Temer pressiona PSDB a apressar saída do governo
Ministro Eliseu Padilha afirmou que os tucanos já ‘não estão mais’ na base
Presidente se irritou com declaração de Alckmin prometendo desembarque quando ele assumir o partido
O presidente Michel Temer decidiu se antecipar ao movimento do PSDB e passou a pressioná-lo publicamente a agilizar o seu desembarque da Esplanada.
O porta-voz foi o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao declarar que o partido “não está mais na base de sustentação do governo”.
“O PSDB já disse que vai sair. Nós vamos fazer de tudo para manter a nossa base de governo e um projeto único de poder para 2018”, afirmou.
Segundo a Folha apurou, Temer se irritou com declaração do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na terça-feira (28), de que o PSDB deixará o governo caso ele assuma a direção nacional do partido.
Temer e Alckmin têm reunião marcada para o sábado (2), quando devem discutir a saída definitiva dos tucanos.
Com a declaração de Padilha, o presidente também faz um aceno aos partidos do centrão, formado por partidos como PP, PTB e PR, que aspiram cargos no governo e são fundamentais para a aprovação da reforma da Previdência.
A declaração de Padilha foi entendida dentro e fora Palácio do Planalto como um ensaio do rompimento público definitivo entre governo e PSDB. Integrantes da base governista avaliam que é um gesto de risco, porque os tucanos são importantes também para a votação da mudança nas aposentadorias.
Inicialmente, o presidente atuava para que o PSDB permanecesse no governo até março, mas mudou de estratégia.
Temer não pretende demitir os ministros tucanos, mas espera que eles saiam de maneira voluntária o mais breve possível.
O recado de Padilha teve um destinatário principal: o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), que tem insistido em permanecer no cargo até a convenção nacional da sigla, no dia 9.
A expectativa é de que, dos três ministros tucanos, o presidente só mantenha Aloysio Nunes no Ministério das Relações Exteriores, como indi- cação pessoal. A terceira ministra é Louislinda Valois (Direitos Humanos).
“Uma coisa é um ministro que está no governo representando um partido. Outra coisa é o presidente manter alguém como representante de sua cota pessoal”, disse Padilha.
Temer conversou com o presidente licenciado do PSDB, Aécio Neves, e obteve dele o diagnóstico de que, mesmo com o desembarque do governo, o partido votará favoravelmente à reforma previdenciária. Ele defendeu publicamente na terça-feira (28) que o partido feche questão sobre o assunto tanto na Câmara quanto no Senado.
Quando uma legenda toma essa decisão, os parlamentares que descumprirem a orientação podem sofrer sanções, podendo chegar a uma expulsão.
Mesmo o senador Tasso Jereissati (CE), principal tucano a criticar o governo Temer, tem defendido publicamente que a sigla apoie a reforma da Previdência.
Contudo, parte da bancada do PSDB na Câmara tem pressionado por mais flexibilizações no texto da proposta para apoiá-la. Uma nota técnica com recomendações ao texto deve ser apresentada pelos tucanos ainda esta semana.
Tasso minimizou as declarações feitas nesta quarta por Padilha. “Essa sempre foi minha posição. É o que um grande grupo de deputados, senadores e membros do partido defende. Que é o PSDB fora do governo, mas votando com as reformas”, disse.
Já o presidente interino do PSDB, Alberto Goldman, disse à Folha “não ter entendido” a declaração do ministro. “Não vamos desembarcar porque nunca embarcamos em nada. O PSDB nunca esteve na base do governo. Nós apoiamos o governo, isso não quer dizer que nós somos da base”, declarou.
O líder do partido no Senado, Paulo Bauer (SC), criticou o ministro. “Eu não vou fazer comentários sobre as declarações. Ele deve ter esquecido o quanto o PSDB foi importante no processo de impeachment, que deu posse a esse governo. Deve ter esquecido do papel do PSDB na aprovação das reformas e de outros projetos que melhoraram o desenvolvimento e a gestão do país. Ele não considerou esses fatos quando fez essa declaração”, disse.
CARVALHO, DIAS DANIEL