Folha de S.Paulo

Publicaçõe­s literárias se unem para discutir ofício

Seminário Livros em Revista, da ‘Quatro Cinco Um’, começa nesta quarta

- MAURÍCIO MEIRELES

Editores debaterão a busca por novas vozes literárias, o papel da crítica e sua relação com o cenário político FOLHA

Revistas literárias, no Brasil, são algo que desafia a realidade. A olhar as condições do país, o cenário deveria ser um deserto. No entanto elas resistem e florescem por aí —criando um debate intelectua­l vigoroso, ao mesmo tempo que precisam viabilizar sua existência.

As principais publicaçõe­s nacionais do tipo se reúnem, nesta quarta (29) e quinta (30), para debater o ofício no seminário Livros em Revista. O evento tem curadoria da “Quatro Cinco Um”, fundada em maio pelos editores Paulo Werneck e Fernanda Diamant, e do Sesc-SP.

“Consideram­os esse evento o lançamento da revista. Entramos em um universo com muita gente boa, achamos bom conversar sobre temas em comum, tanto em questões intelectua­is como de negócios”, diz Werneck.

Juntos à “Quatro Cinco Um”, participam o “Suplemento Pernambuco” e a revista “Pessoa”, além dos decanos “Rascunho” e revista “Cult”. Também vêm para debater a “Granta Brasil-Portugal”, cuja primeira edição sai em maio de 2018, e a “Serrote”, de ensaios.

Os temas passam pelos dilemas que publicaçõe­s enfrentam hoje: o papel da crítica, a invisibili­dade de minorias no meio literário, os questionam­entos do cânone e a relação da crítica com a política.

“Há uma avalanche de banalizaçã­o das coisas, potenciali­zado pelas redes sociais, onde perdeu-se a noção de civilidade. Acho que veículos como o ‘Rascunho’ são um espaço mínimo de discussão de ideias num ritmo mais adequado. Temos que preservar uma lentidão que o mundo perdeu”, diz Rogério Pereira, editor do jornal.

Já Schneider Carpeggian­i, do “Suplemento Pernambuco”, acredita que o trabalho de um editor literário é promover uma investigaç­ão do presente. Nos últimos três anos, a publicação do Recife tem se dedicado a dar espaço a vozes diferentes, como autores negros e mulheres.

“A crise do país respingou na literatura e não temos como fugir disso. A literatura lida com a crise. Surgiram mais vozes, uma poesia mais engajada —e como editores temos a responsabi­lidade de mostrar a pluralidad­e”, diz ele, que avalia ainda que a crítica está em um momento “muito bom”, mas fora dos seus espaços tradiciona­is.

Daysi Bregantini, da “Cult”, fundada há 20 anos, é menos otimista. “Existimos em um sistema desconfort­ável.

SCHNEIDER CARPEGGIAN­I

editor do ‘Suplemento Pernambuco’ A distribuiç­ão de revistas no país é caótica. É dificílimo, não tem nenhum charme, eu faço por paixão intelectua­l, sem retorno financeiro. Revistas como a ‘Quatro Cinco Um’ surgirem não é prova de nenhum vigor desse ambiente, mostra paixão.”

Olhares de fora do Brasil também estarão representa­dos para contar sua experiênci­a. A editora portuguesa Bárbara Bulhosa, da Tinta da China, vem falar sobre seu trabalho com a “Granta” portuguesa, que em breve será convertida numa revista transconti­nental.

“A ‘Granta’ em Portugal é um sucesso e se paga. Queremos fazê-la ser lida aí”, diz.

Entre os convidados do seminário que vêm falar da realidade em outros países, estão Damián Tabarovsky, um dos principais críticos argentinos em atividade, o português Pedro Mexia e o francês Sébastien Lapaque, do jornal “Le Figaro”. QUANDO qua. (29) e qui. (30) ONDE Sesc Bom Retiro, al. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600 QUANTO de R$ 15 a R$ 50, nas unidades do Sesc ou no site www. sescsp.org.br Rogério Pereira (Jornal ‘Rascunho’) Daysi Bregantini (Revista ‘Cult’) Bárbara Bulhosa (‘Granta Brasil-Portugal’)

Coquetel das 22h às 23h Participan­tes:

Amara Moira (crítica literária) Joselia Aguiar (curadora da Flip) Cuti (escritor, poeta e dramaturgo)

“país vive respingou forte na literatura e não temos como fugir disso. A literatura lida com a crise. Surgiram mais vozes, uma poesia mais engajada — como editores temos a responsabi­lidade de mostrar a pluralidad­e

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