General da guerra bósnia se mata na corte
Slobodan Praljak engole veneno após Tribunal Penal Internacional ratificar condenação por crimes no conflito
Comandante das forças bósnio-croatas deveria ficar 20 anos preso por mortes de muçulmanos civis em cidade bósnia
O general Slobodan Praljak, um dos comandantes das forças bósnio-croatas na Guerra da Bósnia (1992-1995), se matou nesta quarta (29) ao ingerir veneno segundos após os juízes do Tribunal Penal Internacional rejeitarem seu recurso contra uma condenação por crimes de guerra.
A corte, com sede em Haia, confirmou a pena inicial de 20 anos de prisão contra Praljak, anunciada em 2013. Ele era acusado de não ter impedido que soldados sob seu comando matassem civis muçulmanos entre 1993 e 1994, na cidade de Mostar. Outras cinco pessoas foram conde- nadas pelo mesmo crime.
Nesta quarta, o tribunal manteve parte das condenações, mas não alterou a pena. Na sequência, o general retirou do bolso um frasco de vidro e ingeriu seu conteúdo. “Acabei de beber veneno. Não sou um criminoso de guerra, me oponho à condenação.”
Imediatamente, o juiz que comandava a sessão, Carmel Agius, suspendeu a audiência e chamou socorro. Paramédicos entraram na sala e levaram Praljak a um hospital, mas ele não resistiu.
Com isso a sala foi interditada e o caso está sendo investigado. Não está claro como o militar entrou com o veneno na corte.
Antes de participar da guerra, Praljak se formou em filosofia e cinema, segundo sua biografia. Ele trabalhava como cineasta quando se alistou voluntariamente no Exército croata no início do conflito, em 1991, e liderou uma unidade formada principalmente por intelectuais.
Apesar de não ter experiência anterior nas Forças Armadas, rapidamente se tornou general e entrou no Exército bósnio-croata, que tentava implementar um Estado de maioria croata dentro da Bósnia. Assim, lutou tanto contra as forças sérvias quanto contra os bósnios.
Mostar, cidade onde operava a força liderada por Praljak, foi ocupada em abril de 1992 pelo Exército da antiga Iugoslávia, logo depois que a Bósnia declarou independência. Dois meses depois, o Exército croata assumiu o controle da região.
Nos dois anos seguintes, a cidade ficou dividida entre as forças bósnio-croatas, que dominavam a parte oeste, e bósnias, do lado leste. Mais de 2.000 pessoas morreram em Mostar entre 1992 e 1995.
Os eventos desta quarta ocorreram nos minutos finais do último veredicto do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, estabelecido em 1993. A corte fecha as portas em dezembro.
Na semana passada, o TPI condenou à prisão perpétua o comandante militar sérvio Ratko Mladic por genocídio e crime de guerra por suas ações no cerco a Sarajevo, capital bósnia, nos três anos da guerra e no Massacre de Srebrenica, em 1995, que levou à morte de 8.000 homens e meninos muçulmanos.
Outro a ser condenado por sua atuação nos dois crimes foi Radovan Karadzic, que cumpre 40 anos de prisão, definidos em março de 2016. O tribunal, porém, não conseguiu punir o líder iugoslavo, Slobodan Milosevic, e o comandante dos rebeldes sérvios na Croácia, Goran Hadzic —os dois morreram na prisão antes do julgamento.