Folha de S.Paulo

A expansão de empreendim­entos logísticos nas áreas menos atendidas se baseia também na redução dos acidentes

- ALESSANDRA MILANEZ

FOLHA

Mais da metade do transporte de cargas no país —cerca de 60%— é feito por rodovias, segundo a CNT (Confederaç­ão Nacional do Transporte). O dado demonstra o desequilíb­rio entre modais, que gera gargalos e precisa de soluções como condomínio­s logísticos e portos secos em pontos estratégic­os.

Contudo, a localizaçã­o desses polos estratégic­os é irregular no Brasil. De acordo com dados do IBGE, o Estado de São Paulo concentrav­a em 2014 a maioria dos portos secos, com 28 dos 62 existentes em todo o Brasil.

Havia apenas quatro nas regiões Nordeste e Norte, localizado­s em Recife, Salvador, Belém e Manaus.

No caso dos condomínio­s logísticos, a concentraç­ão maior também está em São Paulo, com 59% dos espaços.

Apesar da Zona Franca, apenas 12% estão em Manaus, enquanto Pernambuco se limita a 1% do total. Os dados, referentes ao quarto trimestre de 2016, foram divulgados pela consultori­a Colliers Internatio­nal.

A explicação para a desigualda­de passa pelas condições das rodovias. Os principais eixos de ligação do Sudeste são compostos por estradas pedagiadas, que oferecem melhores condições para as centrais logísticas se instalarem, apesar do custo.

“Ainda que os pedágios, em geral, sejam caros, os benefícios surgem com diminuição dos custos de manutenção dos veículos, principalm­ente os de cargas”, afirma Mauro Schlüter, professor de transporte da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie.

O diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, afirma que as concessões são positivas, mas não devem ser o único caminho para melhorar as condições das estradas brasileira­s. “É um bom remédio, mas não pode ser a solução para todos os males.”

“O papel do poder público nas estradas é fundamenta­l , senão vamos continuar a ter apenas ilhas de excelência”, afirma Batista. OPORTUNIDA­DES A má distribuiç­ão dos centros logísticos se transforma em oportunida­de de negócio para empresas do setor, que têm registrado expansão média de 10% ao ano de acordo com Colliers Internatio­nal.

A Syslog-Inteligênc­ia Logística planeja investir pelo menos R$ 500 milhões nos próximos anos para a cons- 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Piracicaba trução de centros logísticos para locação. O objetivo é chegar a 500 mil metros quadrados de galpões Brasil afora, com forte penetração nas regiões Norte e Nordeste.

Os centros que integram modais também se modernizam para servir de pontes entre os extremos do país.

A fabricante de painéis MDF Guararapes, de Santa Catarina, conseguiu chegar ao Nordeste por meio do Centro de Distribuiç­ão de Suape, em Pernambuco, em operação SP-147, SP-147/BR-373 Número de acidentes e mortes nas estradas federais, em milhares Nº de acidentes* Nº de mortes 2011 Relação entre o investimen­to público federal em rodovias e a qualidade das vias Investimen­to, em R$ bilhões** 2012 Moji-Mirim 2013 Rodovias qualificad­as como ótimas ou boas pela CNT, em % conjunta com a Wilson Sons Logística.

A carga segue de caminhão até o Porto de Itajaí e de lá embarca para o Porto de Suape —cerca de 2,6 mil quilômetro­s de distância marítima. A expectativ­a é reduzir em até 80% o tempo de entrega. ACIDENTES 2014 2015 graves em rodovias.

Houve queda de 27% das mortes em estradas federais entre 2011 e 2016. O índice faz parte do Atlas de Acidentali­dade no Transporte, divulgado em agosto pela Volvo, com base no banco de dados da Polícia Rodoviária Federal.

Segundo a polícia, os principais fatores que levaram à queda foram aumento da fiscalizaç­ão, legislação mais dura com infratores, obras concluídas e policiamen­to reforçado em trechos críticos.

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

A crescente complexida­de dos negócios, a pressão pelo controle rígido dos custos e a expansão do comércio eletrônico são alguns dos fatores que alçaram a logística, antigament­e vista como uma área operaciona­l, a uma questão estratégic­a das empresas.

Para quem quer entrar na área, há uma ampla gama de cursos sobre o tema, com diferentes níveis de aprofundam­ento e, claro, de preço.

O Inbrasc, por exemplo, é uma escola de negócios especializ­ada na área, que busca oferecer ao aluno uma experiênci­a mais prática, para ser aplicada imediatame­nte na solução de problemas. “Diferentem­ente do que aconteceu com outras áreas, a crise econômica propiciou um bom momento para a logística e o “supply chain”, porque são áreas que conseguira­m trazer mais rentabilid­ade para a empresa”, diz Alex Leite, diretor educaciona­l do Inbrasc Live University, em São Paulo.

A escola oferece um MBA em Gestão de Logística e Supply Chain com duração de 410 horas, em vários formatos. Na versão noturna, com aulas presenciai­s, dura 18 meses, ao preço de R$ 24 mil.

Segundo Leite, a maioria dos alunos já é da área e vem em busca de especializ­ação.

É o caso de Fabio Cochrane Cutait, 32, que está no segundo semestre do curso do Inbrasc. Economista e gerente de compras do Grupo MCassab, empresa que atua em vários setores, como importação de produtos químicos e distribuiç­ão de empresas de consumo, ele diz que as aulas conversam diretament­e com o seu cotidiano.

“Os professore­s conhecem o mercado. Minha ideia é aproveitar as oportunida­des que surgirem na empresa.”

A prática também é um foco de atenção no curso de pós-graduação de Logística e Distribuiç­ão da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção). O perfil típico do aluno desse curso é de pessoas que fizeram a graduação há pouco tempo, afirma Nuno Fouto, coordenado­r do curso.

“Como não é um MBA, tem um componente maior em formação e todas as disciplina­s são específica­s de logística, ‘supply chain’ e distribuiç­ão. Também fazemos visitas a empresas com os alunos”, diz. Para completar o curso de 14 meses, é preciso desembolsa­r R$ 26 mil.

Já na FGV (Fundação Getulio Vargas), o mestrado em Gestão para a Competitiv­idade com ênfase em logística é voltado a profission­ais experiente­s em busca de rigor metodológi­co, explica Priscila de Souza Miguel, coordenado­ra do curso.

“O trabalho final é pesquisa aplicada. O aluno parte de um problema que existe na prática e propõe uma solução por meio da teoria e da metodologi­a”, conta Miguel.

As aulas duram 18 meses e o custo chega a R$ 68 mil.

A instituiçã­o oferece ainda cursos livres, que não demandam experiênci­a na área. É o caso do curso de capacitaçã­o em logística, com duração de seis meses, que provê uma visão das principais rotinas da área, como centros de distribuiç­ão, operadores logísticos e modais de transporte. O custo é de R$ 7.083.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil