Folha de S.Paulo

AEuropa precisa de uma Alemanha forte. Por isso, é desejável formar um novo governo rapidament­e

- DIOGO BERCITO

DE MADRI

Os rumores de que teria aceitado negociar com a chanceler alemã, Angela Merkel, para formar o próximo governo na Alemanha foram desmentido­s nesta sexta-feira (1º) pelo líder do SPD (Partido Social-Democrata, centro-esquerda), Martin Schulz.

“Eu repudio esse boato completame­nte. É falso e inaceitáve­l”, afirmou. Horas antes, o tabloide “Bild” havia noticiado haver um acordo para as negociaçõe­s entre os partidos. Caso verdadeira, a notícia poderia significar o destrave da pior crise política alemã das últimas décadas.

Merkel venceu as eleições de 24 de setembro, mas sem a maioria necessária para governar sozinha com seu partido, a conservado­ra CDU (União Cristã-Democrata), e sua sigla-irmã da Baviera, a CSU.

Ela negociou por semanas com os Verdes e com os liberais do FDP, mas as tratativas fracassara­m em novembro, lançando a Alemanha —a maior economia da União Europeia— em uma inesperada instabilid­ade política.

A aliança com o SPD, conhecida como “grande coalizão”, é uma das últimas opções de Merkel antes de se render a novas eleições.

Schulz, apesar de desmentir que as negociaçõe­s tenham começado, não negou a possibilid­ade de um eventual acordo com a CDU. “Há um consenso amplo para não fechar nenhuma opção em relação a formar o próximo governo”, disse a repórteres. SEM PRESSA Merkel e Schulz se reuniram na quinta (30) com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, para tentar resolver o impasse. Mas, mesmo se os dois partidos de fato iniciarem negociaçõe­s, pode demorar semanas até que o novo governo seja formado.

O próprio SPD já avisou que não tem pressa. O ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, membro do partido, afirmou em uma entrevista que a cúpula socialdemo­crata analisará as opções cuidadosam­ente. “Nin- guém pode esperar que isso aconteça de maneira rápida.”

Parte da resistênci­a do SPD vem do resultado de sua última aliança com Merkel, com quem governou nos últimos quatro anos. A parceria levou a sigla ao seu pior resultado eleitoral nas eleições passadas, com 20,5% dos votos contra os 32,9% da CDU. No mesmo pleito, o partido da direita ultranacio­nalista AfD (Alternativ­a para a Alemanha) teve 12,6% dos votos.

Enquanto um novo governo não for definido, a “grande coalizão” entre CDU e SPD segue governando o país.

A calma do SPD, no entanto, contrasta com a urgência de Merkel e com as insistênci­as do presidente Steinmeier. A estabilida­de da Alemanha é vista como algo fundamenta­l para toda a União Europeia, que enxerga em Merkel uma espécie de âncora.

“A Europa precisa de uma Alemanha forte e, por isso, é desejável formar um novo go-

ANGELA MERKEL (CDU)

chanceler alemã verno rapidament­e”, disse Merkel em discurso recente.

Como as negociaçõe­s frustradas com os Verdes e com os liberais no mês passado, as tratativas preliminar­es entre a CDU e o SPD envolveria­m uma série de obstáculos.

A CDU e a CSU (União Cristã-Social da Baviera) querem cortar impostos e limitar a 200 mil por ano a entrada de migrantes. Os social-democratas, por outro lado, pedem que não haja barreiras à vinda de familiares para que eles possam se reunir com refugiados já instalados no país. Em 2015 quase um milhão de pessoas chegou à Alemanha.

Se Merkel não conseguir formar um governo com o SPD, sua alternativ­a será um governo de minoria com os Verdes —sem a maioria parlamenta­r, ela teria de negociar com os demais partidos a cada votação no Parlamento.

Mas a chanceler já disse preferir novas eleições a um governo instável, o que faz do SPD sua última chance de manter o mandato atual. Voltar às urnas também preocupa os grandes partidos, pois poderia resultar em ainda mais votos para a sigla da direita ultranacio­nalista AfD.

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