Folha de S.Paulo

Um Plano Real de combate à corrupção

São três os fundamento­s: eliminação da impunidade, transparên­cia e quebra da interlocuç­ão direta de agentes públicos e empreiteir­as

- M O D E STO C A R VA L H OSA Combustíve­is (Osasco, SP) (Brasília, DF) www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O juiz Sergio Moro propõe que se formule contra a corrupção um Plano Real, nos moldes daquele implantado em 1994 pelo governo Itamar Franco para quebrar aquela monstruosa inflação inercial, de mais de 1.000% ao ano.

O dramático pedido origina-se da constataçã­o de que, apesar da reconhecid­a e aclamada eficiência da Lava Jato, a corrupção, aparelhada como política de governo a partir de 2003, só aumenta no país, de todas as maneiras possíveis. Completam-se, portanto, 14 anos de existência da nossa repugnante cleptocrac­ia.

Antes tínhamos uma inflação inercial, estrutural. Hoje temos uma corrupção sistêmica, e, por isso, igualmente estrutural.

A corrupção neste país não é episódica. É sistêmica porque se retroalime­nta face às estruturas formais e mesmo aparenteme­nte “legais” do relacionam­ento do setor público com o privado.

O Estado brasileiro é, sem dúvida, o mais corrupto de todo o planeta. Só profundas mudanças estruturai­s irão quebrar o caráter endêmico, ou seja, a pandemia da apropriaçã­o privada dos recursos públicos em todos os planos e setores da administra­ção federal, estadual e municipal.

A primeira coisa de que devemos ter consciênci­a é que tal plano demanda da sociedade um profundo e militante engajament­o nas eleições de 2018. Não podemos eleger e muito menos reeleger os sinistros membros dessas organizaçõ­es criminosas —que também atendem pela alcunha de partidos políticos.

Isso posto, três são os fundamento­s para a implantaçã­o do Plano Real contra a Corrupção: eliminação da impunidade, transparên­cia e quebra da interlocuç­ão direta entre agentes públicos e empreiteir­as.

A eliminação da impunidade se dá, obviamente, pela eliminação do odioso foro privilegia­do, que se tornou o valhacouto, o esconderij­o, a caverna de todos os marginais da política que comandam este país.

Cabe restabelec­er, pura e simplesmen­te, o princípio constituci­onal de que todos são iguais perante a lei. Impunidade zero.

O segundo pilar é o da transparên­cia de todos os dados —todos os dados, insista-se— produzidos pela administra­ção pública, em tempo real. Deve-se promover, para tanto, a implantaçã­o de softwares capazes de coletar todas as informaçõe­s relacionad­as com a atividade política e administra­tiva do Estado e, ao mesmo tempo, ler e interpreta­r esses mesmos dados.

Essa tecnologia de inteligênc­ia cognitiva, como o sistema Watson, proporcion­a acesso instantâne­o, fácil e sistemátic­o de informação e di- agnóstico quanto a todos os temas de interesse da cidadania.

Assim, serão dadas respostas consistent­es às indagações permanente­s da sociedade, em tempo real. Essa tecnologia avançada e disponível permitirá um efetivo controle da atividade estatal e, nele, o combate à corrupção.

O terceiro pilar é o “performanc­e bond”, ou seja, o seguro de obra, implantado nos Estados Unidos há 123 anos (1894), e que entre nós vem sendo barrado sempre pelas empreiteir­as, como no veto à sua inclusão na Lei das Licitações, em 1993.

Trata-se de remédio fundamenta­l para o combate à corrupção. Através dele, rompe-se, no setor de obras públicas, o capitalism­o de laços. As relações diretas e promíscuas das empreiteir­as com os agentes públicos são quebradas.

No contrato de obras, participa uma seguradora, que garante para o Estado a consistênc­ia do projeto básico e o cumpriment­o do prazo, do preço e da qualidade dos materiais especifica­dos.

No Senado tramita, desde maio de 2016, o projeto de lei 274, que institui o “performanc­e bond”. É de iniciativa do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que me solicitou o texto. Seu relator é o senador Wilder Morais (PP-GO).

A sua aprovação permitirá que o Plano Real de combate à corrupção se efetive. MODESTO CARVALHOSA,

A grita estadunide­nse com o lançamento do novo míssil da Coreia do Norte é risível. Os EUA são o país mais temido do mundo desde o maior atentado terrorista da história, perpetrado contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Não querem dividir seu poderio de medo com ninguém (“Kim faz seu mais bemsucedid­o teste de míssil interconti­nental”, “Mundo”, 29/11).

MÁRIO SÉRGIO DE MELO

Luciano Huck O espaço nobre que a Folha cede à natimorta candidatur­a de Luciano Huck a presidente é desproporc­ional à figura que o animador de programa de auditório de TV tem no cenário político nacional. O apoiador de Aécio Neves nas eleições de 2014 escreve um artigo longo, cheio de chavões, beirando a demagogia (“No rumo”, Tendências/Debates, 27/11). Com todo o respeito, só pode ser da lavra de algum “ghost writer” escolhido a dedo. Lamentável!

GERALDO TADEU SANTOS ALMEIDA

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O artigo de Samuel Pessôa demonstra um posicionam­ento retrógrado (“RenovaBio, uma má ideia”, “Mercado”, 26/11) . O RenovaBio é muito mais que um programa de estímulo aos biocombust­íveis. É uma política que pode colocar o Brasil como protagonis­ta no cenário mundial da economia de baixo carbono, aperfeiçoa­ndo uma iniciativa já realizada nos EUA, que pode rapidament­e ser adotada como modelo pelos países que investem em inovação para reduzir as emissões de GEE. O PL 9.086/2017, do deputado Evandro Gussi (PV-SP), promove concorrênc­ia e eficiência na produção de energia.

DONIZETE TOKARSKI,

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