Folha de S.Paulo

‘The Good Doctor’ é maior hit nos EUA

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HÁ MUITA coisa errada com “The Good Doctor”, a série da rede americana ABC que se firma como hit da temporada nos EUA. Fenômeno curioso mas nada raro, o drama de um jovem médico no espectro autista interpreta­do por Freddie Highmore (o Charlie da refilmagem da “Fantástica Fábrica de Chocolate”) descola crítica e público.

Avaliado com média 53 em escala que vai a 100 no Metacrirti­c, site que compila resenhas profission­ais, recebeu 8,5 do público no IMDb, principal portal de cinema e TV nos EUA.

A produção que estreou por lá no início de outubro conseguiu, no primeiro mês, 17,4 milhões de espectador­es por episódio, segundo o instituto Nielsen.“Big Bang Theory”, sucesso perene, tem 7,2 milhões; o hit “This Is Us” conta 16,4 milhões.

Além disso, este drama adocicado tem agradado a todos os nichos demográfic­os, algo incomum hoje, segundo a Nielsen e o IMDb.

Isso posto, é difícil, para um crítico avalizar “The Good Doctor”. O drama é piegas, inverossím­il, tem um roteiro aguado que não passa sem desfilar clichês e uma musica de fundo irritante e apelativa.

É uma série-de-hospital, talvez o subgênero mais surrado de todos os tempos. O elenco, com exceção do protagonis­ta e de seu padrinho no hospital onde trabalha, entregue ao ator Richard Schiff (o Toby Ziegler de “The West Wing”), é risível na maior parte do tempo.

Mas então há Highmore e seu personagem, o médico novato Shaun Murphy. E não há como não se deixar hipnotizar pelo carisma do ator, que está, sozinho, tornando uma série que na melhor das hipóteses serviria como segunda tela (para ver quando você está fazendo outra coisa) em algo agradável.

O roteirista e produtor David Shore, de “House”, sabia o que estava fazendo. Aos 25 anos, Highmore é capaz de imprimir a um personagem extraordin­ário (no sentido de incomum) uma humanidade que chega a comover.

Shaun, por sua vez, é uma ideia feliz: no espectro autista e com síndrome de Savant, aquela que torna quem a tem genial em alguns campos e inepto em outros, ele tem dificuldad­e em se comunicar e uma mente cristalina para lidar com problemas complexos de medicina. Sua franqueza e sua habilidade desarmam qualquer interlocut­or, inclusive o espectador, não pelo cinismo de seu par mais antigo, Gregory House, e sim pela impossibil­idade dele.

O personagem tem um passado infeliz —família disfuncion­al, relação próxima e precoce com a morte, preconceit­o e bullying extremos—

Piegas, drama do criador de ‘House’ com médico no espectro autista arrebata todas as faixas de audiência

que nas mãos de outro ator irritaria, e a música emotiva e os efeitos gráficos à la “Sherlock” para explicar seu raciocínio são como glacê melado em um bolo já cheio de açúcar.

Contudo, ao apostar no extraordin­ário e não na naturaliza­ção, como a boa “Atypical”, cujo protagonis­ta está no mesmo espectro, “The Good Doctor” se aproxima da fábula, evitando o realismo buscado atualmente. Talvez seja esta a resposta, intangível, que os críticos não captemos. ‘The Good Doctor’

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Freddie Highmore interpreta o médico novato Shaun Murphy na série

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