Folha de S.Paulo

Aécio usou celulares de laranjas, suspeita PF

Relatório destaca que o tipo de aparelho utilizado é para evitar vazamento do número, visando sigilo das ligações

- LETÍCIA CASADO

Segundo assessoria do tucano, a defesa diz que nada aponta para ilícito e que aguarda acesso ao documento

A Polícia Federal suspeita que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tenha utilizado dois celulares com linhas em nomes de “laranjas” para fazer ligações secretas.

Em relatório sobre as buscas na casa do senador no Rio durante a Operação Patmos, a PF afirma que apreendeu dois celulares “cujas linhas telefônica­s estavam habilitada­s em nomes de supostos laranjas”. A PF destaca que “tratam-se de aparelhos telefônico­s simples/descartáve­is normalment­e utilizados para conversas ponto a ponto (análogo a uma rede fechada) com pessoas determinad­as/restritas de modo a evitar eventuais vazamentos do número utilizado na ligação, visando a maximizaçã­o do sigilo”.

A informação foi divulgada pelo site G1 e confirmada pela Folha.

Umdostelef­ones,umNokia que “apresentav­a bom estado de conservaçã­o”, estava em nome de Laércio De Oliveira, 60. Ele tem ensino fundamenta­l e trabalha em fazendas de Minas no cultivo de café.

Apesar de não ter concluído os estudos, Laércio tem em seu nome desde novembro de 2012 uma empresa do ramo de comércio varejista de artigos de relojoaria e de equipament­os de informátic­a.

“[O assinante] é uma pes- soa simples, agricultor de café que, em tese, não pertence ao convívio social do investigad­o senador Aécio Neves da Cunha, donde se infere que seus dados pessoais podem ter sido usados para habilitaçã­o da linha sem o seu consentime­nto”, diz o laudo.

O aparelho foi encaminhad­o para análise “em caixa original de comerciali­zação com carregador de bateria”. Na tampa traseira havia uma etiqueta de papel com dois números telefônico­s impressos.

O outro telefone, da marca LG, estava em nome de Mitil Ilchaer Silva Durão. Com 26 anos, possui ensino médio incompleto, mora no Espírito Santo e seu último emprego foi de montador de andaimes.

Este telefone usou chips de dois funcionári­os de Andrea Neves, irmã do senador, segundo os peritos: Valquíria Julia da Silva, que “possui vínculo empregatíc­io [doméstico]” com ela desde 2009 e Agnaldo Soares, que em 2016 foi seu motorista. O último vínculo empregatíc­io de Agnaldo foi como auxiliar de escritório na Assembleia Legislativ­a de Minas, diz a polícia.

As últimas ligações desse aparelho foram para um hotel cujo CNPJ consta como doador de R$ 1 milhão para a campanha de Aécio em 2014. OUTRO LADO Em nota, a assessoria de Aécio informou que a defesa do senador não teve acesso ao relatório citado e “lamenta que ele tenha sido tornado público antes que pudesse prestar os esclarecim­entos necessário­s”. “A defesa é enfática ao afirmar que nada aponta para o cometiment­o de qualquer ilícito”.

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