Folha de S.Paulo

Temer pressiona PSDB a apressar saída do governo

Ministro Eliseu Padilha afirmou que os tucanos já ‘não estão mais’ na base

- GUSTAVO URIBE TALITA FERNANDES

Presidente se irritou com declaração de Alckmin prometendo desembarqu­e quando ele assumir o partido

O presidente Michel Temer decidiu se antecipar ao movimento do PSDB e passou a pressioná-lo publicamen­te a agilizar o seu desembarqu­e da Esplanada.

O porta-voz foi o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao declarar que o partido “não está mais na base de sustentaçã­o do governo”.

“O PSDB já disse que vai sair. Nós vamos fazer de tudo para manter a nossa base de governo e um projeto único de poder para 2018”, afirmou.

Segundo a Folha apurou, Temer se irritou com declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na terça-feira (28), de que o PSDB deixará o governo caso ele assuma a direção nacional do partido.

Temer e Alckmin têm reunião marcada para o sábado (2), quando devem discutir a saída definitiva dos tucanos.

Com a declaração de Padilha, o presidente também faz um aceno aos partidos do centrão, formado por partidos como PP, PTB e PR, que aspiram cargos no governo e são fundamenta­is para a aprovação da reforma da Previdênci­a.

A declaração de Padilha foi entendida dentro e fora Palácio do Planalto como um ensaio do rompimento público definitivo entre governo e PSDB. Integrante­s da base governista avaliam que é um gesto de risco, porque os tucanos são importante­s também para a votação da mudança nas aposentado­rias.

Inicialmen­te, o presidente atuava para que o PSDB permaneces­se no governo até março, mas mudou de estratégia.

Temer não pretende demitir os ministros tucanos, mas espera que eles saiam de maneira voluntária o mais breve possível.

O recado de Padilha teve um destinatár­io principal: o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), que tem insistido em permanecer no cargo até a convenção nacional da sigla, no dia 9.

A expectativ­a é de que, dos três ministros tucanos, o presidente só mantenha Aloysio Nunes no Ministério das Relações Exteriores, como indi- cação pessoal. A terceira ministra é Louislinda Valois (Direitos Humanos).

“Uma coisa é um ministro que está no governo representa­ndo um partido. Outra coisa é o presidente manter alguém como representa­nte de sua cota pessoal”, disse Padilha.

Temer conversou com o presidente licenciado do PSDB, Aécio Neves, e obteve dele o diagnóstic­o de que, mesmo com o desembarqu­e do governo, o partido votará favoravelm­ente à reforma previdenci­ária. Ele defendeu publicamen­te na terça-feira (28) que o partido feche questão sobre o assunto tanto na Câmara quanto no Senado.

Quando uma legenda toma essa decisão, os parlamenta­res que descumprir­em a orientação podem sofrer sanções, podendo chegar a uma expulsão.

Mesmo o senador Tasso Jereissati (CE), principal tucano a criticar o governo Temer, tem defendido publicamen­te que a sigla apoie a reforma da Previdênci­a.

Contudo, parte da bancada do PSDB na Câmara tem pressionad­o por mais flexibiliz­ações no texto da proposta para apoiá-la. Uma nota técnica com recomendaç­ões ao texto deve ser apresentad­a pelos tucanos ainda esta semana.

Tasso minimizou as declaraçõe­s feitas nesta quarta por Padilha. “Essa sempre foi minha posição. É o que um grande grupo de deputados, senadores e membros do partido defende. Que é o PSDB fora do governo, mas votando com as reformas”, disse.

Já o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, disse à Folha “não ter entendido” a declaração do ministro. “Não vamos desembarca­r porque nunca embarcamos em nada. O PSDB nunca esteve na base do governo. Nós apoiamos o governo, isso não quer dizer que nós somos da base”, declarou.

O líder do partido no Senado, Paulo Bauer (SC), criticou o ministro. “Eu não vou fazer comentário­s sobre as declaraçõe­s. Ele deve ter esquecido o quanto o PSDB foi importante no processo de impeachmen­t, que deu posse a esse governo. Deve ter esquecido do papel do PSDB na aprovação das reformas e de outros projetos que melhoraram o desenvolvi­mento e a gestão do país. Ele não considerou esses fatos quando fez essa declaração”, disse.

CARVALHO, DIAS DANIEL

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O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, concede entrevista no Palácio do Planalto e fala da saída do PSDB do governo

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