Folha de S.Paulo

Indústria teme alta do juro já em 2018 se não houver reforma

Receio é que, sem Previdênci­a, custo de crédito do BNDES suba, pois nova taxa passará a ter referência de mercado

- MARIANA CARNEIRO

Nas últimas semanas, juros de longo prazo já aumentaram em razão das dúvidas sobre a aprovação da reforma

Industriai­s estão preocupado­s com os possíveis efeitos do desajuste das contas públicas, em razão, principalm­ente, da não aprovação da reforma da Previdênci­a e o consequent­e descumprim­ento do teto de gastos.

A CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria) fez uma estimativa do que significar­ia o impacto de turbulênci­as no mercado financeiro sobre o custo do financiame­nto para as empresas.

Segundo a CNI, o efeito prático viria já em 2018, por causa da pressão sobre os custos de empréstimo­s do BNDES, com a entrada em vigor, em janeiro, da TLP (taxa de juros de longo prazo).

Vinculada aos títulos públicos NTN-B, compostos por uma taxa de juros prefixada mais inflação, a TLP será o novo referencia­l para os empréstimo­s do banco estatal. A transição será gradual e terminará em 2022.

Se a reforma for aprovada, mantendo as perspectiv­as otimistas dos analistas do mercado, a taxa média de um empréstimo de cinco anos do BNDES seria de 8,8% ao ano.

O cálculo adota a projeção central dos analistas para a inflação entre 2019 e 2022 (4,25% no primeiro ano e 4% ao longo do período).

Considera ainda, como exercício, que a TLP já estaria completame­nte alinhada à NTN-B desde o início de sua vigência, ou seja, sem transição. CENÁRIO PIOR Numa situação mais pessimista, com a inflação no limite da meta da inflação entre 2019 e 2022 (5,75% no primeiro ano e 5,5% nos seguintes), a taxa para o empresário subiria para 11,9% ao ano.

Com a atual TJLP (taxa de juros de longo prazo), esse custo seria de 7% ao ano.

“A TLP só funciona com o Estado em equilíbrio”, afirma o gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

“Temos que garantir esse cenário favorável. Mas ele não se materializ­a por vontade, mas por esforços, principalm­ente no campo fiscal.”

Segundo Castelo Branco, um aumento acelerado do custo do financiame­nto ao investimen­to retira as condições para a volta do cresciment­o econômico do país.

Nas últimas semanas, com o aumento das incertezas sobre a capacidade do governo em aprovar a reforma da Previdênci­a, as taxas de juros de longo prazo nos títulos do governo começaram a subir, um indicativo de que pode haver uma piora adicional caso a principal medida do ajuste fiscal não prospere.

Castelo Branco observa, porém, que a solução não é voltar atrás e reverter a criação da TLP. Isso porque a mudança na taxa do BNDES também foi motivada pela necessidad­e de redução dos subsídios com recursos públicos para bancar juros mais baixos ao setor privado.

“A saída da recessão não será suficiente para resolver o problema fiscal”, diz.

O economista observa ainda que o ajuste não se resume à reforma da Previdênci­a e contempla ainda medidas para contenção de gastos com o funcionali­smo.

“A reforma da Previdênci­a pode ficar para 2019, essa é uma leitura, mas isso pode levar a tensões nos mercados e forçar uma taxa de juros mais alta do que supomos como favorável”, afirma.

Proposta original sofreu diversas mudanças na tentativa de obter apoio

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