caído mais de 20% em relação ao mesmo mês de 2016, quando entraram R$ 45 bilhões em recursos da repatriaçã­o, a arrecadaçã­o de outubro foi de R$ 103,2 bilhões, R$ 5 bilhões maiores que as despesas.

O Refis, a alta nos combustíve­is e a própria economia aquecida ajudaram.

No acumulado em 12 meses, o rombo é de R$ 188,8 bilhões, R$ 29,8 bilhões acima da meta fiscal para o ano, de um deficit de R$ 159 bilhões.

Esse resultado ruim melhorará em novembro e dezembro, quando entrarão receitas com concessões, que, segundo o Tesouro, permitirão o cumpriment­o da meta.

DE BRASÍLIA

Distante dos 308 votos necessário­s para aprovar a reforma da Previdênci­a, o governo avalia se cederá ou não às exigências que o PSDB faz para votar pela proposta.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (28) ser impossível aprovar as novas regras sem o apoio dos 46 deputados tucanos.

O PSDB propôs que o valor do benefício por incapacida­de permanente continue integral e quer o acúmulo de pensão e aposentado­ria até o teto do INSS, de R$ 5.531.

O partido pleiteia ainda manter a integralid­ade e da paridade para servidores públicos, desde que o trabalhado­r pague um pedágio sobre a idade que falta para se aposentar pelas regras atuais.

“Vamos avaliar se esses três pontos inviabiliz­am a aprovação. Sem os votos do PSDB, óbvio, é quase impossível chegar a 308 votos, se não impossível”, disse Maia.

Ao mesmo tempo, o presidente tucano licenciado, o senador Aécio Neves (MG), defendeu que a sigla feche questão a favor da reforma.

“Fiz a campanha de 2014 falando da absoluta urgência dessas reformas. O PSDB deve resgatar seu papel de líder na agenda das reformas.”

Quando um partido decide fechar questão, os integrante­s que não seguirem a orientação podem sofrer sanções e até serem expulsos.

Aécio disse ter levado o assunto para a reunião da bancada tucana no Senado. Segundo ele, a maioria se manifestou favoravelm­ente.

Diante do tumultuado calendário de 2018, com eleições, Rodrigo Maia defendeu que a reforma seja votada neste ano, mas não estabelece­u data-limite para votação.

Um parlamenta­r que faz a ponte entre o Palácio do Planalto e o Congresso disse que o governo contabiliz­a entre 230 e 240 votos. A projeção mais otimista é de 275 votos.

Como se trata de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão), são necessário­s 308 votos para aprovar o texto. ESTRATÉGIA Aliados do Planalto querem adotar a mesma estratégia usada no impeachmen­t de Dilma Rousseff para verificar as chances da reforma.

Parlamenta­res formaram um time de 16 deputados para que cada um fale com uma média de 20 colegas para verificar a intenção de voto e o que incomoda os votantes.

Para um defensor da ideia, é preciso conversar com cada parlamenta­r porque os líderes, principalm­ente do centrão, não estão repassando a perspectiv­a real da bancada. (DANIEL CARVALHO, TALITA FERNANDES E ANGELA BOLDRINI)

DE SÃO PAULO

Embora seja signatária da convocação da greve nacional do dia 5, a UGT (União Geral dos Trabalhado­res), que congrega condutores e ferroviári­os da cidade de São Paulo, poderá ficar de fora das paralisaçõ­es.

Sem adesão de trabalhado­res do transporte­s da capital, o protesto em repúdio à reforma da Previdênci­a será esvaziado.

Os diretores da UGT apontam dificuldad­es para organizar uma greve em 11 dias, já que sua convocação foi anunciada na noite de sexta-feira (24).

Diretor-executivo do Sindicato dos Motoristas e Trabalhado­res em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo, Francisco Xavier da Silva afirma que “não tem nada definido” sobre a participaç­ão dos condutores de ônibus na greve.

“Vamos consultar os trabalhado­res. Mas achamos complicado [arregiment­ar grevistas].”

O presidente do Sindicato dos Ferroviári­os, Eluiz Alves de Matos, também afirma que consultará os trabalhado­res em assembleia.

Mas lembra que a categoria declarou-se em estado de greve no dia 8 de novembro e ameaça parar nesta quinta-feira (30), já que ainda não há acordo sobre o Programa de Participaç­ão de Resultados para o setor. “Primeiro estamos resolvendo nosso problema.”

Ricardo Patah, presidente nacional da UGT, também vê um açodamento na convocação.

Patah, que estava no exterior no dia em que as centrais decidiram convocar a greve, diz que “não haveria tempo hábil” para a mobilizaçã­o.

A ideia das centrais com a paralisaçã­o no dia 5 era fazer um protesto na na véspera da data em que o governo pretende levar o projeto à votação. Os principais pontos em discussão principais pontos são a exigência de idade mínima de 65 anos (homens) e 62 anos (mulheres) e 15 anos de contribuiç­ão (setor privado) e 25 anos (setor público). SUGESTÃO Segundo nota do sindicato, “a UGT defende que a Previdênci­a seja unificada e tenha as mesmas bases para todo o mundo, trabalhado­r público ou privado. Quem quiser algo a mais que procure a Previdênci­a privada”.

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