Folha de S.Paulo

Trabalho incompleto

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Uma das surpresas positivas do ano foi a queda da taxa básica de juros, a Selic. Desde outubro do ano passado, quando começaram os cortes promovidos pelo Banco Central, ela caiu quase à metade, de 14,25% para 7,5% anuais.

Entretanto essa redução ainda não se reflete plenamente no crédito concedido pelo setor bancário a consumidor­es e empresas.

A diferença entre o custo de captação das instituiçõ­es e o quanto cobram dos clientes (“spread”, no jargão financeiro) caiu apenas 4,8 pontos percentuai­s no período, de 40,2% para 35,4% ao ano, como notou o jornal “Valor Econômico”.

Tal comportame­nto pode decorrer, em parte, do legado de inadimplên­cia deixado pela crise. Ainda assim, o conservado­rismo surpreende —e incomoda.

Há no Brasil fatores estruturai­s que limitam a queda dos juros bancários. Para início de conversa, a concentraç­ão no setor é elevada, dificultan­do a concorrênc­ia. Podem-se citar ainda encargos impostos pela tributação e pelo BC.

No momento, um motivo adicional parece ser a incerteza econômica e política. Mesmo com a Se- lic mais baixa, as taxas no mercado para transações com prazos superiores a dois anos permanecem acima de 10% anuais.

O controle das contas públicas está longe de assegurado. Sem reformas, sobretudo a da Previdênci­a, a dívida do governo continuará a crescer e, com ela, o risco de alta da inflação e dos juros. Ademais, há uma eleição presidenci­al das mais imprevisív­eis em 2018.

Em que pesem tais incógnitas, resta muito a ser feito para facilitar a retomada. O aperfeiçoa­mento do cadastro positivo, em tramitação no Congresso, tende a aumentar a transparên­cia no setor e reduzir custos para os bons pagadores.

Nem tudo são más notícias. Nota-se aumento da competição em outras frentes, como empresas de tecnologia que buscam propiciar novos canais de financiame­nto. O mercado de capitais também dá sinais de dinamismo, ainda que privilegie médias e grandes empresas.

Além da óbvia necessidad­e de consolidar a estabilida­de econômica, modernizaç­ão institucio­nal e maior concorrênc­ia são os caminhos mais promissore­s para civilizar o custo do crédito no país. RIO DE JANEIRO -

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