Grêmio garimpa refugos e joga por ápice na América
Time disputa decisão com jogadores que não serviam para outros clubes
Após vencer em casa por 1 a 0 na partida de ida, equipe gaúcha precisa de um empate para ficar com a taça
Edilson cruza a bola para a área e encontra Jael, que a desvia de cabeça para Cícero finalizar e fazer o gol na vitória por 1 a 0 do Grêmio sobre o Lanús, no primeiro jogo da decisão da Libertadores.
O lance mostra bem o que é a equipe de Renato Gaúcho, que nesta quarta (29), às 21h45 (de Brasília), precisa de ao menos um empate contra o Lanús, na Argentina, para conquistar o título do torneio. Se for derrotado por 1 a 0, haverá prorrogação e, se necessário, disputa de pênaltis.
Trata-se de um time formado por vários jogadores que foram desprezados por outros clubes do futebol brasileiro.
Dos 11 atletas titulares do Grêmio, 5 foram preteridos por outras equipes. O número aumenta se considerarmos os que estão na reserva.
Só o sistema defensivo gremista tem três atletas que passaram por essa situação.
O principal deles é o lateral esquerdo Cortez, 30, que perdeu espaço no São Paulo em 2013 e acabou emprestado para Benfica, Criciúma e Albirex Niigata, do Japão.
O lateral Edilson, 31, e o zagueiro Geromel, 32, viveram histórias semelhantes. O primeiro amargou a reserva do Corinthians por quase duas temporadas e o segundo chegou ao clube gaúcho como um desconhecido, ficou em baixa após marcar um gol contra e hoje é ídolo da torcida.
Os atacantes Fernandinho, 32, e Barrios, 33, completam o grupo dos ex-rejeitados. O ex-são-paulino está no Grêmio desde 2014. Foi emprestado ao Verona e ao Flamengo. Só ganhou a posição após a negociação de Pedro Rocha no início de setembro.
Já o argentino naturalizado paraguaio era reserva do Palmeiras em 2016. Com pouquíssimas chances de ser aproveitado neste ano devido ao investimento do clube paulista em contratações para o setor ofensivo, aceitou reduzir seu salário pela metade para jogar pelo Grêmio.
“Não vejo como jogadores rejeitados, mas sim atletas que estavam subaproveitados em seus clubes. A torcida ficou cética com algumas contratações, mas os jogadores encaixaram no time e estão rendendo mais do que o esperado”, disse Odorico Roman, vice-presidente de futebol do clube gaúcho.
“Quando precisamos de algum reforço, recorremos ao nosso CDD (Centro Digital de Dados), que tem as características dos atletas que podem ser úteis para o nosso estilo e que encaixam no nosso perfil financeiro”, afirmou.
Foi através do CDD que o clube contratou o volante Cristian, 34, e o meio-campista Cícero, 33, que estavam encostados no Corinthians e no São Paulo, respectivamente.
O primeiro ainda não havia atuado na temporada e chegou no início de setembro para a disputa do Brasileiro e da Libertadores, enquanto o segundo estava afastado e só chegou para disputar o torneio sul-americano.
Na opinião de Odorico, o treinador Renato Gáucho tem um papel fundamental na recuperação dos jogadores. Foi ele quem indicou as contratações do lateral direito Léo Moura, 39, do atacante Jael, 29, e de Cortez.
Nos últimos dois anos, Moura defendeu o americano Fort Lauderdale Strikers, o indiano FC Goa, o Metropolitano-SC e participou do rebaixamento do Santa Cruz da Série A para a Série B.
Jael estava sem clube desde junho, quando foi dispensado pelo Joinville, que disputou a Série C neste ano.
“O clube contratou jogadores que muita gente nem acreditava mais, como nos casos do Léo Moura e do Cortez, que estão nos ajudando muito. Todo jogador que chega no Grêmio tem o meu aval. Eu indiquei esses jogadores para a diretoria no período de férias. Muita gente da imprensa e da torcida foi contra. É preciso saber conversar com os jogadores para eles renderem”, disse Renato Gaúcho.
A receita aplicada nesta temporada já fez sucesso. Em 1995, o Grêmio conquistou o bicampeonato da Libertadores com jogadores rejeitados. A dupla de ataque foi formada por Paulo Nunes e Jardel. O primeiro veio do Flamengo junto com Magno, que era o principal reforço, enquanto o segundo estava em negociação com o XV de Piracicaba.
Na época, três jogadores da base eram titulares: Danrlei, Roger e Carlos Miguel. Desta vez, são quatro: o goleiro Marcelo Grohe, os volantes Jailson e Arthur e o atacante Luan, principal estrela. NA TV Lanús x Grêmio Globo, Fox Sports e SporTV
DO ENVIADO A LANÚS
Um homem desenhado em um muro com uma corrente na mão e a frase “En el sur mando yo” (“No sul mando eu”, em espanhol). É com essa provocação aos torcedores do Banfield, rival do Lanús, que a torcida do Grêmio será recebida no estádio La Fortaleza, palco do jogo de volta da final da Copa Libertadores.
O muro fica em uma rua estreita com casas simples dos dois lados, algo comum ao redor do campo do time granate, e por onde cerca de 5.000 torcedores gremistas passarão para chegar ao estádio La Fortaleza.
Apesar de torcedores descartarem brigas e confusões, um clima hostil já foi criado pelos incidentes no jogo de ida, em Porto Alegre. Um ônibus e um carro com argentinos foram apedrejados nas proximidades da Arena do Grêmio e parte dos 4.000 fãs do time visitante entraram no estádio após a metade do primeiro tempo.
“Fomos muito mal tratados em Porto Alegre. Eles podem vir tranquilos porque o Lanús é uma família, é um clube humilde, de bairro. Estamos preocupados apenas dentro de campo”, diz o torcedor Cristian Leandro, 22, que foi ao jogo em Porto Alegre.
“A polícia brasileira também nos recebeu muito mal. O presidente [Nicolás Russo] pediu que a torcida se comporte e é isso que vai acontecer”, afirma o torcedor Sebastian Bono, 33.
O jogo é classificado pelas autoridades argentinas como de “risco médio”, em razão das queixas dos torcedores do Lanús pelo tratamento que receberam em Porto Alegre.
A preocupação principal é com os barra bravas, como são chamados os torcedores organizados no país.
Diego Goncebate, chefe da torcida organiada La 14 —o número é uma referência ao à loteria argentina e representa um bêbado—, tem histórico de brigas internas e confrontos com torcedores do rival Banfield.
“Sempre existe uma rivalidade entre argentinos e brasileiros. Estamos trabalhando para dar toda a segurança aos torcedores”, disse Guilhermo Madero, Diretor Nacional de Segurança em Eventos de Futebol na Argentina. (LC)