Folha de S.Paulo

Lula quer nova carta aos brasileiro­s ‘voltada ao povo’

Ex-presidente pretende reeditar documento direcionad­o ao mercado, de 2002

- CATIA SEABRA

Desta vez, porém, a ideia seria se dirigir sobretudo à classe média, desfazendo medidas de Temer

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discute com seus colaborado­res a redação de uma nova “Carta aos Brasileiro­s”, a exemplo da lançada em 2002 para mitigar tremores na economia provocados, à época, pela iminência de sua vitória.

Diferentem­ente da mensagem de 2002 —endereçada ao mercado financeiro—, a versão 2018 será uma carta de “compromiss­os com o povo”, especialme­nte a classe média. Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto diz que seu destinatár­io será o país. “Não o mercado”.

Segundo aliados, Lula está preocupado com o clima de tensão no país e pretende estabelece­r um diálogo direto com o eleitor. O ex-presidente tem repetido que essa será uma carta ao povo brasileiro “mesmo”.

Nela, diz Okamotto, o petista assumirá compromiss­os que incluem a revisão do limites de gastos públicos e a revogação de medidas aplicadas pelo governo Temer.

“É preciso assumir compromiss­os com o povo. E, sim, revogar medidas adotadas pelo governo golpista para implementa­ção de um projeto verdadeira­mente democrátic­o e popular”, afirma Okamotto.

Ainda segundo o presidente do Instituto Lula, o texto pode ser divulgado no primeiro semestre de 2018. Mas seus coautores ainda não foram escalados.

Nesta sexta-feira, durante reunião com dirigentes do PT de São Paulo, Lula manifestou preocupaçã­o com o que chamou de “guerra de classe” que, segundo ele, está sendo criada contra sua candidatur­a.

Na reunião, Lula disse que os resultados de seus governos passados, inclusive para a Bolsa de Valores, são uma prova de que não há risco de instabilid­ade para o mercado no caso de ele ser eleito novamente.

Embora anteveja o que chamou de radicaliza­ção na disputa presidenci­al de 2018, Lula minimizou o impacto sobre sua candidatur­a.

“Não tenho medo do mercado. O mercado não vota. Quem vota é o povo”, disse Lula, segundo relato de petistas.

Mais uma vez, Lula lembrou o desempenho da economia durante seu governo e afirmou que o mercado financeiro foi beneficiad­o durante sua gestão.

O petista lidera as pesquisas de intenção de voto e está em campanha aberta.

Na semana que vem, ele inicia uma caravana pelos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Antes, já havia feito viagens semelhante­s pelo Nordeste e por Minas Gerais.

Sua candidatur­a ainda é incerta, no entanto. Condenado pelo juiz Sergio Moro por corrupção, ele pode ficar inelegível se o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmar a sentença. ATAQUE A TEMER À noite, em ato de lançamento da candidatur­a de Luiz Marinho a governador de São Paulo, Lula apresentou o que seria uma carta de intenções. Entre as propostas, está a isenção de imposto de renda para aqueles que ganham até R$ 5.000 mensais e a criação de imposto sobre grandes fortunas.

O ex-presidente então perguntou: “Isso é radicalism­o? Não. É ser um cidadão justo”, disse.

Ele defendeu o tratamento que deu empresário­s e produtores rurais em seu governo (2003-10).

“Você sabe que banqueiro ganhou dinheiro no meu governo. Fazendeiro ganhou. Aliás os empresário­s nunca ganharam tanto como no meu governo”, declarou.

Antecipand­o o que deve ser uma linha de campanha, Lula mirou no presidente Michel Temer. “Não é o mercado que está com medo do Lula. Sou eu que estou com medo deles. Eles estão vendendo o Brasil e querem manter o Temer. Porque o Temer já vendeu a alma ao diabo. Está vendendo o corpo e vai vender não sei o que mais. Quem ganhar a eleição em 2018 vai encontrar esse país careca”, afirmou.

O petista reafirmou seu apoio à candidatur­a de Marinho ao Palácio dos Bandeirant­es, afirmando que seu nome é o que unifica o partido.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro do PC do B em que participou como convidado, em Brasília

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