Folha de S.Paulo

Cega e global

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Em meio a tantos reveses para a globalizaç­ão, o episódio de quarta (29) em Haia é lembretede­queaJustiç­amantémfir­meuma marcha que atravessa fronteiras.

Para quem não viu: Slobodan Praljak, comandante de forças bósnio-croatas que massacrara­m muçulmanos, matou-se com veneno após juízes do tribunal para a ex-Iugoslávia recusarem recurso contra a pena de 20 anos de prisão. A corte encerra sua missão no mês que vem. Por 24 anos, debruçou-se sobre 161 acusados e condenou 83, tendo como base a cidade holandesa que acolhe o Tribunal Penal Internacio­nal.

Haia é descendent­e de Nuremberg, tribunal estabeleci­do na mais nazista das cidades para julgar a cúpula alemã após a 2ª Guerra. Juízes americanos, ingleses, franceses e russos condenaram 19 pessoas. Também lá houve um suicídio durante o processo (Robert Ley, homem de Hitler para o mundo do trabalho).

Na sequência deNurember­gfuncionou o Tribunal de Tóquio, que cum- priu a mesma tarefa no Oriente. O sistema jurídico internacio­nal ganhou altura sobre o alicerce do pós-guerra.

Claro que não é uma obra sem percalços. EUA, China e Rússia não integram o TPI. Foi um juiz espanhol que colocou o ditador chileno Augusto Pinochet em apuros, mas ele morreu sem jamais ser condenado. Paulo Maluf e Marco Polo del Nero não se atrevem a viajar mundo afora, só que continuam circulando no Brasil.

Ainda assim, e por falar em Del Nero, a Fifa é exemplo da marcha da justiça. Não fosse a ação de órgãos dos EUA nos últimos anos, é possível que a entidade suíça e o futebol ainda tivessem a mesma cartolagem corrupta (o brasileiro José Maria Marín, agora julgado em NY, que o diga).

A própria Lava Jato deve muito a um fluxo sem precedente­s de informaçõe­s vindas do exterior. Quando mensaleiro­s e lavajateir­os pedem julgamento internacio­nal, estão só jogando para a torcida, pois nada indica que o resultado seria outro. roberto.dias@grupofolha.com.br

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