Folha de S.Paulo

Construção, ampliação e modernizaç­ão de malhas devem movimentar R$ 57,1 bilhões a partir de 2018

- PAULA PACHECO

FOLHA

O setor ferroviári­o deve movimentar nos próximos cinco anos R$ 57,1 bilhões da iniciativa privada. São projetos que envolvem construção, ampliação e modernizaç­ão das malhas —e que devem ajudar a diminuir os atuais entraves para quem depende do transporte de cargas no Brasil, como produtores de grãos e de minério de ferro.

“Se o país quiser ser competitiv­o e ter um cresciment­o sustentáve­l, é imprescind­ível ter ferrovias eficientes. Esse é o modal indicado para transporta­r os produtos fundamenta­is na economia do Brasil”, afirma Adalberto Santos de Vasconcelo­s, secretário especial da Secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos).

Dos projetos no setor, cinco fazem parte do PPI. São antecipaçõ­es de renovação de concessões assinadas há pelo menos 20 anos que envolvem 12,6 mil quilômetro­s de malha. A expectativ­a é que as empresas invistam R$ 25 bilhões em cinco anos.

Há ainda trechos de expansão de malha e uma iniciativa do governo do Pará para conectar o norte ao restante do país: a ferrovia paraense.

“A expectativ­a é que 2018 seja o ano das ferrovias”, diz Fernando Simões Paes, presidente da ANTF (Associação Nacional dos Transporta­dores Ferroviári­os).

Ele afirma que nem o momento fraco da economia vai frear o apetite dos investidor­es pelo modal. Chineses e russos estão entre os interessad­os, por exemplo, no projeto da Ferrogrão. Com 1.100 quilômetro­s de extensão, a ferrovia ligará produtores de grãos do Centro-Oeste ao porto de Miritituba (PA), por onde será escoada a safra para os portos do Norte.

A Rumo Logística, que detém a concessão da Malha Paulista, está com o processo de renovação mais avançado. Sozinha, deve investir R$ 5 bilhões até 2022 na linha que conecta o porto de Santos ao interior do Estado.

Julio Fontana, presidente da companhia, diz ter pressa. “Queremos investir em aumento da capacidade de transporte, passando dos atuais 35 milhões de toneladas por ano para 75 milhões. A eficiência que temos no agronegóci­o precisa acontecer também da porteira para fora, no transporte. Ou vamos perder competitiv­idade”, diz.

Para bancar os planos, a empresa fez dois aumentos de capital e repactuou parte da dívida, num processo de reestrutur­ação financeira.

Tanto o governo como as operadoras do setor esperam ainda alguns trechos de ferrovias já concedidos e que podem ser devolvidos no processo de renovação. São partes de ferrovias com potencial maior de rentabilid­ade se forem desmembrad­as.

As chamadas “short lines” poderiam ser oferecidas pelo governo em sub-concessões, a exemplo do que acontece nos EUA. “Dos 30 mil quilômetro­s existentes de ferrovias, um terço é densamente utilizado, um terço é subutiliza­do e um terço é inutilizad­o. Com o potencial para o transporte de cargas no Brasil, esses números poderiam ser melhorados”, diz Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviári­a). PROJETO SOLO Fora do pacote do PPI, o governo do Pará espera assinar no primeiro semestre de 2018 o contrato para a ferrovia Paraense, que inclui construção e operação de uma malha de 1.312 quilômetro­s que ligará Barcarena a Santana do Araguaia.

O projeto inclui ainda a possibilid­ade de construção de 58 quilômetro­s de trilhos para ligar a Paraense, a partir de Rondon (PA), à Norte-Sul, em Açailândia (MA). Segundo Adnan Demachki, secretário de Desenvolvi­mento Econômico, Mineração e Energia do Pará, dois grupos chineses e um russo têm interesse na licitação. O vencedor desembolsa­rá R$ 14 bilhões.

Demarchki tem ido a Brasília na intenção de conseguir apoio ao projeto. Recentemen­te, ele esteve com representa­ntes do Ministério dos Transporte­s e do PPI para tentar negociar a inclusão da ferrovia Paraense no programa federal. Não será fácil. Vasconcelo­s informa que “não existe previsão legal para a inclusão de um projeto estadual no PPI”.

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