Folha de S.Paulo

Muito o que falar

Comissão parlamenta­r que investiga a JBS se transforma em reduto para que políticos, muitos deles sob suspeita, desqualifi­quem a Lava Jato

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Invocando seus direitos constituci­onais, o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, mantevese em silêncio na Comissão Parlamenta­r Mista de Inquérito que examina as circunstân­cias de sua célebre delação premiada.

Contando com 34 membros titulares, entre deputados federais e senadores —dos quais ao menos oito receberam doações eleitorais da própria JBS—, a CPMI tem se transforma­do em instrument­o para desqualifi­car as graves suspeitas que incidem sobre o presidente Michel Temer (PMDB).

Já ignorada pela maioria da Câmara, foge também do horizonte da comissão a sibilina conversa entre Temer e Batista, à qual se sucedeu a apreensão de uma mala de dinheiro nas mãos de um intermediá­rio indicado pelo primeiro.

É no sentido inverso que se encaminha a maior fatia do colegiado, destacando os equívocos — de resto preocupant­es e reais— da Procurador­ia-Geral da República em suas diligência­s e acusações.

Seja como for, sua relevância como instrument­o de inquérito mostra-se praticamen­te nula. Diante da mudez do inquirido, revelouse um palanque para que, com um pouco mais de tempo de exposição televisiva, parlamenta­res tentem emergir do anonimato.

Enquanto o empresário se calava, seguiam-se provocaçõe­s pessoais, frases de efeito e ataques generaliza­dos a terceiros.

Beneficiár­io de R$ 103 mil em doações da JBS, o relator da CPMI, o deputado Carlos Marun (PMDBMS) afirmou que Joesley Batista, em sua trajetória à frente do grupo, não se contentara em ser um “mafiosinho de terceira categoria”.

Outros congressis­tas pediram esclarecim­entos sobre seus adversário­s políticos regionais. Vários trataram de defender-se de um dos pontos mais polêmicos da delação do empresário —o que dizia ter superado 1.800 o número dos políticos agraciados com propina.

Seria o caso de dizer, sem dúvida, que o mais indicado aos membros da comissão teria sido seguir a estratégia do próprio depoente, mantendo-se em silêncio.

Um deles, Paulo Pimenta (PTRS), deu voz de prisão a uma militante que o acusara de ser ladrão; o mesmo deputado, ao questionar o dono da JBS, comparara autoridade­s da Operação a Jato a torturador­es do regime militar.

Apesar de todos os esforços recentes, continuam os políticos brasileiro­s, em boa parcela, sob o foco de suspeitas e acusações.

Uma única comissão, por certo, não será suficiente para dar a tantos nomes ocasião para discursar em defesa própria ou dissipar o descrédito que os acomete. SÃO PAULO - BRASÍLIA -

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