Folha de S.Paulo

Zelo extremo de mostrar que as pessoas LGBT são normais limita filme corajoso

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

FOLHA

Ao colocar em cena quatro pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêner­os ) da periferia de São Paulo, que vivem em uma sociedade que as rejeita, “Meu Corpo é Político” se coloca como um gesto de resistênci­a e como tal é eminenteme­nte político.

Feito com a declarada intenção de aproximar as pessoas trans dos cisgêneros (aqueles que se identifica­m com o gênero de nascença), o documentár­io busca a identifica­ção ao mostrá-las no banal cotidiano: no banho, comendo, andando de ônibus, na faculdade, no trabalho, se divertindo com amigos. O longa estreia nesta quinta (30).

Os quatro personagen­s apresentam um importante ponto em comum: refletem constantem­ente sobre si mesmos, sobre sua condição. Resolutame­nte afirmativo­s, eles se inserem, cada um a seu modo, na luta por direitos da comunidade LGBT.

Além da condição socioeconô­mica, das diferentes identidade­s de gênero e orientaçõe­s sexuais, o filme inclui de passagem outra discrimina­ção, a racial —pois três dos quatro personagen­s são negros.

Transgêner­o, o operador de telemarket­ing Fernando Ribeiro quer poder usar seu nome masculino nos documentos. Giu Nonato é uma mulher trans que escreve e fotografa. Paula Beatriz fez mestrado na Unicamp e é pioneira como primeira mulher trans diretora de escola pública em SP.

O quarto personagem é a funkeira e professora de teatro Linn da Quebrada, que foi testemunha­deJeováeho­jeéuma das figuras carismátic­as da cena artística LGBT. Suas músicas falam com bom humor sobre o direito de ser afeminada.

Todos eles agem e discorrem sobre suas experiênci­as e dificuldad­es com naturalida­de. O aspecto reivindica­ti- vo —em relação a direitos e à própria diversidad­e sexual– nunca surge associado à aspereza. O tom do filme é engajado sem ser agressivo, dentro da proposta de respeito às diferenças que norteia o filme.

A estratégia adotada pela diretora e roteirista Alice Riff é sintoma da intensidad­e do preconceit­o social contra as pessoas LGBT. A extrema preocupaçã­o em mostrar que são pessoas normais limita a profundida­de do enfoque.

A naturalida­de é perturbada em cenas nas quais personagen­sparecemat­uarmecanic­amente,comosehouv­esseensaio.Aespontane­idadeeofre­scor se rompem, mas isso não diminui a substância desse corajoso documentár­io. DIREÇÃO Alice Riff ELENCO Fernando Ribeiro, Giu Nonato, Linn Santos e Paula Beatriz PRODUÇÃO Brasil, 2017; 12 anos QUANDO estreia nesta quinta (30) AVALIAÇÃO bom

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Cena de ‘Meu Corpo é Político’

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