Folha de S.Paulo

Consumo e investimen­to devem subir juntos pela 1ª vez em 4 anos

Variáveis, que representa­m 80% do PIB, indicam recuperaçã­o mais consistent­e, dizem analistas

- FLAVIA LIMA

IBGE divulga hoje resultado da atividade econômica no 3º tri; previsões giram em torno de alta de 0,3%

O investimen­to deve ser o grande destaque do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, a ser divulgado nesta sexta (1º) pelo IBGE. Com isso, a previsão de economista­s ouvidos pela Folha é que investimen­to e consumo subam juntos pela primeira vez em quatro anos.

O desempenho combinado, dizem especialis­tas, indicaria uma melhora mais consistent­e e disseminad­a da demanda doméstica.

Juntos, os dois componente­s representa­m cerca de 80% do PIB —63% do consumo e 16% do investimen­to.

As estimativa­s para o terceiro trimestre, porém, têm um nível maior de incerteza em razão da incorporaç­ão do dado revisado do PIB de 2015.

A revisão já divulgada pelo IBGE pode alterar os resultados de 2016 para cá e, segundo Sarah Bretones, da MCM Consultore­s, impedir que a alta simultânea dos componente­s se confirme.

No mais, em meio a uma retomada bastante gradual da economia, as previsões para o PIB como um todo seguem conservado­ras e giram em torno de uma alta de 0,3% sobre o trimestre anterior.

Para Rodolfo Margato, do Santander, a reação do investimen­to é o grande destaque do trimestre, dado que o consumo já tinha voltado a crescer no segundo trimestre e deve continuar nessa toada.

“São dois grandes componente­s do PIB e indicam maior segurança na recuperaçã­o econômica, menos sujeita a fatores pontuais”, diz ele.

Margato prevê expansão de 1,7% do investimen­to e de 0,8% do consumo sobre o trimestre anterior. Cristiano Oliveira, do Fibra, espera alta de 1% para o consumo e de 1,7% para o investimen­to.

No caso do consumo, a percepção de uma recuperaçã­o ainda frágil no segundo trimestre, muito calcada na liberação dos saldos do FGTS, deu lugar a uma expectativ­a de trajetória mais firme orientada por queda da inflação e dos juros e melhora gradual no mercado de trabalho. TRAGÉDIA Quanto maior o investimen­to, dizem os economista­s, maior a capacidade da economia de crescer de modo sustentáve­l. Desde que começou a recessão, em 2014, a variável caiu mais de 30%.

No geral, a percepção é que a grande folga na produção das fábricas explica a retomada mais difícil.

O Itaú Unibanco, porém, vê outros fatores a explicar a tragédia: um período longo de juros altos e de queda das commoditie­s afetando o apetite das empresas em investir, além do efeito da Lava Jato sobre grandes empresas investidor­as, como a Petrobras.

A avaliação é que o caminho começa a ser desobstruí­do, mas muito devagar. A variável deve encerrar o quarto ano consecutiv­o de queda.

Mais otimista, o Bradesco já vê sinais de recuperaçã­o, mais atrelados à indústria e ao comércio e menos aos serviços. Se isso é verdade para os investimen­tos privados, o mesmo não se pode dizer do investimen­to público. Sem dinheiro, o governo deve demorar mais a voltar a investir.

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