Folha de S.Paulo

Seu ilustre representa­nte

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RIO DE JANEIRO - O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsáve­l pelo enjaulamen­to de Sérgio Cabral, descreveu outro dia a diferença entre a condenação de um político corrupto e de um empresário idem. “Os políticos corruptos são parasitas, não têm vida própria”, disse. “Um empresário [...] consegue se reerguer. Mas o político sem poder morre de fome”.

Imagino que o juiz tenha se referido à maior ou menor capacidade desses elementos de, cumpridas suas condenaçõe­s, retomar uma vida profission­al fora do crime e da política. Marcelo Odebrecht, por exemplo, formou-se em engenharia civil e deve saber tudo de construção pesada, indústria petroquími­ca e engenharia ambiental. Mas meteu-se em sinistros projetos governamen­tais, com o dinheiro da Petrobras e do BNDES, e a Lava Jato o pegou. Fora das grades, no entanto, Odebrecht talvez consiga limpar seu nome e o de sua empresa.

Já os membros dos nossos Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia­s Legislativ­as, em grossa maioria, só se sustentam porque, depois de uma eleição paroquial que lhes conferiu um mandato de vereador ou coisa assim, promoveram-se a federais e se colocaram em posição de encaminhar projetos de poderosos das várias áreas, por um dinheiro nunca sequer sonhado. Falando português claro, sua função na política é esta: lesar, digo, usar o país em proveito próprio.

Como passam três dias em Brasília e os demais em seus grotões, nunca se livraram da craca provincian­a. Há pouco, um deles confundiu a proclamaçã­o da República com o grito da Independên­cia; outro chamou Bertold Brecht de Bertoldo Brecha —e não os veja como exceções. Muitos mal sabem ler. Mas são bons de negociatas e protegidos pelo foro privilegia­do.

Bretas tem razão. Tire o poder de um desses gajos e descubra quem você elegeu para representá-lo. CLAUDIA COSTIN

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