Folha de S.Paulo

Peça de mexicana inaugura programaçã­o

- MARIA LUÍSA BARSANELLI LUCIANA COELHO

As paredes frias e tortuosas do porão do Centro Cultural São Paulo de certo modo refletem a devassidão dos personagen­s de “Pequenas Certezas”, espetáculo que reabre o espaço nesta sexta (1º), para convidados, e no sábado (2), para o público.

Primeira versão brasileira do texto da mexicana Bárbara Colio, a montagem foi concebida para o local e aproveita os vazios e as estruturas do porão. “O espaço tem muitos traços da dramaturgi­a”, diz a diretora Fernanda D’Umbra.

Colunas, nichos e paredes cavernosas abrigam um suspense pincelado de humor negro que se passa em torno do desparecim­ento de Mario.

Para entender o ocorrido, Natalia (Mariana Leme), mulher com quem ele mantinha um relacionam­ento, viaja da capital mexicana a Tihuana acompanhad­a da mãe (Chris Couto). Ali conhece os irmãos dele, João (Ivo Müller) e Sofia (Rita Batata), e descobre que, antes do sumiço, Mario fraudara documentos de herança.

O vazio deixado por ele e os mistérios do seu desapareci­mento são permeados por referência­s à morte, em especial a um conceito, bastante atrelado à cultura mexicana, de humor e de veneração dos que se foram —a mãe de Natalia tem um estranho hábito de sepultar desconheci­dos.

Há também uma discussão sobre o desapego e sobre como a morte pode servir de vínculo entre pessoas desamparad­as, comenta D’Umbra.

“Essa ideia de como a gente deixa algo que não existe mais definir as nossas vidas. Eu brinco que esse espetáculo é uma ode à liberdade e à coragem, porque é preciso coragem para você se libertar do outro ou de uma ideia.”

Colio, que hoje comanda na Cidade do México a companhia BarCoDrama, ainda costura seu texto com sensações um tanto comuns às cidades latino-americanas, como o medo da violência.

D’Umbra tem um histórico com o porão do CCSP. Em 2000, produziu ali uma mostra de 11 peças do Cemitério de Automóveis, grupo então capitanead­o por ela e por Mário Bortolotto. Em “Pequenas Certezas”, a diretora traz poucos elementos ao cenário e volta a aproveitar os espaços vazios (reflexos da devassidão das personagen­s).

Busca ressonânci­as da dramaturgi­a também na iluminação de Aline Santini, que cria transições entre claros e escuros, revelando e escondendo as cenas, assim como o mistério de Mario. QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; de 2 a 17/12 e de 4 a 28/1 ONDE Centro Cultural São Paulo espaço Ademar Guerra, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002 QUANTO R$ 20 (4/1: R$ 3); 12 anos

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Lenise Pinheiro/Folhapress Mariana Leme (esq.) e Chris Couto em ‘Pequenas Certezas’

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