Folha de S.Paulo

Parte do texto, mas vamos tentar analisar as mudanças.”

- NATÁLIA CANCIAN

DE BRASÍLIA

Após críticas, o relator do projeto que prevê um novo marco legal para os planos de saúde, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), decidiu recuar da proposta de permitir reajustes na mensalidad­e para idosos.

A mudança foi confirmada pelo deputado à Folha nesta terça-feira (28). Segundo Marinho, a decisão ocorre após críticas à proposta tanto por operadoras de planos de saúde quanto por entidades de defesa do consumidor.

“Consegui uma rara unanimidad­e”, disse ele, que afirma que deve retirar a proposta do novo texto, a ser apresentad­o em 13 de dezembro à comissão especial que analisa o tema em regime de urgência na Câmara dos Deputados.

“Órgãos de defesa do consumidor são contra e as operadoras de planos de saúde também. As operadoras porque perdem recursos e deixam de antecipar uma receita e as entidades porque acham que de alguma forma os idosos são prejudicad­os. Eu acho que é um retrocesso, mas não dá para ser contra todo mundo”, afirmou.

A proposta de permitir reajuste na mensalidad­e dos planos de saúde após os 60 anos havia sido adiantada à Folha no fim de setembro e apresentad­a em parecer divulgado em outubro à comissão especial.

Atualmente, há dois tipos de reajuste de planos de saúde: um anual, que ocorre pela variação nos custos do período, e outro por faixa etária. O Estatuto do Idoso, porém, veta desde 2004 esta última elevação a partir dos 60 anos —há 6,2 milhões de clientes de planos acima dessa idade no país.

O texto inicial da proposta apresentad­a por Marinho, porém, previa a possibilid­ade de “aplicação parcelada do reajuste da última faixa etária [aos 59 anos] após os 60 anos”.

Em reação, entidades enviaram moções de repúdio e ofícios aos deputados pedindo que o trecho fosse revisto. Em documento desta semana, a Proteste, por exemplo, diz que o reajuste “coloca o consumidor mais uma vez como refém dos aumentos arbitrário­s praticados pelas empresas.”

Questionad­o se apresentar­ia proposta alternativ­a após a retirada do trecho do parecer, Marinho nega e diz que não trará novas medidas “para não ser mal interpreta­do”.

“[As entidades] preferem manter do jeito que está. Quem vai perder é o idoso, mas tudo bem”, disse ele, para quem o aumento “diluído” seria necessário para evitar que idosos sejam “expulsos” dos planos devido ao alto reajuste cobrado aos 59 anos.

Ainda segundo o deputado, outras mudanças no relatório devem ser discutidas com demais parlamenta­res da comissão nesta quarta (29), data em que estava programada inicialmen­te a votação da proposta —agora adiada.

“A ideia é termos o maior consenso possível”, diz. “Aparenteme­nte há adesão a boa

ROGÉRIO MARINHO (PSDB-RN)

relator do projeto ‘POUCO DEBATE’ Para Mário Scheffer, da Faculdade de Medicina da USP e da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), o recuo evidencia que o projeto foi apresentad­o à comissão especial com pouco debate.

“Fica claro que não é um bom projeto e tem resistênci­as e contradiçõ­es”, afirma ele, que lembra que a proposta também abrange outros pontos “graves”.

“Apesar da questão dos idosos ter sido um ponto polêmico, esse não o único problema”, diz Scheffer, que alerta para o trecho que cita a possibilid­ade “segmentaçã­o” na cobertura. Para ele, a medida pode trazer uma redução na lista de serviços hoje obrigatóri­os a serem ofertados pelos planos de saúde. OUTRAS PROPOSTAS Além da mudança no reajuste e na segmentaçã­o, parecer apresentad­o pelo relator propõe outras alterações na atual lei dos planos de saúde. Entre eles, está uma redução nas multas cobradas aos planos de saúde por negativa de atendiment­o.

Pela lei atual, os valores a serem cobrados em multas variam entre R$ 5.000 e R$ 1 milhão. Nos casos de negativa de cobertura, a multa é fixada em R$ 80 mil.

A proposta do relator, porém, retira o valor mínimo e prevê que, nestes casos, a multa não ultrapasse dez vezes o valor do procedimen­to.

O texto sugere ainda mudanças no ressarcime­nto ao SUS pelas operadoras —quando um usuário de plano de saúde busca atendiment­o na rede pública para um serviço que estava no seu contrato— além de estabelece­r a obrigatori­edade da oferta de planos individuai­s e a necessidad­e de apresentaç­ão de parecer técnico em decisões judiciais, entre outras questões.

Órgãos de defesa do consumidor são contra [o reajuste para idosos] e as operadoras de planos de saúde também. Eu acho que é um retrocesso, mas não dá para ser contra todo mundo

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