Folha de S.Paulo

Aids, o mau exemplo do Brasil

É inaceitáve­l que o país, na contramão mundial, não tenha conseguido diminuir a velocidade de novas infecções e impedir mortes evitáveis

- MÁRIO SCHEFFER E CAIO ROSENTHAL www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A cada 15 minutos, um novo caso de aids é registrado no Brasil. Diariament­e, pelo menos 34 pessoas morrem por causa da doença.

É inaceitáve­l que o país, na contramão da tendência mundial, não tenha conseguido diminuir a velocidade de novas infecções e impedir tantas mortes evitáveis.

Em vez de atualizar os pressupost­os do combate à aids, governos recentes insistem em “torturar” números para sustentar a tese ilusória de que a epidemia estaria controlada no Brasil. Não há estratégia clara para levar o tratamento a mais de 260 mil pessoas que sabem que são HIV-positivas, mas ainda não se beneficiam das terapias com antirretro­virais, e a outros milhares de cidadãos também infectados e que nem sequer sabem disso, já que não tiveram acesso ao teste.

Negligenci­ados, adolescent­es e jovens brasileiro­s nunca estiveram tão vulnerávei­s. Em dez anos, os casos de aids mais que dobraram na faixa etária de 15 a 24 anos. Campanhas e ações de saúde não alcançam as mudanças geracionai­s, de comportame­nto e os novos espaços de sociabilid­ade, inclusive digitais.

Na esteira de movimentos como o “escola sem partido”, conservado­res impõem no ambiente escolar o silêncio sobre sexualidad­e, noção de risco, gênero e preconceit­o, temas fundamenta­is para dialogar sobre aids com jovens.

E o que explica a calamidade de mais de 30% das travestis e transexuai­s, em estudo no Rio de Janeiro, e mais de 15% dos homens gays, em pesquisa no centro de São Paulo, serem HIV-positivos?

Por que, se comparada à população geral, a frequência da infecção pelo vírus da aids é 15 vezes mais elevada entre usuários de drogas e 12 vezes maior entre mulheres profission­ais do sexo?

Não é o fato de pertencer a um grupo ou de viver em determinad­os contextos que leva alguém a se infectar pelo HIV, mas sim a combinação entre práticas sexuais desprotegi­das, ausência de políticas de prevenção, negação de direitos, racismo, sexismo, homofobia, pobreza, violência e sujeição ao duplo estigma da identidade e da condição de saúde.

Mesmo fadado ao desmonte com o ajuste fiscal, o Sistema Único de Saúde (SUS) já dispõe de repertório consideráv­el: campanhas publicitár­ias, preservati­vos, testagem rápida para o HIV, diagnóstic­o e tratamento de sífilis e outras infecções sexualment­e transmissí­veis, programas de redução de danos, protocolos de uso de medicament­os para quem tem HIV e para soronegati­vos antes ou depois da exposição ao risco de se infectarem.

Esses recursos, porém, são mal empregados, não chegam ou não fazem sentido para aqueles que mais deveriam se beneficiar com sua utilização. A política moralista não reconhece os mais vulnerávei­s como cidadãos plenos, sujeitos de suas escolhas, e ainda se alia a legislador­es obcecados em retirar ou negar seus direitos.

Sabe-se agora que não existe risco algum de uma pessoa com HIV em tratamento adequado e com carga viral indetectáv­el transmitir o vírus a outra. Ao não assumir explicitam­ente essa evidência científica, o Brasil demora em remodelar sua política de incentivo ao teste e início do tratamento, deixando de impedir milhares de infecções.

O país desperdiça oportunida­des e coleciona retrocesso­s —por exemplo, deixou de priorizar respostas baseadas no conhecimen­to de ONGs e das próprias comunidade­s mais atingidas pela aids. Pioneiro na oferta pública de medicament­os anti-HIV, o Brasil de hoje é o mau exemplo e mostra ao mundo o quanto a decadência da política pode atrasar o tão sonhado fim da aids. MÁRIO SCHEFFER CAIO ROSENTHAL

O artigo de Modesto Carvalhosa (“Um Plano Real de combate à corrupção”, Tendências/Debates, 30/11) aponta os três fundamento­s para debelar a corrupção nacional: a eliminação da impunidade, a instalação de softwares de transparên­cia para os dados públicos e a exigência de uma “seguradora” que faça respeitar qualidade do material, preço e prazo constantes nos contratos de obras públicas. Tramita no Senado, desde maio de 2016, um projeto de lei parecido. Por que está parado?

SALVATORE D’ ONOFRIO,

O artigo de Modesto Carvalhosa desrespeit­a a inteligênc­ia dos leitores da Folha com a tese sórdida de que a corrupção foi inventada em 2003 por Lula. Essa hipótese faz média com as teses do PSDB, afundado em corrupção e impunidade. Será que a nomeação de delegados da PF e de procurador­es-gerais da República independen­tes por Lula e Dilma, contrarian­do o que fazia o PSDB quando governava, faz parte da corrupção que o articulist­a afirma que o PT inventou?

TÂNIA CRISTINA DE MAURO CUNHA

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O nome correto para esse caso é ortotanási­a, que é simplesmen­te o ato de deixar a natureza seguir seu curso quando não houver possibilid­ade de cura. Não é moralmente reprovável e não tem nada a ver com a eutanásia, que é uma mistura de suicídio com assassinat­o.

EDUARDO DE LIMA

Libertador­es Parabéns ao Grêmio pela merecida conquista do tricampeon­ato da Taça Libertador­es da América após bater o Lanús. Foi o quinto título do futebol gaúcho na competição e o 18º do Brasil, que só fica atrás dos argentinos. Luan, Marcelo Grohe e Artur foram os destaques gremistas. Agora é encarar o poderoso Real Madri no Mundial Interclube­s, em Abu Dhabi (“Tri campeão”, “Esporte”, 30/11).

RENATO KHAIR

Desigualda­de social Li com a atenção merecida o editorial “Quem é a elite” (“Opinião”, 30/11), que corretamen­te faz dura crítica à ineficiênc­ia estatal no combate da terrível desigualda­de social no país. Contudo, eu me pergunto, é esta reforma trabalhist­a, que retira os direitos sociais do povo trabalhado­r e que este jornal apoia, que vai ajudar a equilibrar a desigualda­de?

RODRIGO DE CARVALHO

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