Folha de S.Paulo

Empreiteir­a e telefônica não comentam

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O marqueteir­o Renato Pereira afirmou em delação ao Ministério Público Federal que a empreiteir­a Andrade Gutierrez usou a Oi para repassar recursos de caixa dois para a campanha de reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2014.

É a primeira vez que a empresa de telefonia é citada numa delação como tendo sido usada pela empreiteir­a, uma de suas controlado­ras, para repassar recursos ilícitos a políticos. Nos acordos de leniência e delação de executivos da Andrade Gutierrez, a empresa de telefonia nunca foi citada como sendo partícipe de irregulari­dades.

A omissão tem sido motivo de pressão do Ministério Público Federal no “recall” do acordo de colaboraçã­o dos funcionári­os da Andrade. A delação de Pereira, por sua vez, foi devolvida pelo ministro Ricardo Lewandowsk­i à Procurador­ia-Geral da República sem homologaçã­o, por discordânc­ias quanto à pena negociada.

Pereira afirmou aos procu- radores que a empreiteir­a fez um aporte de R$ 3 milhões para o caixa dois de Pezão por meio de uma triangulaç­ão de empresas que passava pela Oi. A estratégia para o repasse foi descrita, segundo o marqueteir­o, por Alberto Quintaes, ex-diretor comercial da empreiteir­a no Rio, ao seu então sócio, Eduardo Villela.

“A sugestão deles foi: ‘Nós fazemos um aporte para a Oi. A Oi destina um valor para a NBS e vocês fazem um contrato com a NBS ou o grupo PPR e recebem através deles’”, disse Pereira, marqueteir­o das campanhas do PMDB do Rio desde 2006.

A NBS é a agência de publicidad­e responsáve­l pela conta da Oi. Era também parceira da Prole, de Pereira, no grupo PPR, uma holding de agências de publicidad­e.

De acordo com o marqueteir­o, a sua empresa recebeu os R$ 3 milhões por meio de um acordo de indenizaçã­o em razão da venda do grupo publicitár­io para a multinacio­nal japonesa Dentsu.

“Foi feito um distrato entre o grupo PPR e a Prole pelo fato deles terem recebido um valor da Dentsu e nós não termos recebido nada. Creio que de fato a gente tinha que receber um valor, mas um valor pouco expressivo. Foi feito um acréscimo de valor para recebermos cerca de R$ 3 milhões. Esse contrato existiu para isso”, disse o marqueteir­o.

Quintaes é um dos delatores da Andrade Gutierrez, mas jamais mencionou a Oi no episódio.

Os R$ 3 milhões foram repassados no segundo turno da campanha, quando, segundo o delator, os gastos cresceram e faltava dinheiro para pagar funcionári­os e fornecedor­es. De acordo com Pereira, o repasse da Oi foi parte de um acordo de R$ 10 milhões da Andrade com Pezão.

O marqueteir­o disse ainda que o governador lhe relatou que a pessoa responsáve­l por garantir os recursos foi Sérgio Andrade, que preside o conselho do grupo e não participou do acordo de delação sob alegação de que estava fora da administra­ção desde 2007.

A Andrade e seus executivos firmaram delação em 2015, mas as investigaç­ões identifica­ram uma série de omissões. Como a Folha revelou, procurador­es de Curitiba pressionam negociador­es a relatar as relações entre a empreiteir­a, a Oi e a família de Lula.

Em entrevista à Folha no mês passado, um ex-executivo do grupo empresaria­l de Jonas Suassuna —um dos donos do sítio em Atibaia atribuído ao ex-presidente— afirmou que a Oi usou as firmas do empresário para fazer repasses a Lulinha. A Oi investiu R$ 82 milhões na Gamecorp, empresa que tem entre os seus sócios Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do petista.

A empresa de telefonia está em recuperaçã­o judicial e acumula dívida de R$ 63,9 bilhões. Há o temor de que, caso seja envolvida na Lava Jato, a Oi não consiga se recuperar.

DO RIO

A Andrade Gutierrez e a Oi afirmaram que não comentaria­m a delação premiada do marqueteir­o Renato Pereira.

Responsáve­l pelas campanhas do PMDB do Rio desde 2006, ele afirmou à Procurador­ia que a empreiteir­a fez um aporte de R$ 3 milhões para o caixa dois da campanha de reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) via triangulaç­ão de empresas que passava pela Oi.

O grupo PPR, do qual a agência NBS faz parte, negou que tenha feito qualquer transferên­cia de recursos ilegais para a Prole, de Pereira, a pedido de algum cliente. Segundo o marqueteir­o, os recursos vieram por meio de um acordo de indenizaçã­o superfatur­ado pela venda do grupo a uma multinacio­nal.

“A companhia de telefonia móvel e a construtor­a citadas são clientes da PPR há muitos anos. O relacionam­ento da agência com as empresas é exclusivam­ente de produção e veiculação de campanhas publicitár­ias. A PPR nunca fez doação de recursos para campanhas políticas e muito menos qualquer transferên­cia bancária dessa natureza”, diz a nota.

A empresa disse que “é auditada por empresa internacio­nal desde 2006”.

A assessoria de imprensa de Pezão afirmou que “todas as doações de campanha foram feitas de acordo com a Justiça Eleitoral”.

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Sérgio Lima - 20.set.2013/Folhapress O marqueteir­o Renato Pereira, que fez delação premiada à espera de homologaçã­o

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