A expansão de empreendimentos logísticos nas áreas menos atendidas se baseia também na redução dos acidentes
FOLHA
Mais da metade do transporte de cargas no país —cerca de 60%— é feito por rodovias, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte). O dado demonstra o desequilíbrio entre modais, que gera gargalos e precisa de soluções como condomínios logísticos e portos secos em pontos estratégicos.
Contudo, a localização desses polos estratégicos é irregular no Brasil. De acordo com dados do IBGE, o Estado de São Paulo concentrava em 2014 a maioria dos portos secos, com 28 dos 62 existentes em todo o Brasil.
Havia apenas quatro nas regiões Nordeste e Norte, localizados em Recife, Salvador, Belém e Manaus.
No caso dos condomínios logísticos, a concentração maior também está em São Paulo, com 59% dos espaços.
Apesar da Zona Franca, apenas 12% estão em Manaus, enquanto Pernambuco se limita a 1% do total. Os dados, referentes ao quarto trimestre de 2016, foram divulgados pela consultoria Colliers International.
A explicação para a desigualdade passa pelas condições das rodovias. Os principais eixos de ligação do Sudeste são compostos por estradas pedagiadas, que oferecem melhores condições para as centrais logísticas se instalarem, apesar do custo.
“Ainda que os pedágios, em geral, sejam caros, os benefícios surgem com diminuição dos custos de manutenção dos veículos, principalmente os de cargas”, afirma Mauro Schlüter, professor de transporte da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, afirma que as concessões são positivas, mas não devem ser o único caminho para melhorar as condições das estradas brasileiras. “É um bom remédio, mas não pode ser a solução para todos os males.”
“O papel do poder público nas estradas é fundamental , senão vamos continuar a ter apenas ilhas de excelência”, afirma Batista. OPORTUNIDADES A má distribuição dos centros logísticos se transforma em oportunidade de negócio para empresas do setor, que têm registrado expansão média de 10% ao ano de acordo com Colliers International.
A Syslog-Inteligência Logística planeja investir pelo menos R$ 500 milhões nos próximos anos para a cons- 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Piracicaba trução de centros logísticos para locação. O objetivo é chegar a 500 mil metros quadrados de galpões Brasil afora, com forte penetração nas regiões Norte e Nordeste.
Os centros que integram modais também se modernizam para servir de pontes entre os extremos do país.
A fabricante de painéis MDF Guararapes, de Santa Catarina, conseguiu chegar ao Nordeste por meio do Centro de Distribuição de Suape, em Pernambuco, em operação SP-147, SP-147/BR-373 Número de acidentes e mortes nas estradas federais, em milhares Nº de acidentes* Nº de mortes 2011 Relação entre o investimento público federal em rodovias e a qualidade das vias Investimento, em R$ bilhões** 2012 Moji-Mirim 2013 Rodovias qualificadas como ótimas ou boas pela CNT, em % conjunta com a Wilson Sons Logística.
A carga segue de caminhão até o Porto de Itajaí e de lá embarca para o Porto de Suape —cerca de 2,6 mil quilômetros de distância marítima. A expectativa é reduzir em até 80% o tempo de entrega. ACIDENTES 2014 2015 graves em rodovias.
Houve queda de 27% das mortes em estradas federais entre 2011 e 2016. O índice faz parte do Atlas de Acidentalidade no Transporte, divulgado em agosto pela Volvo, com base no banco de dados da Polícia Rodoviária Federal.
Segundo a polícia, os principais fatores que levaram à queda foram aumento da fiscalização, legislação mais dura com infratores, obras concluídas e policiamento reforçado em trechos críticos.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A crescente complexidade dos negócios, a pressão pelo controle rígido dos custos e a expansão do comércio eletrônico são alguns dos fatores que alçaram a logística, antigamente vista como uma área operacional, a uma questão estratégica das empresas.
Para quem quer entrar na área, há uma ampla gama de cursos sobre o tema, com diferentes níveis de aprofundamento e, claro, de preço.
O Inbrasc, por exemplo, é uma escola de negócios especializada na área, que busca oferecer ao aluno uma experiência mais prática, para ser aplicada imediatamente na solução de problemas. “Diferentemente do que aconteceu com outras áreas, a crise econômica propiciou um bom momento para a logística e o “supply chain”, porque são áreas que conseguiram trazer mais rentabilidade para a empresa”, diz Alex Leite, diretor educacional do Inbrasc Live University, em São Paulo.
A escola oferece um MBA em Gestão de Logística e Supply Chain com duração de 410 horas, em vários formatos. Na versão noturna, com aulas presenciais, dura 18 meses, ao preço de R$ 24 mil.
Segundo Leite, a maioria dos alunos já é da área e vem em busca de especialização.
É o caso de Fabio Cochrane Cutait, 32, que está no segundo semestre do curso do Inbrasc. Economista e gerente de compras do Grupo MCassab, empresa que atua em vários setores, como importação de produtos químicos e distribuição de empresas de consumo, ele diz que as aulas conversam diretamente com o seu cotidiano.
“Os professores conhecem o mercado. Minha ideia é aproveitar as oportunidades que surgirem na empresa.”
A prática também é um foco de atenção no curso de pós-graduação de Logística e Distribuição da FIA (Fundação Instituto de Administração). O perfil típico do aluno desse curso é de pessoas que fizeram a graduação há pouco tempo, afirma Nuno Fouto, coordenador do curso.
“Como não é um MBA, tem um componente maior em formação e todas as disciplinas são específicas de logística, ‘supply chain’ e distribuição. Também fazemos visitas a empresas com os alunos”, diz. Para completar o curso de 14 meses, é preciso desembolsar R$ 26 mil.
Já na FGV (Fundação Getulio Vargas), o mestrado em Gestão para a Competitividade com ênfase em logística é voltado a profissionais experientes em busca de rigor metodológico, explica Priscila de Souza Miguel, coordenadora do curso.
“O trabalho final é pesquisa aplicada. O aluno parte de um problema que existe na prática e propõe uma solução por meio da teoria e da metodologia”, conta Miguel.
As aulas duram 18 meses e o custo chega a R$ 68 mil.
A instituição oferece ainda cursos livres, que não demandam experiência na área. É o caso do curso de capacitação em logística, com duração de seis meses, que provê uma visão das principais rotinas da área, como centros de distribuição, operadores logísticos e modais de transporte. O custo é de R$ 7.083.