Folha de S.Paulo

Temer convoca jantar para discutir votação da reforma

- DANIEL CARVALHO GUSTAVO URIBE LAÍS ALEGRETTI

O governo do presidente Michel Temer tenta conectar temas de interesse de deputados à reforma da Previdênci­a, com o objetivo de conquistar apoio e viabilizar a votação da reforma na Câmara dos Deputados ainda neste ano.

Os congressis­tas querem aprovar nos próximos dias versões do Refis —parcelamen­to de dívidas com o fisco— para microempre­sas e ruralistas (o chamado Funrural), que ficaram de fora dos benefícios cedidos a médias e grandes empresas neste ano.

Segundo a Folha apurou, há disposição da equipe econômica em negociar, mesmo que os programas represente­m perdas de arrecadaçã­o no longo prazo.

Isso porque, no momento em que os votos pela reforma da Previdênci­a estão sendo contados diariament­e, não é bom abrir divergênci­as com congressis­tas.

A reforma é considerad­a prioritári­a e, se aprovada, poderia turbinar a confiança de empresário­s e consumidor­es com a economia, melhorando a arrecadaçã­o e compensand­o os efeitos dos programas de parcelamen­to de dívidas passadas.

Já congressis­tas ouvidos pela reportagem tentam desconecta­r as duas agendas, ressaltand­o a resistênci­a à reforma no período pré-eleitoral, além do curto espaço de tempo para aprovação antes do recesso de Natal.

Os defensores dos parcelamen­tos dizem que, embora haja redução na receita no longo prazo, entram recursos em caixa imediatame­nte. Além disso, viabilizam o pagamento de devedores que não conseguiri­am recolher os tributos com juros e multas.

Segundo previsão da Receita Federal, a renúncia com o Funrural é de R$ 15 bilhões em 15 anos. A deputada Tereza Cristina (sem partido-MS), da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia, afirma que a renúncia não passa de R$ 7,5 bilhões.

“A Receita superestim­a esses números”, disse.

A deputada afirma que o governo não apontou nenhuma necessidad­e de ajuste no texto do projeto de lei, que deverá ter tramitação acelerada na Câmara.

“O governo não pediu votos [pela reforma da Previ- dência] em troca [do Funrural]”, afirmou. “Mas terá 50 votos contrários [à reforma] se não aprovar [o Funrural].”

“O Funrural não é favor para ninguém”, afirmou Nilson Leitão (PSDB-MT), presidente da Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia. DESCONTO NA MULTA O Refis para microempre­sas teve o texto alterado na noite desta quarta (29) e, segundo o relator, deputado

O presidente Michel Temer convocou presidente­s e líderes de partidos para um jantar no domingo (3) para discutir a viabilidad­e de votar a reforma da Previdênci­a.

O encontro será na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e terá a participaç­ão dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamen­to).

Temer quer conversar com os comandos dos partidos para ter uma noção real do número de votos da base aliada.

O presidente ainda está Otávio Leite (PSDB-RJ), foi enviado ao Planalto para avaliação do Ministério da Fazenda e cálculos de renúncia.

Leite afirma que reproduziu as condições de parcelamen­to do Refis para as grandes empresas. Pela proposta, os interessad­os deverão pagar uma entrada de 5%, parcelada em cinco vezes.

Depois disso, poderão escolher entre pagar o restante à vista, com desconto de 90% nos juros e 70% nas multas longe dos 308 votos para aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão). Os cálculos variam de pessimista­s 150 a otimistas 275 votos a favor da reforma.

Líderes favoráveis à reforma estão reunindo suas bancadas para explicar a mais recente versão da proposta e tentar conquistar apoio. Mas mesmo os mais entusiasma­dos já dizem que não há possibilid­ade de votar a PEC no próximo dia 6, como Rodrigo Maia aventou inicialmen­te.

Para eles, a data mais otimista é na semana do dia 13 de dezembro, às vésperas das férias parlamenta­res.

O governo ainda analisa as propostas de flexibiliz­ação feitas pelo PSDB para tentar ou em 145 vezes (redução de 80% nos juros e 50% nas multas) ou em 175 vezes (com redução de 50% nos juros e de 25% nas multas).

De acordo com ele, uma das vantagens será a empresa se manter no Simples —600 mil empresas foram notificada­s pela Receita Federal em setembro e, se não pagarem os atrasados até o fim do ano, serão excluídas do programa.

O presidente do Sebrae conquistar o apoio dos 46 deputados da legenda.

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), no entanto, disse que “chegaram ao limite” as concessões à base aliada na proposta da reforma previdenci­ária, incluindo as demandas feitas pelo PSDB. PENSÃO Os tucanos querem que o benefício por incapacida­de permanente continue integral, propuseram acúmulo de pensão e aposentado­ria até o teto do INSS (R$ 5.531) e a manutenção da integralid­ade e paridade para servidores, desde que o trabalhado­r pague um pedágio sobre a idade que falta para se aposentar pelas regras atuais. (MARIANA CARNEIRO, DANIEL CARVALHO, JULIO WIZIACK, MAELI PRADO E GUSTAVO URIBE)

A liderança do PSDB na Câmara disse que não há fato novo nas sugestões, que são as mesmas entregues ao governo em abril. Os tucanos dizem que as dificuldad­es para aprovar a reforma se agravaram com a “progressiv­a falta de coesão da base”.

O relator da reforma da Previdênci­a, deputado Arthur Maia (PPS-BA), disse que está em estudo uma regra de transição que pode beneficiar os servidores que ingressara­m até 2003. A proposta atual mantém a paridade e integralid­ade para quem esperar até a idade mínima de 62 anos (mulher) e 65 anos (homem) para ter acesso ao benefício. Indicou que a idade pode cair para 60 anos.

DE BELO HORIZONTE

O governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), encontrou-se com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), nesta quarta (29), para pedir que os senadores votem em caráter de urgência projeto de lei que permite aos Estados vender ao setor privado o direito sobre créditos parcelados.

Segundo Pimentel, Eunício se compromete­u a colocar o projeto de lei da securitiza­ção em votação no plenário tão logo seja aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos.

Com um deficit orçamentár­io em torno de R$ 8 bilhões, o Estado diz não ter como pagar o 13º salário dos servidores e depender da aprovação do projeto de lei.

“É a possibilid­ade de a gente antecipar aqueles recebiment­os da dívida ativa do Estado e trazer a valor presente num volume maior, que, no nosso caso, seria suficiente para pagar o 13º salário”, disse Pimentel.

À rádio Itatiaia o secretário de Planejamen­to e Gestão, Helvécio Magalhães, disse que é “prioridade pagar o 13º em 2017, mas temos que admitir que nós não temos, isso é um fato concreto, os recursos disponívei­s pra isso”. Seriam necessário­s cerca de R$ 2 bilhões para pagar a folha adicional.

Até agosto, Minas arrecadou R$ 4,3 bilhões com o Plano de Regulariza­ção de Créditos Tributário­s, lei estadual aprovada em julho que dá desconto para que devedores acertem suas contas de ICMS, IPVA e outras taxas.

Desse total, R$ 3,4 bilhões foram parcelados. O projeto de lei no Senado dá o aval para que os créditos que Minas tem a receber de forma parcelada por anos sejam vendidos ao mercado financeiro e, assim, a verba possa chegar antes ao caixa

A vantagem para os investidor­es é um desconto oferecido pelo governo ao vender essas cotas.

Pimentel afirmou que Minas não tem plano B e que acha “perfeitame­nte possível” conseguir a aprovação da securitiza­ção no Congresso. “Os bancos estão dispostos a fazer a operação, basta a autorizaçã­o do Legislativ­o. Então não estamos trabalhand­o com outro cenário.”

O governo Pimentel vem parcelando o pagamento de salários do funcionali­smo público desde 2016. Em novembro, a segunda parcela atrasou cinco dias.

 ?? Marcos Corrêa/PR ?? Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante almoço em Brasília nesta quarta-feira (29)
Marcos Corrêa/PR Michel Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante almoço em Brasília nesta quarta-feira (29)

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