Tite se assusta com o trânsito em Moscou
O gramado ainda não foi plantado. Os operários trabalham na reforma do sistema de drenagem do campo. A partir de março, as primeiras mudas serão colocadas no estádio Slava Metreveli, em Sochi (a cerca de 1.500 km de Moscou), que servirá de centro de treinamento da seleção brasileira durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018.
Batizado com o nome de um dos grandes jogadores de futebol da União Soviética, a arena faz parte de um dos maiores complexos esportivos do governo russo.
O campo foi apontado à Fifa pela CBF como a base ideal do time por causa da privacidade. O estádio fica a menos de 500 metros do hotel que vai abrigar a delegação brasileira no Mundial.
Em dezembro, a Fifa anunciará oficialmente os locais de treinamento das 32 seleções que disputarão a Copa.
Em Sochi, considerada a “Riviera Russa” por causa do clima sub-tropical, os jogadores poderão chegar ao estádio caminhando.
O campo foi a casa do time de futebol da cidade, que encerrou suas atividades em 2014. Na época, o clube estava na terceira divisão.
Com capacidade para cerca de 10 mil pessoas, o local ficará fechado para a torcida durante todo o Mundial.
Na segunda-feira (27), dezenas de atletas treinavam na pista de atletismo em volta do campo esburacado.
“Já nos falaram que o Brasil vai vir para cá, mas só acredito vendo. Com certeza, Sochi vai dar sorte para a seleção”, disse o segurança Mi- khail Mamikonian.
A Folha entrou na arena, mas nenhum funcionário do complexo esportivo tinha autorização para dar entrevista. Eles apenas confirmaram que funcionários da CBF visitaram, e aprovaram, o local.
O complexo esportivo é administrado pelo Ministério do Esporte e serviu de base para a delegação russa durante os Jogos Olímpicos de inverno de 2014, em Sochi.
Um hotel com capacidade para 192 pessoas fica ao lado do campo de futebol e pode ser utilizado apenas por atletas e treinadores. CINCO ESTRELAS Os jogadores da seleção, porém, não ficarão lá. A CBF hospedará os atletas em um hotel cinco estrelas, com praia particular e spa.
O coordenador de seleções da CBF, Edu Gaspar, afirmou que faltam apenas alguns detalhes para serem definidos sobre a operação brasileira na cidade litorânea.
“Os atletas podem ter a certeza que contarão com toda a privacidade para se dedicar aos treinos”, disse Emiliya Polat, gerente de relações públicas do Swissôtel Sochi Kamelia, que ainda terá uma área reservada para os jogadores encontrarem seus familiares durante as folgas.
Os administradores não revelam quanto a CBF gastará pelo conforto. Durante a Copa, a diária dos quartos deve custar cerca de 400 euros (R$ 1.500). A delegação brasileira deve contar com pelo menos 60 integrantes.
O prédio principal do hotel foi erguido em 1938 para abrigar um dos primeiros resorts do país. Por causa do clima ameno, a cidade era um refúgio do ditador Josef Stálin. Ele acreditava no poder curativo das águas de Sochi.
Nos meses de disputa da Copa (junho e julho), a temperatura na cidade fica entre 20°C e 22°C, em média.
O presidente Vladimir Putin é outro entusiasta de Sochi. Em 2014, ele organizou na cidade a edição mais cara dos Jogos Olímpicos. A Rússia gastou cerca de US$ 50 bilhões (aproximadamente R$ 161 bilhões). Os Jogos do Rio consumiram R$ 42,8 bilhões.
Foi erguido um moderno parque olímpico. Centenas de quilômetros de estradas, linhas de trens e túneis também foram feitos. A cidade conta até com um autódromo, construído para abrigar o GP da Rússia de F-1.
Apesar de o governo declarar que o investimento valeu a pena, os críticos dizem que o evento não se pagou e as arenas são pouco utilizadas.
“Existe utilização nas arenas, mas ainda faltam grandes eventos para enchê-las”, diz o economista Lev Bizgu.
Com uma população de cerca de 360 mil habitantes, Sochi tem o turismo como principal atividade econômica. Segundo o governo local, 6,5 milhões de turistas visitaram a cidade em 2016.
Por causa da Olimpíada, o balneário tem uma moderna rede hoteleira, que no inverno fica ociosa. Na Copa, Sochi receberá seis partidas.
DOS ENVIADOS A MOSCOU
O técnico da seleção brasileira, Tite, ficou impressionado com o trânsito da capital russa.
A delegação brasileira que chegou a Moscou nesta quarta (29) demorou três horas e 20 minutos desde que desceu do avião até chegar ao hotel.
Tite ficou duas horas no engarrafamento.
O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não integra a delegação. O dirigente não sai do Brasil desde que foi acusado pelo FBI de participar do escândalo de corrupção na Fifa. Ele teme ser preso.
O Brasil escolheu ficar concentrado durante a Copa em Sochi, à beira do Mar Negro, a 1.500 km da capital. Se for sorteado para o Grupo B, a seleção fará a estreia na cidade.
Tite participa do seminário técnico realizado pela Fifa nesta quinta (30). Após o sorteio, ele visitará as cidades em que o Brasil jogará na primeira fase do Mundial.
Na quarta à noite, Tite jantou no hotel e encontrou outros técnicos que participarão do torneio.
O treinador Jorge Sampaoli, que comanda a Argentina, disse em sua chegada à Rússia que o Brasil é um dos favoritos a conquistar o título.
“Brasil tem muita força em tudo e tem Neymar. Ele é espetacular”, disse o argentino, que também elogiou as seleções da França e da Alemanha.
O sorteio dos grupos da Copa será nesta sexta (1º), às 13h (de Brasília). O Brasil será cabeça de chave.
Está definido apenas que a Rússia, anfitriã, ficará no Grupo A.
Uma das regras prevê que duas seleções da mesma confederação não poderão dividir um grupo, com exceção das europeias. O limite para os europeus será de dois times por chave. (ALEX SABINO E SÉRGIO RANGEL)