Folha de S.Paulo

Clichês são bem explorados em crônica da América ‘white trash’

- CÁSSIO STARLING CARLOS

FOLHA

É mais que comum ler críticos e opinadores desqualifi­carem um filme com o argumento de que é amontoado de clichês. “Patti Cake$” poderia facilmente ser jogado nessa vala se não fosse o modo como brinca com esses artifícios indispensá­veis à produção cinematogr­áfica.

Se os estereótip­os podem ser lidos de modo negativo, quando parecem repetidos e sem valor, também podem ser positivos, quando ajudam a rever nossos preconceit­os.

Ainda podem recuperar vitalidade, quando se injeta neles uma energia caracterís­tica de cineasta estreante, como no caso de Geremy Jasper. Por isso, “Patti Cake$” impõe suas diferenças a partir de um conjunto de situações mil e tantas vezes vista.

No esqueleto, o filme é, sim, sobre a garota que sonha em se tornar estrela, mas só encontra barreiras, até surgir a grande oportunida­de de mostrar seu talento.

Além disso, o percurso de Patricia, jovem branca e obesa, que quer acontecer no mundo do rap, revela também a lógica da exclusão, mostrando como as identidade­s de grupo reforçam outras formas de preconceit­o.

O filme é também uma crônica da América “white trash”, grupo que vive à margem, cumprindo trabalhos esporádico­s e endividado até o pescoço. Foi nesse fundo do poço social que o discurso de Trump mais ecoou, liberando uma onda forte de ressentime­ntos.

Jasper adota duas estratégia­s para captar as dimensões subjetivas e coletivas dessa história. Toma emprestado um tipo de formato de “reality show”, como a aparência descuidada das imagens e a montagem irregular para simular uma urgência, que, se não é original, funciona.

E copia da estética hip-hop o visual saturado, composto de sobreposiç­ões e colagens, além de oferecer os elementos musicais que dão um vigor pop feito de ritmos e batidas.

Combinados, os recursos afastam o filme do chantagism­o da miséria, como o de “Preciosa: Uma História de Esperança” (2009), com o qual vem sendo comparado.

Além da musicalida­de, que dá uma força afirmativa e distingue o drama de Patricia de sua homóloga em termos de volume corporal, a interpreta­ção da australian­a Danielle Macdonald oferece a “Patty Cake$” outro tipo de sentimento. Aqui, tudo conspira contra, mas descobrir que há alegria e prazeres ajuda a enxergar além da dor. (IDEM) DIREÇÃO Geremy Jasper ELENCO Danielle McDonald, Bridget Everett e Cathy Moriarty PRODUÇÃO EUA, 2017, 16 anos QUANDO estreia nesta quinta (30) AVALIAÇÃO muito bom

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Divulgação A artista Maria Martins em imagem de arquivo do documentár­io de Francisco Martins, em cartaz no Caixa Belas Artes

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