Folha de S.Paulo

Dúvida sobre aprovação volta a afetar mercado

- DANIELLE BRANT

A ficha do mercado caiu. Depois de meses de otimismo com a articulaçã­o do governo para tentar aprovar a reforma da Previdênci­a, os últimos dois dias marcaram uma reversão desse ânimo e Bolsa, dólar e juros futuros passaram a precificar a chance de as mudanças ficarem para o próximo governo.

A Bolsa caiu 1% nesta quinta (30), depois de recuar 2% na quarta (29). Com isso, fechou novembro no vermelho, com desvaloriz­ação de 3,15%, após sequência de cinco altas mensais.

No mercado cambial, o dólar comercial subiu 0,95%, para R$ 3,27. E os contratos de juros futuros mais longos, com vencimento a partir de 2020, tiveram aumento nas taxas —janeiro de 2029 voltou à casa dos 11%.

A piora do humor ocorreu após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizer que o governo não tem votos para passar a reforma. A ideia inicial era votar a proposta na quarta (6), mas agora já se trabalha com a data de 13 de dezembro, perto das férias parlamenta­res.

Foi o segundo balde de água fria em dois dias. Na quarta, o PSDB começou a desembarca­r do governo e indicou que não puniria os deputados do partido que votassem contra a reforma. Os tucanos também começaram a fazer novas exigências para aprovar as mudanças.

“Caiu a ficha no mercado de que não vai ser feita reforma. Se [os deputados] não votarem neste ano, dificilmen­te vão votar no ano que vem. Isso está sendo incorporad­o ao preço dos ativos”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimen­tos. “Mesmo que passasse, ia ser uma reforma muito tímida. Ia jogar no colo do próximo presidente pressões muito fortes”, afirma.

Para Ignacio Crespo, economista da Guide Investimen­tos, a definição da data pode ter sido um “tiro no pé” do governo. “Fica difícil de votar na semana que vem quando o governo não tem base sólida para reunir os votos necessário­s”, avalia.

A frustração dos investidor­es deve continuar até haver uma definição mais clara da viabilidad­e da aprovação da proposta do governo, avalia Mário Roberto Mariante, analista-chefe da Planner. “Começamos o mês falando em reforma, todos os dias o assunto era recorrente, e no dia 30 não aconteceu nada. Se não acontecer nada na semana que vem, em 2018 é que não se vota mesmo”, diz.

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