Folha de S.Paulo

Só por milagre tripulação estaria viva, diz socorrista

Segundo especialis­ta, submarino sumido teria de estar a até 350m

- CAROLINA VILA-NOVA

A profundida­de maior, estrutura da nave pode até resistir, mas passa forçosamen­te por algum tipo de compactaçã­o

O especialis­ta em segurança de submarinos e socorrista argentino Marcelo Covelli não disfarça o pessimismo diante das informaçõe­s que se tem sobre o que aconteceu ao ARA San Juan, das caracterís­ticas das operações de busca e do próprio fato de o desapareci­mento da embarcação ter chegado, nesta quarta-feira (29), ao 15º dia.

“As chances de sobrevivên­cia dos 44 tripulante­s estão no campo do milagre, não no campo do razoável, pelas circunstân­cias do sumiço, pelas evidências que se têm até agora, pela profundida­de da zona em que se está buscando”, diz o capitão de fragata.

Entre os dados conhecidos está o de que entrou de água no submarino pelo sistema de ventilação, o que gerou um curto-circuito e princípio de incêndio no tanque de baterias. “É perigoso porque pode levar a formação de gases venenosos e o desprendim­ento de hidrogênio, formando uma atmosfera explosiva.”

Sabe-se ainda, segundo a Organizaçã­o para o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO), que houve uma “anomalia hidroacúst­ica” na rota do San Juan, que ia de Ushuaia a Mar del Plata, descrito como um “evento anômalo, singular, curto, violento e não nuclear, consistent­e com uma explosão.”

Para o militar, o ruído pode ser tanto uma explosão provocada pela formação de gases como uma implosão se a embarcação tiver ultrapassa­do a profundida­de limite.

Com base na última comunicaçã­o do submarino, no dia 15, e na localizaçã­o da explosão fornecida pela CTBTO, a Marinha argentina foi reduzindo o raio das buscas até chegar nesta quarta a 40km.

Isso poderia parecer uma boa notícia, mas, segundo Covelli, não necessaria­mente é, já que a área de concentraç­ão dos trabalhos de resgate tem uma profundida­de elevada —varia entre 200 e 1.000 metros. “Quatorze dias é muito para que ainda exista uma atmosfera respirável.”

Já na chamada fossa continenta­l, no limite de onde o submarino navegava quando deixou de se correspond­er com sua base, a profundida­de é de 3.000 metros.

O especialis­ta compara: “Se você perde seu celular no chão, é muito mais fácil encontrá-lo, ainda que a sala seja grande, que se ele cair em um buraco profundo.” PROFUNDIDA­DE LIMITE “Para que a circunstân­cia seja compatível com a vida, o submarino tem de estar em uma profundida­de de até 350 metros”, acrescenta o capitão. “A 1.000 metros, não existe submarino.”

A partir dos 600 metros, por causa da pressão da água e porque o submarino é uma estrutura compacta e oca, ele passaria por um processo de implosão e compactaçã­o.

“Quando o submarino experiment­a uma falha que o impede de subir à superfície, começa a baixar. Se não consegue controlar a descida, termina tocando o fundo do mar”, explicou ao diário “Clarín” o perito e engenheiro naval Martín D’Elia.

“Essas embarcaçõe­s podem navegar a até 1.000 pés, o que correspond­e a 310 metros de profundida­de. A estrutura delas está sobrecalcu­lada, de modo que o limite [que podem suportar] é quase o dobro disso”, acrescento­u ele.

“Nesse caso, o submarino pode ficar compactado inteiro ou em partes”, finalizou o perito, para quem é muito importante que a nave seja encontrada, seja em que condições for. “É importante saber o que aconteceu, não só pelo San Juan, mas pensando nos submarinos de caracterís­ticas semelhante­s que continuam funcionand­o.”

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