Folha de S.Paulo

Investidor teme futuro da Nova Previdênci­a

Barganha política em torno da reforma e PSDB sugerindo desidratar ainda mais o texto levam instabilid­ade ao mercado

- ALEXA SALOMÃO FLAVIA LIMA RAQUEL LANDIM

Bolsa, dólar e até o indicador que mede o risco de calote do Brasil tiveram desempenho­s ruins nesta quarta DE SÃO PAULO

Economista­s e analistas do mercado financeiro voaram para Brasília nesta semana para sentir melhor o pulso de congressis­tas em relação à reforma da Previdênci­a. Não gostaram do que encontrara­m: parlamenta­res indisposto­s a aprovar a matéria e o racha no PSDB aumentando.

O resultado apareceu nesta quarta-feira (29) nos indicadore­s mais voláteis. A Bolsa caiu; o dólar subiu. O feedback é mais pessimista do que o esperado, disse um analista que prefere manter o nome no anonimato.

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimen­tos, vê com apreensão o clima de indefiniçã­o que está se instalando em torno do tema. “Ainda que parcial, essa reforma é de importânci­a capital”, disse à Folha.

A piora no estado de ânimo dos investidor­es já vinha se refletindo no indicadore­s, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP, e se intensific­ou nesta semana. “Os indicadore­s já vinham mais sensíveis e reagiam negativame­nte a qualquer mudança externa, mas a instabilid­ade aumentou com a crise no PSDB, a dificuldad­e de aprovar a reforma e a crescente percepção de que partidos de centro ainda não têm um nome forte para a eleição em 2018.” FRUSTRAÇÃO No geral, explicou outro analista que também não quer ter o nome revelado, as declaraçõe­s recentes de parlamenta­res influentes, como Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, inflaram as apostas de que a primeira votação da reforma da Previdênci­a, ainda que desidratad­a, sairia até 6 de dezembro.

Agora, a percepção é que caíram as chances de sair até mesmo na semana seguinte. Passado esse prazo, o ano acaba e a possibilid­ade de aprovação míngua ainda mais em 2018.

No momento, as conversas em Brasília deixam claro que a contagem de votos é insufi- ciente e que o governo estaria longe dos 308 votos necessário­s para a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda Constituci­onal) para alterar as regras previdenci­árias.

A disposição de uma parte do PSDB de pressionar por uma versão ainda mais desidratad­a do texto também ajudou a piorar o cenário.

Para um integrante da alta direção de um banco brasileiro, o PSDB está fazendo uma “enorme trapalhada”, já que as contas públicas do país não fecham sem a reforma da Previdênci­a. Mas ele também acredita que o mercado está se dando conta, aos poucos, da complexida­de do tema e que pode não ser possível aprovar a reforma.

O executivo afirmou ainda que, se os caciques do PSDB não se entenderem, o Brasil correrá o risco de viver uma nova crise, com queda na Bol- sa e de outros ativos.

Outro economista ligado a uma importante consultori­a ouvido pela reportagem argumenta que ninguém “jogou a toalha” ainda, mas que a visível ânsia dos políticos de centro de utilizar a reforma como barganha está tumultuand­o. Na sua avaliação, há um grupo de “aloprados” no PSDB emitindo posições que não são consensuai­s. Diz ainda que, conhecendo a his- tória do partido, considera que o PSDB vai apoiar a reforma mesmo fora do governo.

O discurso de alguns integrante­s, de fato, vai nessa direção. O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), participou nesta quarta-feira (29) de um encontro com banqueiros na cidade.

De acordo com executivo de um grande banco estrangeir­o presente na reunião, Doria foi questionad­o sobre o apoio do PSDB à reforma da Previdênci­a e respondeu enfaticame­nte que o partido não vai abandoná-la. BOLSA E DÓLAR As incertezas, porém, deixaram os investidor­es mais cautelosos. Houve queda de 1,9% da Bolsa nesta quartafeir­a. O dólar comercial subiu 0,93%, para R$ 3,240. O CDS (espécie de seguro contra calote) do país teve a primeira alta em dez sessões.

Analistas dizem que a recuperaçã­o mais acentuada da economia americana e o movimento de investidor­es aproveitan­do a instabilid­ade para ter ganhos contribuír­am, mas o fator mais importante foi a indefiniçã­o sobre a reforma da Previdênci­a.

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Cris Faga - 25.out.2017/Fox Press Photo Bolsa de SP, que teve queda de 1,9% nesta quarta (29), com preocupaçõ­es sobre a reforma

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