Folha de S.Paulo

O sorteio em Moscou

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

MARCO POLO, o que não viaja, faltará em Moscou para o sorteio da 21ª Copa do Mundo. Gol do Brasil! Afinal, o cartola nem tem coragem de entregar taça do campeonato da entidade que preside, porque se pela de medo de aparecer em público, que dirá de botar os pés fora do país. Pior que vaias e coros é a Interpol. A ausência dele preencherá uma lacuna.

Caso típico de ruim sem ele, pior com ele.

Já o resultado do sorteio sempre permitirá uma série de interpreta­ções, menos do interesse e mais de acordo com o jeito de cada um.

Se as bolinhas moscovitas indicarem um grupo fraco para a seleção, Tite dirá que não há grupos fáceis em Copa e que todo jogo deve ser encarado como final, no que terá razão, embora hajam sim grupos mais fracos e grupos mais difíceis.

Se a seleção ficar num grupo duro, Tite dirá que quanto mais complicado melhor e que quem quer ser campeão não escolhe adversário­s. Terá razão de novo. A história dos cinco títulos mundiais da seleção revela primeiras fases para todos os gostos.

Em 1958, na Suécia, foram três europeus: Áustria (3 a 0), Inglaterra (0 a 0) e União Soviética (2 a 0).

Garrincha e Pelé estrearam no terceiro jogo, se juntaram a Didi, e liquidaram o alardeado futebol científico dos soviéticos, que teriam tudo decupado em potentes e misterioso­s computador­es.

Só que suas diabólicas máquinas jamais tinham visto alguém varo e valgo ao mesmo tempo, com um joelho para fora e outro para dentro.

Então foram apresentad­os a Mané Garrincha.

No Chile, em 1962, o México (2 a 0), a Tchecoslov­áquia (0 a 0) e a Espanha (2 a 1).

Pelé já era rei e distendeu a virilha no segundo jogo.

Daí surgiu Amarildo, o Possesso, que fez dois na virada contra a Es- panha. Os tchecos acabaram por serem os rivais na finalíssim­a.

Já em 1970, no México, novamente três europeus pela frente: Tchecoslov­áquia (4 a 1), Inglaterra (1 a 0) e Romênia (3 a 2).

Eis que 24 anos depois, nos EUA, a União Soviética já era Rússia e caiu por 2 a 0; Camarões levou 3 a 0 e a Suécia arrancou empate, 1 a 1.

Finalmente, em 2002, na Coreia do Sul e no Japão, Turquia, China e Costa Rica foram batidas por 2 a 1, 4 a 0 e 5 a 2, na única Copa do pentacampe­onato em que o time foi adquirindo forma na primeira fase —que se apresentav­a como fácil, mas exigiu pênalti inexistent­e para vencer a Turquia, de novo rival na semifinal.

Ninguém diria, ao começarem as Copas de 1962 e 2002, que a Tchecoslov­áquia chegaria à decisão numa e a Turquia à semifinal noutra.

A única vez em que a seleção canarinha não passou da fase de grupos foi em 1966, na Inglaterra.

E os rivais nem pareciam tão complicado­s: Bulgária (2 a 0), Hungria (1 a 3) e Portugal (1 a 3).

Aguardemos o que o sorteio determinar­á para a primeira parte da busca pelo hexacampeo­nato.

Se vier moleza será ótimo para treinar e chegar nos trinques para os mata-matas.

Se vier dureza também será ótimo para já chegar chegando.

Sempre, você sabe, com “profundo respeito pelo adversário”, seja a Espanha, a sexta do ranking da Fifa, no segundo pote, seja a Arábia Saudita, a 63ª, no último.

O Brasil está no pote 1.

Se vier moleza na 1ª fase, será ótimo para treinar; se vier dureza, será ótimo para o Brasil chegar chegando

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