Portugal abre nova Casa da Arquitetura
Centro de 5.000 m² em Matosinhos se destina à preservação de acervos de arquitetos e documentos de projetos
Instituição tem escopo internacional e terá coleção brasileira, com cerca de 90 projetos de diferentes épocas FOLHA,
Quando se pensa em arquitetura, o que vem à mente são as obras construídas. Já os desenhos, estudos dos projetos, maquetes e outros documentos —que revelam os bastidores e os processos de trabalho— ficam em geral esquecidos, tendo importância apenas para os próprios arquitetos ou pesquisadores da área.
A inauguração neste mês da nova sede da Casa da Arquitetura - Centro Português de Arquitetura, um espaço de 5.000 m² na cidade do Porto, inteiramente dedicado ao armazenamento, à conservação e à divulgação de acervos, é um importante passo na tentativa de alterar esse quadro.
“Pouca gente conhece, de fato, o trabalho do arquiteto. Nosso grande objetivo é envolver um público amplo nessa discussão”, diz o diretor da instituição, Nuno Sampaio.
Fundada em 2007, a entidade sem fins lucrativos sai de uma pequena casa para um edifício do século 19 recémreformado —ambos em Matosinhos (zona metropolitana do Porto), cidade natal de Álvaro Siza, principal arquiteto português vivo, e onde estão algumas célebres obras suas.
O prédio reúne duas áreas expositivas, uma de mil m² e outra de 200 m², um espaço de restauração e conservação de acervo com mais de 1.700 m², biblioteca, auditório, loja e áreas de convivência.
Para o crítico Guilherme Wisnik, a inauguração do espaço, que tem similares no Centro Canadense de Arquitetura (CCA) ou na Cité de L’Architeture, na França, “espelha o prestígio que a arquitetura tem hoje” em Portugal.
Com dois arquitetos vencedores do Pritzker (principal prêmio da categoria), Siza e Eduardo Souto Moura, além de nomes de grande destaque como Fernando Távora (19232005), Gonçalo Byrne e Carrilho da Graça, o país é um dos que têm maior relevância na produção contemporânea. COLEÇÃO BRASILEIRA Mas não é apenas a arquitetura portuguesa que ganha foco na Casa. O objetivo é ser um centro internacional, com acervo de variados países. A instituição já possui um pro- jeto de Paulo Mendes da Rocha e em breve aumentará a coleção brasileira.
Após a mostra inaugural do espaço, sobre a relação entre arquitetura e poder, seguida de outra com obras de cem portugueses produzidas no último quarto do século 20, será aberta em agosto de 2018 a exposição “Coleção Arquitetura Brasileira”.
A mostra é parte de um projeto de formação de acervo, com curadoria de Wisnik e Fernando Serapião.
O trabalho levará aos arquivos da casa cerca de 90 projetos de diferentes épocas e regiões do Brasil.
O conjunto terá de documentos originais de obras clássicas de Gregori Warchavchik, Lucio Costa, Rino Levi, Lelé e Niemeyer a trabalhos contemporâneos de Marcelo Suzuki, SIAA, Carla Juaçaba e Mapa BR, entre outros.
O arquivo todo da instituição será digitalizado e estará disponível online, o que Wisnik vê como importante passo no campo da pesquisa.
“A questão do acervo em arquitetura é uma coisa ainda pouco clara. Muitas vezes fica sob a guarda das famílias, o que é um problema, ou das bibliotecas universitárias que acabam não tendo a estrutura ideal, por mais que permitam o acesso público.”
E arremata: “Recebemos a abertura da Casa da Arquitetura com a esperança de que seja um tipo de espaço institucional cada vez mais comum no mundo. E no Brasil, claro, onde não existe nada parecido”.