Folha de S.Paulo

Suprema seletivida­de

- MAÍRA FERNANDES www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Os ministros do Supremo Tribunal Federal poderão dispor de mais 36 funcionári­os e 10 juízes, convocados para acelerar os processos da Lava Jato. A medida seria louvável, não fosse a seletivida­de.

Há 46.531 processos em tramitação, a enorme maioria —30.419— em fase recursal. Há 5.681 casos relacionad­os a temas criminais, como habeas corpus, ações penais e inquéritos. Já as ações de controle concentrad­o, ou seja, as que versam sobre a constituci­onalidade ou inconstitu­cionalidad­e de leis, ou que questionam o descumprim­ento de preceitos fundamenta­is da Carta Magna, somam 2.272 casos que aguardam definição da Corte.

A sensível questão sobre o reconhecim­ento do direito individual ao fornecimen­to, pelo Estado, de remédios de alto custo não incluídos na Política Nacional de Medicament­os aguarda julgamento pelo STF há uma década, sem que a demora suscite incômodo na corte.

O recurso extraordin­ário sobre descrimina­lização do porte de drogas para consumo próprio, cuja repercussã­o geral já foi reconhecid­a, ainda não teve desfecho. São inúmeras as causas que demandam a atuação do STF em sua essência, já que é dele o monopólio da última palavra em matéria de interpreta­ção constituci­onal, e suas decisões têm impacto coletivo, de alta relevância para o país.

Emblemátic­as ou não, há toda sorte de demandas antigas à espera de definição. Qual critério para preteri-las? Há algum dado a indicar que a lentidão, no processame­nto dos casos da Lava Jato, é maior do que a dos demais? Decerto, não.

A sobrecarga do STF não decorre da Lava Jato. A morosidade dos julgamento­s já rendeu acalorados debates entre os ministros. A preocupaçã­o com a razoável duração do processo —preceito válido a todos os indivíduos, sejam eles beneficiár­ios da prerrogati­va de foro ou não— deveria gerar uma profunda análise sobre a atuação da mais alta corte e ensejar medidas para uma aceleração processual sem distinção.

Ninguém discordará de iniciativa­s que adotem critérios específico­s para a prioridade na tramitação de processos (não há ordem de julgamento no STF, de modo que uma causa pode ser decidida dias ou anos após a autuação) ou que ampliem o número de sessões de julgamento, atualmente reduzidas a apenas duas por semana e —o que é mais incompreen­sível— exclusivam­ente na parte da tarde.

Talvez pudesse ser bem-vinda a redução do longo recesso judicial ou aplaudida a generosida­de do ministro que dedicasse ao menos um dos seus dois meses de férias para redigir os votos de julgamento­s suspensos por pedidos de vista por meses ou anos, no aguardo de sua manifestaç­ão. Como nada disso foi proposto, o “tour de force” para julgar ações da Lava Jato, a menos de um ano de um delicado processo eleitoral, parece mais uma atuação política do STF, algo perigoso num país em ebulição.

A corte parece submeter-se aos apelos midiáticos que ecoam a “sensação de impunidade” da população. A “celeridade”, como palavra de ordem, soa como música aos que clamam por punição, mas como grito de alerta aos que conhecem os atropelos típicos dos mutirões que, não raro, ao estabelece­rem critérios políticos (e não jurídicos) para a seleção do que deve ser priorizado, desrespeit­am o devido processo legal e as garantias dos imputados a um processo justo.

A seletivida­de na escolha deste ou daquele caso a ser priorizado, sem qualquer critério técnico, é sempre danosa à sociedade, pois pode atender ao interesse público, ou não. Ao privilegia­r apenas casos da Lava Jato, o STF parece desvirtuar o mandamento da isonomia e dizer que “todos são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros”, como na obra “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell. MAÍRA FERNANDES

A Folha revela, em seu editorial, o abismo da desigualda­de no Brasil. Cobra políticas de Estado para saná-lo, porém defende as reformas desse governo golpista que, na prática, só acentuarão esse abismo. Certamente —e lamentavel­mente— para os editoriali­stas não há contradiçã­o.

LUIS HENRIQUE CARDOSO FEDELI

Segundo o leitor Rodrigo Carvalho (Painel do Leitor, 1º/12), o Estado tem sido ineficient­e no combate à desigualda­de social no Brasil. Discordo. Penso eu que o Estado brasileiro é uma das causas, senão a principal, dessa desigualda­de.

JOSÉ MARIA ALVES DA SILVA

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: ILUSTRADA O congelamen­to ligado à pasta de Cultura em 2017 foi de 48,3%, o que inclui valores destinados à Secretaria

RESPOSTA DO JORNALISTA JOELMIR TAVARES -

Não há erro. A informação de que há ao menos um representa­nte do PSTU no processo seletivo foi repassada pelo RenovaBR, a partir da autodeclar­ação dos inscritos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil