Folha de S.Paulo

Prefeitura do Rio mantém contrato com delator

Assessoria de Crivella disse que não recebeu informaçõe­s sobre possíveis irregulari­dades

- FÁBIO FABRINI

Mesmo após seu proprietár­io, o marqueteir­o Renato Pereira, confessar envolvimen­to em esquemas de corrupção e fraude a licitações em vários órgãos, incluindo a Prefeitura do Rio, a agência Prole continua prestando serviços na gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB).

O contrato do município com a empresa permanece em vigor e as faturas estão sendo pagas normalment­e. Atualmente, ao menos duas campanhas —a “Matrículas 2018” e a “Táxi.Rio”— estão sendo executadas pela Prole.

A agência obteve R$ 6,1 milhões dos cofres municipais este ano. Em todo o período do atual contrato —iniciado em julho de 2015, no governo de Eduardo Paes (PMDB)—, foram R$ 49,8 milhões.

Na delação, o marqueteir­o disse que houve fraude tanto na licitação para os serviços em vigor quanto na anterior (2009), cujo contrato venceu.

Ele disse que indicava quais empresas seriam contratada­s não só na publicidad­e, mas em outras áreas da comunicaçã­o, ficando com até 80% dos ganhos delas. Para manter a influência na prefeitura, relatou ter pago propinas a gestores públicos.

O vínculo do município com a agência expiraria em julho deste ano, mas Crivella assinou um aditivo contratual prorrogand­o os serviços por mais um ano. A delação veio à tona depois disso.

A divulgação das denúncias, além de não ter interrompi­do os trabalhos e o repasse de recursos, não ensejou a abertura de nenhuma apuração interna na prefeitura.

Depoimento­s de Pereira, bem como documentos apresentad­os por ele, foram tornados públicos em 14 de novembro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowsk­i. Ficaram dez dias disponívei­s.

Na sexta (24), o ministro Dias Toffoli impôs novamente sigilo.

Questionad­a pela Folha sobre a abertura de investigaç­ão, a assessoria de Crivella alegou que não teve “acesso à delação” e que não recebeu “informaçõe­s a respeito de possíveis irregulari­dades”.

Desde que o Supremo divulgou a delação, o município fez dois repasses à Prole: em 16 e 27 de novembro.

Lewandowsk­i decidiu devolver a delação à PGR (Procurador­ia-Geral da República) para que faça ajustes. Ele considerou serem excessivos os benefícios acertados pelo órgão com Pereira.

O delator relatou fraudes também em processos do Estado do Rio e em outras prefeitura­s, como a de Niterói.

O governo do Rio informou que a Prole não lhe presta mais serviços e que não abriu apuração sobre as fraudes relatadas pelo marqueteir­o.

Em Niterói, o contrato com a agência continua em vigor.

Segundo o município, uma nova concorrênc­ia para contratar empresas de publicidad­e, da qual a Prole não participou, está em fase final.

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Fátima Meira - 26.out.2017/Futura Press/Folhapress O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, em evento no Planalto

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