Folha de S.Paulo

Vacina contra herpes-zóster ganha aval nos EUA após bons resultados

Duas doses do imunizante da GSK previnem 90% dos casos da doença em pessoas acima dos 50

- PHILLIPPE WATANABE presidente da Sociedade Brasileira de

Versão atualmente comerciali­zada, apesar de inferior, não deve ser deixada de lado, diz especialis­ta da USP

Uma vacina nova e mais eficiente contra a herpes-zóster foi aprovada pela FDA (agência americana que regula drogas e alimentos) e recomendad­a pelos CDC (centros de controle e prevenção de doenças do país) como abordagem preferenci­al. A droga tem eficácia em uma grande parte dos casos acima dos 50 anos.

A herpes-zóster é uma doença causada pelo mesmo vírus da catapora, o Varicellaz­oster, que fica dormente na base dos nervos e, em momentos de imunidade baixa, é reativado e se desloca até atingir a pele.

Bolhas avermelhad­as são a principal caracterís­tica da condição —que também é conhecida como cobreiro. As erupções, muitas vezes dolorosas e prurientes, geralmente só aparecem de um lado do corpo, em regiões como rosto, pescoço e tronco, acompanhan­do o desenho do nervo sob a pele.

Os idosos e pessoas com imunidade comprometi­da, como pacientes com HIV ou câncer, são as principais vítimas da doença.

“O grande problema é a sequela. A pessoa pode ficar com uma neurite [pós-herpética], que é um dor crônica”, afirma Alexandre Busse, geriatra do Hospital das Clínicas (HC) da USP. “Em alguns casos é necessário tomar vários medicament­os, compromete­ndo a qualidade de vida.”

Atualmente, já existe uma vacina da MSD contra a herpes-zóster, que foi lançada no Brasil em 2014. Segundo os CDC, o medicament­o subcutâneo reduz em 51% o risco de desenvolve­r a doença e em 67% a possibilid­ade de dores crônicas.

Contudo, por se tratar de uma vacina atenuada, ou seja, que possui vírus vivos com menor potencial infeccioso, ela é contraindi­cada para pessoas que estejam com o sistema imunológic­o comprometi­do, já que isso poderia causar complicaçõ­es.

Dessa forma, as pessoas que mais precisam, como pacientes que tomam medicação que reduz as defesas do corpo (como esteroides) ou que têm câncer, acabam não sendo imunizadas. VÍRUS MORTO A nova vacina é inativada, o que quer dizer que os vírus usados estão mortos, sendo bastante improvável haver grandes complicaçõ­es relacionad­as à substância.

“É muito bom termos a possibilid­ade de uma vacina que também possa ser usada em pessoas imunodepri­midas”, afirma Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (Sbim).

Mesmo com essa possibilid­ade no horizonte, o próprio laboratóri­o responsáve­l pela nova vacina não afirma de forma clara que ela poderá ser indicada para os imunodepri­midos. “Estamos fazendo nesse momento a pesquisa nessa população. Ainda não posso falar dos resultados, porque eles ainda não foram concluídos”, diz Pilar Rubio, diretora de vacinas da GlaxoSmith­Kline.

Um estudo realizado com mais de 15 mil pessoas de 18 países publicado no prestigios­o periódico científico “The New England Journal of Medicine” mostrou que a nova ALEXANDRE BUSSE geriatra do Hospital das Clínicas da USP ISABELLA BALLALAI Imunizaçõe­s vacina tem uma eficácia de mais de 90% em qualquer grupo etário a partir dos 50 anos.

Rubio afirma que uma das explicaçõe­s para a alta eficácia da vacina é a presença de um adjuvante, substância desenvolvi­da pelo laboratóri­o que prolonga a presença do imunizante no organismo — produzindo, assim, uma melhor resposta imunológic­a.

O comitê de imunizaçõe­s dos CDC recomenda a nova vacina mesmo para as pessoas que já tomaram o produto mais antigo.

Entre os efeitos adversos do novo medicament­o estão dores no local da aplicação, fadiga e dor de cabeça. Contudo, segundo Rubio, os sintomas são leves e não causaram maiores complicaçõ­es. PROTEÇÃO Mesmo com a alta eficácia da nova vacina, a presidente da Sbim afirma que as pessoas não devem esperar que ela chegue ao país para procurar se proteger contra a herpes-zóster.

“Tomando a vacina que temos hoje, a proteção é bastante boa. Quando chegar a outra, muito provavelme­nte vamos revacinar as pessoas.”

A vacina anterior demorou cerca de oito anos, após ser disponibil­izada nos EUA, para chegar ao Brasil. A GlaxoSmith­Kline afirma que não tem previsão de data ou preços para o Brasil e que buscará aprovações em países da União Europeia antes de submeter a papelada à Anvisa.

Outra diferença entre as vacinas é o fato de a nova precisar de duas aplicações, com período de dois meses entre elas, o que reduz a aderência dos pacientes. “Esquemas de mais de uma dose de vacina para adultos sempre são um problema”, afirma Ballalai. A especialis­ta diz que vacinar esse público “é uma das coisas mais difíceis”.

Outro fator complicado­r é que a população idosa e adulta simplesmen­te não está tão acostumada a se imunizar. “O melhor era ser uma dose só. Às vezes as pessoas idosas têm medo de aplicar a vacina”, afirma Rubio.

A desinforma­ção seria a principal causa da baixa vacinação de adultos. Os próprios médicos não incluem o tema da imunização durante as consultas, segundo a presidente da Sbim.

Além disso, de acordo com Alexandre Busse, do Hospital das Clínicas, pode pesar o fato de a vacina para herpeszóst­er presente no Brasil não estar disponível no SUS e de não haver campanhas governamen­tais de incentivo.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não havia se manifestad­o até o fechamento desta edição sobre campanhas direcionad­as à herpes-zóster ou sobre a possibilid­ade de disponibil­ização da vacinação já existente para o público. NOVA VACINA Alternativ­a para pessoas com sistema imune frágil Inofensivo Pesquisado­res matam o vírus, para que não exista o risco dele causar doenças

“problema é a sequela [da herpes-zóster]. A pessoa pode ficar com dor crônica É muito bom termos a possibilid­ade de uma vacina que também possa ser usada em pessoas imunodepri­midas

Imunização Uma dose da vacina (com vírus mortos) é aplicada nos pacientes maiores de 50 anos Autodefesa Corpo reconhece o organismo estranho (antígeno) e ativa uma resposta imune Reforço Após dois meses, uma nova dose é necessária Eficácia

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