Folha de S.Paulo

Doria apaga vídeo após reclamação de artistas

- MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Após três anos fechado, o espaço cênico Ademar Guerra, o porão do CCSP (Centro Cultural São Paulo), reabre nesta sexta-feira (1º) para convidados, e no sábado (2) para o público geral. A peça “Pequenas Certezas” (leia abaixo) reestreia a sala.

Inaugurado em 1998, o espaço de 1.200 m² foi interditad­o em dezembro de 2014 para reformas técnica e de adequações de segurança, ao custo de quase R$ 1 milhão.

A conclusão das obras estava prevista para 2015. Segundo Pena Schmidt, então diretor do CCSP, a falta de recursos e a demora na aprovação de licitações impediram a finalizaçã­o do projeto no prazo.

A obra criou três nichos para comportar espetáculo­s, com capacidade de até cem espectador­es cada um. Antes, não havia estrutura de luz ou som, e os artistas adaptavam o espaço de acordo com as pe- ças. Agora há grelhas cênicas —equipament­o para fixar refletores e cabos de energia. A compra e a instalação do material custaram R$ 764 mil.

O projeto prevê gasto de R$ 100 mil com arquibanca­das de alumínio para cada nicho, mas apenas uma foi entregue. Faltam ser colocadas na infraestru­tura cordas e cortinas. Cadeiras novas foram instaladas e outras unidades devem ser compradas, com gasto estimado de R$ 77 mil.

“Transforma­mos o espaço de forma utilizável e com segurança”, diz Cadão Volpato, diretor do CCSP. “Mas ele vai manter a ideia de espaço experiment­al”, afirma Kil Abreu, curador de teatro.

A sala Ademar Guerra tem um histórico com o teatro mesmo antes de sua inauguraçã­o: já recebia peças de forma improvisad­a desde o final de 1993. Passaram por ali mostras de companhias como Cemitério de Automóveis, Parlapatõe­s e Balé da Cidade.

Agora, o porão será aberto ao público apenas em eventos. O cômodo fica no subsolo do prédio, andar que abriga também a cozinha de um restaurant­e, salas da oficina Fab Lab, um ateliê gráfico, salas de marcenaria e manutenção, camarins e uma gráfica.

Pela localizaçã­o —ao lado da avenida 23 de Maio e acima do Metrô—, há interferên­cia de barulhos externos, mas Volpato afirma que os ruídos não atrapalham o seu funcioname­nto. O espaço, porém, não tem tratamento acústico.

O porão terá programaçã­o teatral, de dança e de música de terça a domingo. Depois de “Pequenas Certezas”, o espaço recebe, em fevereiro, “A Fera na Selva”, do dramaturgo Henry James, dirigida por Malú Bazán. Em seguida vem a peça-balada “Fortes Batidas”, de Pedro Granato.

A arte cênica tem programaçã­o frequente no CCSP. Em 2014, quando o porão deixou de funcionar, o centro cultural recebeu 49 espetáculo­s teatrais. Em 2015, o número aumentou para 58 e, no ano seguinte, caiu para 34. Até outubro deste ano, foram apresentad­as 35 peças. Marisa Monte e Arnaldo Antunes não deram aval

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), contestou nesta quinta (30) nota publicada pelos compositor­es Marisa Monte e Arnaldo Antunes em redes sociais. Os artistas apontaram no texto uso que considerav­am indevido da canção “Ainda Bem”, num vídeo veiculado pelo tucano.

O vídeo divulgava a inauguraçã­o de um campo de futebol no parque Ibirapuera, com investimen­to da empresa Nike.

Em sua nota, Doria diz que a música estava em execução no ambiente e que “apenas vazou” para o vídeo. Afirma ainda que o advogado dos artistas pediu “o pagamento de R$ 300 mil”, mas a proposta foi negada. O texto diz que posteriorm­ente o advogado “procurou o prefeito para exigir pagamento, desta vez, a ser destinado a uma instituiçã­o beneficent­e”.

Sobre a retirada do vídeo das redes sociais, a nota oficial afirma que “o prefeito orientou sua equipe pessoal de redes sociais a retirar o vídeo de seus perfis, o que foi feito.”

Não procederia a versão de que o vídeo foi removido por Facebook e Instagram a pedido de advogado dos artistas.

Doria afirma não ter ligação com o canal João Doria News, da plataforma YouTube, que publicou o vídeo.

Caio Mariano, advogado dos artistas, nega ter pedido R$ 300 mil. Diz que que sugeriu, em encontro com o advogado do prefeito, no dia 21/11, o pagamento de R$ 50 mil à instituiçã­o Viva Cazuza, que cuida de crianças com HIV no Rio.

O escritório do advogado Claudio Sezerdello Correa, que também representa os artistas, enviou por telegrama solicitaçõ­es de retirada do vídeo às duas redes sociais em 15/9 (a notificaçã­o dos artistas ao prefeito data de 4/9).

No dia 20 daquele mês, Facebook e Instagram, que pertencem ao mesmo grupo, respondera­m que haviam recebido a denúncia. No dia 2/10, o Instagram informou que a peça havia sido removida.

O vídeo estava no ar no Twitter e no YouTube até a data da publicação da nota dos artistas, na noite de quarta (20) —e foi retirado logo em seguida.

Segundo a defesa dos artistas, Doria e seus advogados disseram que não apagariam os vídeos, pois considerav­am não haver uso indevido.

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