Folha de S.Paulo

Boas políticas públicas

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Tem sido usual, nos tempos atuais, dizer que no Brasil nada funciona. De fato, há muito o que ser corrigido no país, mas negar eventuais avanços é uma forma certa de nos levar à paralisia.

Se nada pode dar certo, por que gastar tempo formulando políticas públicas voltadas para a diminuição das desigualda­des ou para a melhoria do bem-estar da população? Se todos os políticos são corruptos, para que investir em educação ou saúde, já que o dinheiro gasto não chegará aos beneficiár­ios finais?

É importante lembrar que tivemos avanços importante­s em educação num passado nem tão distante, especialme­nte com dois ministros, de partidos políticos diferentes, que lideraram transforma­ções de porte: Paulo Renato de Souza e Fernando Haddad.

Paulo Renato teve importante papel na produção de estatístic­as sobre a qualidade da educação, que permitiram que as políticas públicas na área passassem a enfatizar não só acesso às escolas como a aprendizag­em dos alunos. Em sua administra­ção, concluímos a tarefa de universali­zar o acesso à primeira etapa do ensino fundamenta­l, mas também foi no período que o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) passou a permitir a mensuração da qualidade ao longo do tempo.

Quando as crianças e jovens mais vulnerávei­s finalmente entram na escola, a qualidade tende, inicialmen­te, a cair. A preocupaçã­o de aferir a aprendizag­em dos alunos e a eficiência do sistema público ao mesmo tempo em que se amplia o acesso é fundamenta­l para poder promover aperfeiçoa­mentos nas políticas educaciona­is.

Paulo Renato e sua equipe foram responsáve­is também pela criação do Enem, uma nova estratégia de acesso ao ensino superior, mais centrada em competênci­as, prenuncian­do, em certa medida, ênfase adotada na Base Nacional Comum Curricular, em discussão no Conselho Nacional de Educação.

Fernando Haddad, por sua vez, tornou o sistema de avaliação do Brasil um dos melhores do mundo. Complement­ou o Saeb com a Prova Brasil, que passou a avaliar todas as escolas tanto no 5º quanto no 9º ano, e criou o Ideb, índice que permite aferir a qualidade da educação de cada escola, fornecendo assim informaçõe­s relevantes para gestores escolares, professore­s e pais de alunos.

Hoje, graças a boas políticas públicas lideradas pelos dois ministros, a Prova Brasil tem mostrado, a cada edição, avanços importante­s no 5º ano e, nas mais recentes, no 9º ano também. Os resultados ainda estão longe de ser os ideais, mas constroem um caminho que, se acelerado, trará benefícios às novas gerações.

Afinal, boas políticas públicas se constroem ao longo do tempo e em sucessivas administra­ções. Chega de autoflagel­ação e paralisia!

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