Folha de S.Paulo

Kenneth Branagh renova Agatha Christie

Famoso pelas adaptações shakespear­ianas, ator e diretor pode emplacar franquia com detetive clássico da literatura

- RODRIGO SALEM

‘Assassinat­o no Expresso Oriente’ já ganhou sinal verde da Fox para sequencia com mesmo personagem FOLHA,

Filho de um encanador e uma artesã de Belfast, Kenneth Branagh lembra quando juntou dinheiro de bicos feitos quando criança em Reading, interior da Inglaterra, para poder comprar livros.

“Voltei para casa e meu pai perguntou por que havia feito aquilo. Éramos de classe trabalhado­ra e ele não entendia a razão de comprar um livro que podíamos pegar de graça na biblioteca. Eu achei a coisa mais empolgante que tinha acontecido na minha vida”, diz o ator, diretor e roteirista.

Já adulto, Branagh tornouse uma das maiores referência­s em adaptações de William Shakespear­e, tendo filmado cinco livros do bardo inglês —dois deles, “Henrique 5º” (1989) e “Hamlet” (1996), com indicações ao Oscar. Agora, aos 56 anos, ele assume a missão de levar outro nome famoso para o cinema: a rainha do suspense, Agatha Christie (1890-1976).

“Assassinat­o no Expresso do Oriente”, publicado em 1934, é o oitavo livro de Christie protagoniz­ado pelo “maior detetive do mundo”, o belga Hercule Poirot, famoso tanto pela cabeça arredondad­a e um extenso bigode quanto pelo poder de dedução. O personagem já passou por várias versões no cinema e na TV, mas o plano de Branagh —na direção e no papel de Poirot— com os estúdios Fox é mais ambicioso.

A ideia é começar uma franquia cinematogr­áfica de suspense e surfar na onda do sucesso atual das séries policiais. A adaptação seria o primeiro passo para atualizar Christie para a nova geração.

“Agatha Christie tem entrado e saído de moda ao longo dos anos. Mas isso é perfeitame­nte normal para uma escritora de 107 livros. O importante­ésemantera­utênticodu­rante todo o processo”, afirma o diretor, que não atualizou o texto para os tempos atuais.

O que não significa ausência de mudanças em relação ao original. “Assassinat­o no Expresso do Oriente” não começa mais em Aleppo (Síria), mas em Jerusalém, onde Poirot resolve um mistério na Ba-

Kenneth Branagh dirige e assume papel do famoso detetive Hercule Poirot

sílica do Santo Sepulcro.

Branagh conta que uma das razões de ter sido atraído para o texto de Christie — quando tinha 15 anos e sua mãe colecionav­a livros policiais— foi “a descrição de Aleppo na primeira página”, mas filmar numa zona de guerra não era opção. “A cidade agora está nos noticiário­s por razões terríveis”, lembra.

O Hercule Poirot também sofreu algumas alterações para diferencia­r dos personagen­s vividos por Albert Finney, no filme de 1974, ou por David Suchet na longeva série de TV (1989 a 2013). “Queria mostrar que meu Poirot tem o potencial de ser abalado”, conta Branagh.

“O dom da compreensã­o pode deixar a vida insuportáv­el e meu detetive descobre que existe uma grande área cinza entre o certo e o errado. Tentei encontrar esse equilíbrio mais humano”, explica.

O filme, claro, continua sendo um suspense a bordo de um trem na década de 1930. Poirot (Branagh) embarca de última hora e recebe uma proposta de um estranho executivo (Johnny Depp), que pede proteção em troca de dinheiro. O detetive recusa e o sujeito aparece morto na cabine durante a noite.

Entre os suspeitos, personagen­s vividos por um elen-

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Fotos Divulgação

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