Folha de S.Paulo

Novos dados indicam que recente recessão não foi a pior da história

Revisões do PIB, feitas para aperfeiçoa­r o resultado, devolvem liderança para a década perdida

- GUSTAVO PATU

A diferença no número oficial é pequena, mas é importante como registro para a história das crises do Brasil

A diferença está na casa depois da vírgula, mas importa para o registro histórico: com a revisão de números feita pelo IBGE, a recessão de 2014-16 deixou de ser a mais aguda já medida no país.

Essa marca havia sido estabeleci­da pelo Codace, um comitê de economista­s abrigado na Fundação Getulio Vargas que se dedica a determinar a duração e a intensidad­e dos ciclos econômicos.

Em outubro, o grupo calculou que a crise mais recente havia durado 11 trimestres —igualando o recorde de 1989-92— e provocado uma queda do Produto Interno Bruto de 8,6%, um pouco maior que os 8,5% de 1981-83.

O percentual foi apurado com base na série histórica de evolução do PIB divulgada um mês antes. Esses dados, porém, passam por reavaliaçõ­es e ajustes periódicos, como aconteceu agora. MENOS TRÁGICO Com as novas contas do IBGE, o desempenho do Brasil no ano passado passou a parecer ligeiramen­te menos trágico —uma queda do PIB de 3,5%, em vez dos 3,6% medidos anteriorme­nte.

No início de novembro, também já havia mudado a medida da retração de 2015, de 3,8% para 3,5%.

Dessa maneira, as novas estatístic­as oficiais apontam que, do segundo trimestre de 2014 ao último de 2016, a produção e a renda do país encolheram 8,2%.

Mesmo antes dessa revisão, o epíteto de “maior recessão da história” já se mostrava questionáv­el.

Em primeiro lugar, porque só há valores do PIB detalhados por trimestre a partir dos anos 1980. Mesmo cifras anuais só começaram a ser calculadas na década de 1940.

Adicionalm­ente, a metodologi­a de apuração passou por consideráv­eis mudanças nos últimos anos, tornando as comparaçõe­s imprecisas.

Por fim, na recessão de 1981-83, provocada pela explosão da dívida externa brasileira, a taxa de cresciment­o da população era bem superior à atual —ou seja, a queda da renda por habitante era igualmente mais acentuada.

É indiscutív­el, de todo modo, que quatro grandes recessões se destacam na história do país desde o século 20.

A de 1930-31, decorrente da Grande Depressão norteameri­cana, enfraquece­u a oligarquia agrária e marcou o fim da República Velha.

Na crise da dívida externa, intensific­aram-se as pressões pelo encerramen­to da ditadura militar; as contrações de 1989-92 e 2014-16 contribuír­am decisivame­nte para a derrocada dos governos de, respectiva­mente, Fernando Collor e Dilma Rousseff.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil