Com elenco estelar, produção ficaria melhor como minissérie
co estelar: Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley, Judi Dench, Josh Gad, Penélope Cruz e Willem Dafoe. “Adoro filmes como ‘Inferno na Torre’, que são eventos com grandes nomes”, afirma o diretor.
Para encaixar astros com agendas complicadíssimas, Branagh planejou meticulosamente as filmagens em Londres, capturando o elenco de maneira separada ao longo de dois meses e reunindo todos apenas por dez dias.
“Fiquei impressionado com Daisy, que está no meio de um furacão [“Star Wars”] e é muito humilde. Cruz está sempre preocupada com sua atuação. Michelle entra em cena e vira o foco. E Depp é repleto de recursos e sua confiança na frente da câmera é total.”
A estratégia deu certo. O longa custou US$ 55 milhões e está beirando a marca dos US$ 200 milhões no mundo. A Fox já confirmou “Morte no Nilo” como a sequência (ainda sem data) e Branagh deve retornar como diretor e ator.
“Nunca presumo que terei um filme seguinte para fazer”, diz o shakespeariano, novo dono da obra de Agatha Christie nos cinemas. “São meus dois amores. Christie me fez sentir que Shakespeare poderia ser popular quando bem feito. Esse é meu presente em troca.”
Um dos mais esquemáticos romances de mistério da escritora inglesa Agatha Christie (1890-1976), “Assassinato no Expresso do Oriente” parece um jogo. Em um trem parado no meio de uma nevasca, um homem é morto e praticamente todos a bordo são suspeitos. Fazer um filme a partir dele é basicamente criar uma embalagem atraente para expor as pistas e deixar o espectador exercitar sua veia detetivesca.
O filme dirigido por Kenneth Branagh é belíssimo, embora exagerado no uso de computadores para criar a Istambul de 1934 (de onde parte o trem) e as paisagens geladas das montanhas croatas, onde uma avalanche interrompe a viagem. Dentro dos vagões há um desfile luxuoso de acomodações e comida requintada à disposição de atores famosos e atraentes.
O problema é justamente como administrar tantos per- sonagens em apenas duas horas de sessão. Essa adaptação enfrenta o mesmo problema da versão cinematográfica de 1974: ao lidar com essa lista de suspeitos, tem pressa de perfilar cada um e todos ficam superficiais, sem conteúdo. Aí, nessa urgência, estrelas charmosas não têm como mostrar muita coisa além de seu charme.
Há espaço apenas para o próprio Branagh, que constrói em detalhes minuciosos a personalidade irritante do detetive belga Hercule Poirot, herói de boa parte dos romances da escritora, e Johnny Depp, asqueroso no papel de Edward Ratchett, falsificador de obras de arte que é a vítima do assassinato.
Poirot, que tomou o trem de última hora, tenta descobrir quem deu inúmeras facadas em Ratchett e passa a interrogar os passageiros. Os intérpretes são de gerações diversas, incluindo Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Willem Dafoe, Penélope Cruz e Daisy Ridley (a Rey da última trilogia “Star Wars”).
A produção repete assim o mesmo recurso do fime de 1974, que tinha Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Jacqueline Bisset e Albert Finney, este numa versão bem mais sisuda de Poirot do que a de Branagh.
Quem viu o filme antigo ou leu o livro já sabe como a trama vai terminar. E o trecho final ficará muito enfadonho para essa parte da plateia.
Assim como os interrogatórios de Poirot, suas considerações que expõem o caminho até a solução do mistério são rasas, numa narrativa apressada que pode até deixar algum espectador sem entender direito os eventos que precederam a viagem.
“Assassinato no Expresso do Oriente” renderia mais como minissérie, com tempo suficiente para envolver o público. Espremido, é apenas um quebra-cabeças mediano em embalagem de luxo. (MURDER ON THE ORIENT EXPRESS) DIREÇÃO Kenneth Branagh ELENCO Kenneth Branagh, Michelle Pfeiffer, Johnny Depp e Judi Dench PRODUÇÃO EUA, 2017, 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (30) AVALIAÇÃO bom