Restrição à vacina da dengue é ‘cautela’, diz diretor da Anvisa
Agência recomendou esta semana que quem nunca teve a doença não seja imunizado, sob risco de desenvolver versão mais grave
O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Jarbas Barbosa, afirmou nesta quinta (30) que a nova advertência à vacina contra a dengue é “medida de cautela”, mas que novos testes ainda são necessários para uma conclusão definitiva sobre os riscos.
Na quarta (29), a agência emitiu nota em que recomenda que pessoas que nunca tiveram dengue não tomem a vacina da Sanofi Pasteur.
A medida ocorre após dados preliminares de estudos de acompanhamento de vacinados apontarem aumento do risco de pacientes soronegativos —quem nunca teve o vírus— desenvolverem formas mais severas da doença em caso de picada pelo mosquito Aedes aegypti infectado.
“É uma medida de cautela. Enquanto isso não se esclarece completamente, não podemos expor uma pessoa a ter um risco aumentado para dengue”, afirmou à Folha.
Segundo ele, diante da nova advertência, médicos devem avaliar com cuidado cada caso antes de prescrever a vacina, hoje disponível nas clínicas particulares.
E quanto a quem já tomou a primeira dose? De acordo com Barbosa, os dados não apontam aumento do risco nestes casos. “Quem tomou a vacina pode completar o esquema, porque não há diferença observada. Quem não teve dengue e se vacinou, se tiver dengue, deve comunicar o médico que o atendeu e informar que tomou a vacina. Mas não é motivo de alarme porque não há nenhum risco imediato a essa pessoa”, diz.
Questionado sobre a possibilidade de adotar novas medidas, como a suspensão do uso, Barbosa diz que ainda é cedo para definir outras ações. Ele lembra que os dados confirmaram a eficácia da vacina no caso de pessoas que já tinham tido contato com um dos sorotipos da dengue.
“Não podemos nos antecipar. Se comprovar que tem um risco para pessoas não expostas, pode ter uma contraindicação absoluta [para estas], ou mil possibilidades. Mas, até lá, quem pode ter algum risco já está protegido.”
Os novos dados foram informados pela Sanofi à Anvisa na segunda (27). No dia seguinte, a agência realizou teleconferência com a OMS (Organização Mundial de Saúde) para discutir o caso e foi formado um grupo para analisar os estudos completos.
Para Barbosa, apesar das mudanças na recomendação a taxa sobre potencial risco encontrada nos estudos de “não é estatisticamente significativa”, daí a necessidade de ampliar as pesquisas. “Não tem condições com esse estudo de dizer definitivamente se há esse risco.”
Ainda de acordo com Barbosa, dados de estudos clínicos recebidos pela agência durante a etapa de registro da vacina não apontavam aumento do risco para quem nunca contraiu o vírus da dengue, o que só foi detectado durante a etapa de acompanhamento das pessoas vacinadas.