‘Eu me senti como criança na selva de pedra’
Desempregado viajou de Londrina a SP em busca de vaga em programa de Doria e acabou parando na cracolândia
Darlei Belinelli Jr., 38, saiu a pé de Londrina (PR) rumo a São Paulo há cerca de dois meses para participar do programa de Doria; recuperado do vício, aguarda por uma vaga
industrial acumulada durante os dois anos em que viveu na Irlanda. Com cidadania italiana, Júnior espera se estabilizar novamente antes de voltar para a Europa. “Quem sabe daqui algum tempo consigo ir de férias para lá.” DIPLOMA As drogas também acabaram interferindo nos planos de Gilmour Ramos, 40. Há sete meses em São Paulo, partiu de Guararema, no interior paulista, de olho na chance de sair do desemprego devido à promessa de Doria.
Como morou durante dez anos nos EUA e tem diploma em letras, planejava dar continuidade às aulas de inglês que ministrava no interior.
Ele lembra que, no começo, chegou a dividir o aluguel com um amigo em Taipas, na zona norte, e dar algumas aulas do idioma, mas o vício em drogas o levou de vez para a cracolândia, poucas semanas depois.
“Lembro que estava no metrô indo dar aula quando pesquisei ‘cracolândia’ no celular. Vi que estava perto e resolvi ir até lá para dar uma olhada. Fui e não saí mais de lá por um tempo”, afirma.
Depois de gastar todo o dinheiro que tinha e trocar até a roupa e os tênis que usava por pedras de crack, Ramos decidiu que queria largar o vício. Foi acolhido em um dos contêineres instalados pela gestão Doria na região central para dar cama e refeições aos usuários de drogas.
Há cerca de três semanas ele conseguiu retomar a rota que havia traçado para si quando saiu de Guararema e se mudou para um abrigo na Barra Funda. Ele se prepara para passar pelo curso de capacitação do Trabalho Novo na próxima semana. ÔNIBUS A espera pelo estágio preparatório também faz parte dos dias do eletricista Valter dos Santos, 54, que partiu de Ponta Grossa (PR) para SP por causa do Trabalho Novo.
Sem emprego formal há quase três anos, encarou viagem de quatro dias em seis ônibus intermunicipais para economizar na passagem. No caminho, chegou a trocar serviços de eletricista por pratos de comida. Lembra que percorreu a maior parte do trajeto com apenas R$ 15 no bolso.
“[Quando cheguei a SP] uma assistente social disse que eu tinha o perfil do projeto do Doria e me encaminhou para um centro de acolhida”, diz ele, que tem feito consertos pela vizinhança do abrigo enquanto espera por uma vaga fixa de emprego.
Vindo há dois meses de Campinas, no interior de SP, o ajudante de pedreiro Rener da Silva Santos, 30, foi contratado para trabalhar em limpeza hospitalar por uma empresa participante do programa. Ele veio para a capital ao ser informado por uma amiga sobre as vagas da prefeitura.
“Com a crise, os bicos que eu fazia diminuíram”, lembra ele, que mora em um centro de acolhimento da zona leste. (MARIANA ZYLBERKAN)