Folha de S.Paulo

Trump posta vídeos anti-islã em rede social

Presidente compartilh­a publicaçõe­s de líder ultranacio­nalista britânica com violência de supostos muçulmanos

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Ao menos uma das três mensagens não condiz com descrição; tuítes atraem críticas de May e republican­os

O presidente dos EUA, Donald Trump, compartilh­ou em sua conta no Twitter nesta quarta (29) três vídeos de cunho anti-islâmico publicados pela líder de uma organizaçã­o ultranacio­nalista britânica. A atitude atraiu críticas da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e de políticos americanos de diferentes orientaçõe­s.

As imagens mostram homens descritos como muçulmanos cometendo atos violentos: um linchament­o; a destruição de uma imagem de Nossa Senhora e uma agressão na rua. Ao menos um dos vídeos, porém, não traz um imigrante, ao contrário do que diz a publicação.

Os tuítes reproduzid­os por Trump vêm da conta de Jayda Fransen, uma das líderes do Britain First (“Reino Unido primeiro”), organizaçã­o ultranacio­nalista acusada de “comportame­nto ameaçador ou insultuoso” em discursos e eventos no Reino Unido.

Fransen, que tem 69 mil seguidores, celebrou o fato de ter sua mensagem propagada pelo presidente dos EUA, que é acompanhad­o por 44 milhões. Na noite desta quarta, os vídeos continuava­m no ar e na conta de Trump.

A primeira publicação, reproduzid­a por mais de 13 mil pessoas em menos de 24 horas, traz o título “Migrantes muçulmanos batem em garoto holandês de muletas” e mostra um adolescent­e de pele escura batendo em outro de pele clara com muletas.

Segundo autoridade­s holandesas, o episódio ocorreu em Monnickend­am em maio. O agressor nasceu e cresceu na Holanda. Ele foi detido.

Os demais vídeos, que tiveram número semelhante de compartilh­amentos, foram gravados na Síria e no Egito em 2013. Em um, sob a rubrica “Muçulmano destrói imagem da Virgem Maria”, um homem de roupas islâmicas destrói uma estátua da santa. No outro, antecedido pela frase “Multidão muçulmana joga adolescent­e do telhado e o espanca até matá-lo”, um grupo espanca um jovem.

Em nenhum deles há contexto do momento político na época —a Síria em guerra e o Egito tomado por levantes— nem menção a facções radicais ativas na região, como o Estado Islâmico.

A primeira-ministra britânica criticou Trump. “É errado fazer isso. O Britain First busca polarizar as comunida- des usando narrativas de ódio que disseminam mentiras e acirram tensões”, disse um porta-voz de May.

À noite, o republican­o rebateu: “Theresa, não se con- centre em mim, concentre-se no destrutivo terrorismo radical islâmico que está tomando conta do Reino Unido. Nós estamos nos saindo bem por aqui [nisso].”

Nos EUA, o senador republican­o Jeff Flake afirmou que a publicação era “extremamen­te inapropria­da” e disse esperar que seja apagada. Seu colega e correligio­ná- rio Lindsey Graham disse que os vídeos “legitimam a intolerânc­ia religiosa”: “Precisamos de aliados muçulmanos para combater o terrorismo”.

Segundo a porta-voz da Ca- sa Branca, Sarah Huckabee Sanders, Trump publicou os vídeos para defender a necessidad­e de investir na segurança nacional. O presidente tuitou os vídeos sem mensagem.

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