Jato”, lançado neste mês, Praça reconstrói a trajetória da PF, Ministério Público Federal e outros órgãos.
A nomeação do delegado Fernando Segovia para a chefia da Polícia Federal foi classificada pelo professor da Fundação Getúlio Vargas Sérgio Praça como “um passo importante” na tentativa de políticos de dominarem órgãos de investigação e controle da corrupção.
Para o cientista político, a luta entre essas instituições e a classe política tende a se tornar “superescancarada” e, especialmente na PF, a autonomia conquistada ao longo de anos está em risco.
Em seu novo livro “Guerra à Corrupção – Lições da Lava Folha - O sr. diz que o Brasil saiu de um equilíbrio de muita corrupção e pouca punição para muita corrupção e muita punição. Como isso serve aos órgãos de controle?
Sérgio Praça - Esse é o principal ponto do meu livro. Vamos imaginar que a prevenção à corrupção melhore muito no país. O que sobraria para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal fazerem? Se houver menos corrupção vai ser ruim para eles. Vão perder muita importância.
Não estou dizendo que existe um complô de promotores, procuradores e policiais federais para ter mais corrupção. Estou dizendo que o estado de coisas hoje favorece esses órgãos e esse não é o melhor equilíbrio político para o país. Esses órgãos não agem no sentido de manter esse equilíbrio?
De muita punição certamente. Especialmente o MPF quer mais poder, quer tirar o poder da PF. É um órgão com zero autocrítica e zero capacidade de punir burocratas que desviam do seu trabalho. O que Deltan Dallagnol e Carlos Lima [procuradores de Curitiba] falaram do Marcelo Miller [exprocurador suspeito de orientar delatores da JBS]? Nada. Um silêncio ensurdecedor. O MP se coloca acima das outras instituições. Fazem um trabalho crucial, mas se conseguissem enxergar além do próprio umbigo seria sensacional. A tendência de haver muita corrupção e muita punição é se manter ou mudar?
Está havendo uma tentativa muito aberta de os políticos tomarem conta dos órgão de controle que estejam a seu alcance para evitar mais punição. A nomeação do Fernando Segovia [para a chefia da PF] é claramente um passo importante nesse sentido. A luta contra a corrupção está ameaçada?
A autonomia de MP e TCU é constitucionalmente assegurada. O MP é o mais autônomo do mundo, sem exagero. O normal do MP, nos EUA, por exemplo, é ser subordinado ao Executivo. A PF e a CGU não, são subordinadas ao Executivo. Mas conquistaram autonomia ao longo do tempo e de ganhos reputacionais com boas investigações. A cena da PF prendendo políticos virou corriqueira. Quais os efeitos disso?
É bom que políticos e empresários tenham medo de receber a visita da PF.
Tem um efeito claro que é uma descrença imensa no sistema Seu título fala em lições da Lava Jato, quais são elas?
A primeira é muita atenção para o sistema eleitoral e para o financiamento de campanha. Especialmente para a compra de votos. O Brasil é muito menos desenvolvido do que as pessoas pensam. AUTOR Sérgio Praça EDITORA Generale QUANTO R$ 29,90 (128 págs.)