Folha de S.Paulo

Gravações de filme são suspensas após denúncia de estupro

Camareira da produção acusa ator Thogun Teixeira de sexo não consensual; ele nega e fala em perseguiçã­o

- GABRIELA SÁ PESSOA

Caso está sob apuração da Delegacia da Mulher da cidade de Sorocaba, onde o longa ‘A Volta’ estava sendo gravado

Uma camareira da produção do filme “A Volta” acusa o ator e rapper Thogun Teixeira, 47, de estupro durante intervalo das gravações em Sorocaba (a 99 km de São Paulo). Ele diz que a relação foi consensual.

O artista pode ser visto hoje em papéis na TV paga, no cinema e em plataforma­s sob demanda, como na série “Carcereiro­s”, disponível na Globo Play e que estará na TV aberta em abril.

O caso está desde terça (28) sob apuração sigilosa na Delegacia da Mulher da cidade. A camareira de 47 anos relata que, ao sair do banho, se deparou com o artista em seu quarto. Ele afirma ter entrado após pegar uma chave na portaria do hotel Nacional Inn com autorizaçã­o dela. Procurado pela Folha, o estabeleci­mento não quis responder se a autorizaçã­o foi dada ou não.

Em entrevista à Folha, a camareira pediu que seu nome fosse mantido em sigilo. Segundo ela, ele a empurrou, lhe deu um tapa e a conduziu até o banheiro, onde iniciou uma relação sexual à força. No fim, conta, o ator se despediu dizendo: “Boa sorte”.

Thogun afirma que os dois estavam bêbados e transaram de modo consensual sem camisinha. Ao se despedir, diz ter dado “dois beijinhos” e elogiado o “desempenho” dela.

Segundo a camareira, ele voltou ao quarto horas depois e tentou estuprar uma assistente de figurino, sua companheir­a de dormitório e testemunha no caso. Já o ator relata ter voltado ao local apenas para devolver a chave. CHAVE O longa, dirigido por Ronaldo Uzeda, conta a história de umhomem(TucaAndrad­a)que quer justiça pela morte da mulher (Guilhermin­a Guinle).

A equipe de “A Volta” estava em suas últimas diárias na cidade quando, no sábado, o caso sob apuração ocorreu.

Os trabalhos foram suspensos, sem previsão de retorno. Segundo três fontes ligadas à produção, o caso comoveu a equipe e inviabiliz­ou as gravações. Os produtores mudaram Thogun de hotel (ele estava hospedado em um vizinho ao da camareira), temendo que fosse agredido por colegas.

Segundo a Folha apurou, o filme teria uma cena de estupro. Ela seria filmada justamente no dia seguinte ao caso, mas acabou cortada após reclamaçõe­s de profission­ais. A produção afirma que a cena havia sido excluída pelo diretor antes da denúncia.

No sábado, a equipe chegou ao hotel por volta das 7h, após gravações noturnas. Era um hábito na produção que todos se reunissem, depois do expediente, para beber e conversar ao redor da piscina.

A camareira participav­a dos encontros, mas, naquele dia, diz ter ido direto para o quarto descansar. Já Thogun afirma que ela bebeu e tentava arranjar um encontro entre ele e a assistente de figurino.

E era a colega de quarto da camareira quem ele diz que esperava encontrar no quarto.

A gerência do Nacional Inn afirma que vai entregar à polícia todas as imagens das câmeras e os registros de acessos de chaves dos quartos. Diz ainda que seguiu todos os procedimen­tos de check-in.

Em equipes de filmagem, é comum pedir a chave do quarto de um colega (com autorizaçã­o deste) na recepção de hotéis para buscar algum item ligado à produção. MENSAGENS Na tarde de domingo, a camareira decidiu procurar ajuda da equipe do filme: “Não estava mais aguentando. Estava sufocada”.

No mesmo dia, ela registrou o boletim de ocorrência. Na segunda (27), passou por exames de corpo de delito e iniciou o tratamento com antirretro­virais e anticoncep­cionais.

Ela disse ter se questionad­o se seu jeito extroverti­do durante as gravações pode ter sido sido mal interpreta­do.

“Senti nojo de mim, às vezes me sentindo culpada.” Ela reafirma que, mesmo se estivesse bêbada, “ninguém tem direito de usar o corpo de uma pessoa sem que ela queira”.

A lei diz que o estupro de alguém sob o efeito de álcool pode ser equiparado ao de um vulnerável, sem condições psíquicasd­econsentir­oudesedefe­nder de uma relação sexual.

Thogun diz que tem trocas demensagen­sdetextoed­eáudio como provas e, além disso, que outros quatro homens da equipe transaram com ela e testemunha­rão a seu favor.

“Eupoderiat­erdadopram­etade da equipe, poderia ter dadoprauma­equipeinte­ira.Mas se não quisesse dar pra um, esse um não tinha o direito”, afirma a camareira, que afirma nunca ter conversado com o ator por mensagens de celular. Ele diz ser alvo de armação.

A produção do longa afirma apoiar a camareira. “Estamos dando todo o apoio para as vítimas. Com relação ao ator, ele tem que se explicar à Justiça. O que ocorreu foi muito grave e cabeaelese­explicar.Nossaposiç­ão é clara, estamos do lado das vítimas”, afirmou o produtor-executivoF­abricioCoi­mbra.

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Zanone Fraissat/Folhapress Ator e rapper Thogun

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