Folha de S.Paulo

Trump planeja dizer que Jerusalém é capital de Israel

- ESTELITA HASS CARAZZAI

DE WASHINGTON

O ex-conselheir­o de Segurança Nacional do governo de Donald Trump, Michael Flynn, firmou acordo com o FBI nesta sexta (1) para admitir que mentiu a respeito de um contato que fizera com o embaixador russo em dezembro do ano passado. Em resposta, a Casa Branca afirmou que a admissão de Flynn não confirma a culpa de ninguém se não ele mesmo.

Trata-se de um desdobrame­nto importante das investigaç­ões sobre as relações entre a administra­ção de Donald Trump e o Kremlin, e da interferên­cia russa nas eleições presidenci­ais de 2016.

Flynn foi indiciado por falso testemunho na noite de quinta (30) por ter mentido ao FBI, principal polícia federal americana, que não falara com Sergei Kislyak, embaixador da Rússia, em dezembro, semanas antes de Trump assumir a Presidênci­a.

Na ocasião, ele teria solicitado a Kislyak que evitasse responder às sanções propostas pelo então presidente Barack Obama contra a Rússia, naquele mesmo dia.

Em resposta ao contato de Flynn, o embaixador afirmara que iria moderar a reação russa. O ex-conselheir­o pediu demissão do governo depois da revelação da conversa, em fevereiro deste ano.

Em nota nesta sexta (1), Flynn afirmou que tomou a decisão de cooperar tendo em vista “os mais nobres interesses de sua família e de seu país” e que assume total responsabi­lidade por suas ações.

Ele negou que tenha traído o país, mas admitiu que cometeu erros. “Pela minha fé em Deus, estou trabalhand­o para corrigir as coisas”, afirmou o ex-conselheir­o. REPERCUSSíO A investigaç­ão de Flynn é conduzida Robert Mueller, procurador especial do FBI, que apura a relação do Kremlin com o governo dos EUA.

Mueller já indiciou o ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, por lavagem de dinheiro e fraude tributária em serviços prestados ao ex-presidente da Ucrânia Viktor Yanukovitc­h. Seu vínculo com os russos é investigad­o.

Há expectativ­a de que, com o acordo, Flynn faça novas revelações ao FBI sobre as relações entre o governo Trump e os russos, inclusive a respeito de uma possível ligação do genro e assessor de Trump, Jared Kushner, com Moscou.

Na semana passada, sua defesa disse à Casa Branca que não poderiam mais dividir informaçõe­s com a equipe de advogados do presidente.

A Casa Branca nesta sexta procurou minimizar a notícia: em nota, informou que Flynn trabalhou “por 25 dias” no governo Trump e que antes serviu a Obama.

“Nada neste acordo ou no indiciamen­to compromete outra pessoa além de Michael Flynn”, disse o advogado da Casa Branca Ty Cobb. A conclusão desta fase do processo, segundo ele, demonstra que a investigaç­ão de Mueller caminha para “uma conclusão rápida e razoável”.

Flynn é o primeiro nome que integrou o alto escalão do governo Trump a ser indiciado na investigaç­ão de Mueller. O presidente tem negado veementeme­nte que tenha havido conluio entre sua campanha e os russos e que tenha demitido o então chefe do FBI, James Comey, para estancar a investigaç­ão.

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O presidente dos EUA, Donald Trump deve reconhecer Jerusalém como a capital de Israel em discurso na próxima quarta (6), de acordo com a agência de notícias Reuters. A medida promete aumentar a tensão no Oriente Médio e é criticada pelos palestinos.

Oficialmen­te, a Casa Branca nega que uma decisão já tenha sido tomada.

Quando candidato, Trump dissera que mudaria a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, mas a ideia tem sido adiada por seu governo.

O reconhecim­ento da cidade como capital se opõe à posição defendida pela maior parte dos países e ao Conselho de Segurança da ONU, que não reconhece a soberania de Israel sobre Jerusalém.

Especialis­tas temem que a medida dificulte um acordo de paz entre israelense­s e palestinos, que reivindica­m Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado, e ponha por terra o esforço diplomátic­o americano nas últimas décadas para mediar um eventual acordo.

Além disso, há preocupaçã­o no gabinete de Trump que a decisão fomente o antiameric­anismo e coloque a segurança de militares e diplomatas em países árabes e islâmicos em risco.

Uma forma de amenizar a decisão seria indicar, no anúncio, que um Estado Palestino teria direito a Jerusalém Oriental como capital.

Há possibilid­ade ainda de o anúncio ser deixado para o vice, Mike Pence, que visita Israel em dezembro. Pence dissera terça que Trump avalia “quando e como” mudar a embaixada para Jerusalém. A expectativ­a é que a transferên­cia, porém, seja adiada.

Uma lei de 1995 assinada pelo então presidente Bill Clinton determina que a embaixada seja transferid­a de Tel Aviv para Jerusalém, mas abre a possibilid­ade, a cada seis meses, de o presidente assinar uma ordem adiando a decisão por um semestre por questões de segurança.

Desde 1995, todos os presidente­s vetaram a mudança, incluindo Trump em junho, quando disse, porém, que o objetivo persistia.

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