Folha de S.Paulo

Polêmica sobre recibos adia sentença de Lula para 2018

Ação sobre Instituto Lula com Moro também tem perícias pendentes

- FELIPE BÄCHTOLD

Suspeito de ser laranja será novamente ouvido em dezembro; defesa de petista pleiteia acesso a sistemas da Odebrecht

Perícias e questionam­entos vão adiar para 2018 a segunda sentença do juiz Sergio Moro sobre o ex-presidente Lula na Lava Jato.

O trâmite da ação penal em que o petista é acusado de receber propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno para o Instituto Lula atrasou com uma discussão sobre a autenticid­ade de recibos de aluguel apresentad­os pela defesa e com pedidos de análise de materiais da delação da empreiteir­a.

Lula foi ouvido por Moro nesse processo no dia 13 de setembro. A fase de audiências com os réus foi finalizada uma semana depois. Em outros casos da Lava Jato, após o fim dessa etapa, o juiz costuma já fixar um prazo para a apresentaç­ão das alegações finais das partes —último passo antes da sentença.

No caso do tríplex de Guarujá (SP), a sentença de Moro, que condenou Lula a 9,5 anos de prisão em julho, saiu dois meses após o depoimento do petista à Justiça.

A ação sobre o Instituto Lula inclui a acusação de que o ex-presidente usou dinheiro de propina da Odebrecht para comprar o apartament­o vizinho ao que mora, em São Bernardo do Campo (SP). Para o Ministério Público, o imóvel foi adquirido por um laranja, Glaucos da Costamarqu­es, que mais adiante não cobrou aluguel do ex-presidente pelo uso da unidade. O suposto laranja disse que só passou a receber pela locação em 2015.

Após ser cobrado publicamen­te por Moro em setembro, Lula apresentou um conjunto de recibos de locação assinados por Costamarqu­es.

O Ministério Público, porém, levantou suspeitas sobre essa prova e abriu um procedimen­to paralelo à ação penal, chamado de incidente de falsidade criminal.

O trâmite desse caso paralelo afeta também a ação penal principal. Uma nova audiência de Moro com Costamarqu­es e com um contador para tratar da suspeita de falsificaç­ão foi marcada apenas para 15 de dezembro.

Além disso, a defesa de Lula insistiu no acesso a sistemas eletrônico­s de pagamentos ilegais da Odebrecht que foram encaminhad­os pela empresa em sua delação.

Moro disse que seria inviável tecnicamen­te fornecer cópias dos dois sistemas, mas concordou em autorizar perícias em arquivos que possam ter relação com a ação penal. Os resultados dessas análises ainda não constam como anexados ao processo.

Além disso, o juiz federal pediu ao Supremo Tribunal Federal que partes da delação da Odebrecht fossem juntadas aos autos, mas ainda não houve resposta.

A ação foi aberta em dezembro de 2016 e teve uma longa fase de audiências, com mais de 60 depoimento­s de testemunha­s de defesa até julho. Em 20 de dezembro, os prazos processuai­s serão suspensos por um mês, com o recesso do Judiciário.

Uma eventual sentença no início de 2018 sairia já no começo da mobilizaçã­o da campanha eleitoral, que começa oficialmen­te em agosto. Na prática, porém, o julgamento da ação do tríplex no Tribunal Regional Federal (a se- gunda instância da Justiça Federal) deve ter consequênc­ias maiores sobre a eleição.

Ainda que seja condenado à prisão na ação, Lula pode recorrer em liberdade, caso o juiz mantenha o mesmo entendimen­to que adotou no primeiro processo.

Já no julgamento do caso tríplex na segunda instância, Lula perderá seus direitos políticos caso a condenação seja confirmada pelos juízes da corte. A Lei da Ficha Limpa barra candidatur­as de políticos condenados por um grupo de magistrado­s.

Pelo ritmo de julgamento­s do tribunal regional, o caso tríplex deve ser decidido no primeiro semestre de 2018.

A procurador­a Isabel Groba Vieira, da força-tarefa da Lava Jato, diz que o julgamento da ação do instituto levará em conta a questão dos recibos. Disse ainda que o juízo zela “pelo direito de defesa” e pelo devido processo legal e que ele poderá determinar diligência­s adicionais no caso.

Para ela, “há fartas provas de que não existia locação” do apartament­o e os recibos não tinham sido encontrado­s em buscas feitas em endereços do ex-presidente, em 2016.

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