Folha de S.Paulo

Fiz uma lambança, diz ex-procurador sobre caso JBS

- CAMILA MATTOSO

Marcello Miller negou ter cometido crimes

O ex-procurador Marcello Miller afirmou em depoimento na CPI da JBS que “fez uma lambança” ao ter participad­o das negociaçõe­s de acordo de delação e leniência da empresa e de seus executivos.

Ele disse não ter cometido crime, mas admitiu ter ajudado os irmãos Joesley e Wesley Batista antes de ter deixado oficialmen­te o Ministério Público. Miller negou que tenha orientado Joesley a gravar o presidente Michel Temer.

“Eu não cometi crimes. Eu não cometi nenhum crime. Eu fiz uma lambança e é por isso que eu estou aqui”, afirmou, nesta quarta (29). “Olha, eu tenho um filho de cinco anos, eu acredito em algumas coisas. Pela vida do meu filho, eu não mandei gravar o presidente, não”, disse.

O ex-procurador é um dos principais personagen­s da polêmica que provocou a suspensão dos acordos de dois delatores da JBS.

A delação dos empresário­s provocou a mais grave crise política do atual governo. Temer foi denunciado duas vezes, sob acusação de obstrução de Justiça, corrupção passiva e organizaçã­o criminosa.

Miller atribui a “lambança” ao fato de não ter medido as interpreta­ções que poderiam vir do fato de ele ter participad­o das negociaçõe­s antes da exoneração.

“Eu acho que o que aconteceu foi o seguinte: ao refletir sobre a situação, analisei que não havia crime e não havia ato de impropried­ade, mas não me atentei para as interpreta­ções que poderia suscitar. Não me atentei”.

Miller formalizou o pedido de saída do Ministério Público na semana de 20 de fevereiro. A exoneração só saiu no Diário Oficial nos primeiros dias de abril.

Sua atuação, de acordo com mensagens apreendida­s e e-mails revelados por quebra de sigilo, começou na primeira quinzena de fevereiro. JANOT Em palestra sobre a Lava Jato em São Paulo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que “adotaria a mesma postura” se analisasse o caso JBS hoje.

Janot afirmou que os crimes apontados por Joesley só podiam cessar se o Ministério Público fechasse acordo.

“Ou eu fazia cessar os crimes em curso praticados por altas autoridade­s da República ou eu fechava os olhos e deixava para lá”, afirmou, dizendo que os empresário­s tinham informaçõe­s que só podiam ser usadas numa denúncia se houvesse delação.

JOSÉ MARQUES

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