Folha de S.Paulo

Passado menos ruim eleva previsão para a atividade em 2017 e em 2018

Com revisões, estimativa­s de cresciment­o chegam a 1% neste ano e a até 3% no ano que vem

- FLAVIA LIMA

Resultado em si do 3º trimestre tem pouca influência para a melhora nas projeções para a economia

Um passado menos ruim do que se conhecia surpreende­u economista­s e deflagrou uma onda de revisões positivas para o PIB de 2017. A expectativ­a agora é que ele encerre o ano em alta ao redor de 1%. O número não é exuberante, mas correspond­e pelo menos ao dobro do cresciment­o previsto pelo mercado até setembro deste ano, segundo o Banco Central.

Para chegar lá, basta que o PIB do último trimestre do ano fique no zero a zero, algo visto como bastante razoável.

Na mesma trilha de 2017, as previsões para 2018 também estão sendo elevadas e algumas já encostam em 3%.

Os dois movimentos não foram influencia­dos pelo PIB do terceiro trimestre, divulgado nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE, mas pelo desempenho passado da economia —menos fraco do que se apontava.

De julho a setembro, o PIB teve leve alta de 0,1% sobre o trimestre anterior. O número fraco é o retrato de uma retomada econômica bastante gradual e ficou aquém da média das expectativ­as de analistas, em torno de 0,3%.

Ocorre que, simultanea­mente à divulgação do dado do trimestre, o IBGE anunciou a incorporaç­ão de novas informaçõe­s do PIB de 2015, que havia sido revisado de -3,8% para -3,5%.

Essa espécie de “correção” é feita tradiciona­lmente nos dois anos seguintes à primeira divulgação do PIB anual.

Analistas já esperavam que essa revisão tivesse algum impacto positivo sobre os resultados de 2016 para cá, mas se surpreende­ram com o efeito.

No primeiro trimestre de 2017, a alta do PIB passou de 1% para 1,3% sobre o trimestre anterior. O efeito mais forte ficou para o segundo trimestre: de 0,2% para 0,7%.

O resultado é que o passado “não tão ruim” melhorou estimativa­s tanto para este quanto para o próximo ano.

Um dos ajustes mais fortes foi feito pelo Rabobank. O banco esperava alta de 0,6% para o PIB de 2017 e agora prevê cresciment­o de 1,1%. CONSUMO Essa trajetória, associada a perspectiv­as ainda mais favoráveis para o consumo das famílias, abriu espaço para que o PIB de 2018 cresça 2,2% (e não mais 2%), diz Mauricio Oreng, economista-chefe do 1º tri. 2014 3º tri. 2014 A SG RANDES CRISES Duração (trimestres) 1º tri. 2015 Rabobank.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o avanço em 2017 passa de 0,9% para 1%, e, em 2018, de 3% para 3,1%.Um ponto interessan­te a alimentar as projeções, diz ele, é que hoje quase 80% dos componente­s do PIB estão crescendo, percentual semelhante ao observado 3º tri. 2015 1º tri. 2016

MAURICIO ORENG

economista-chefe do Rabobank -8,2 -8,6 antes da crise.

Bradesco e Itaú ainda não o fizeram, mas prometem calibrar as suas estimativa­s nas próximas semanas. REFORMAS Artur Manoel Passos, do Itaú, diz que os fundamento­s econômicos melhores, em especial os juros mais baixos, devem manter a trajetória de recuperaçã­o. Mas, para que a retomada seja robusta, ressalta, a agenda de reformas precisa seguir avançando.

Para a MCM Consultore­s, as revisões mais positivas se baseiam na recuperaçã­o dos serviços e da indústria, ainda que mais titubeante.

Apesar de modesta, a alta do PIB do terceiro trimestre sobre o trimestre anterior marca o terceiro período consecutiv­o de avanço nessa base de comparação, algo não visto há mais de três anos, diz Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon. Segundo ele, as previsões para 2017 contidas no Boletim Focus, do Banco Central, devem convergir em breve para 1%.

Ainda assim, diz Oreng, dificuldad­es estruturai­s persistem, como a reação lenta do investimen­to. “Se ocorrer, a alta de 1,1% após dois anos de contração de 3,5% sugere uma volta muito lenta”, diz.

a alta do PIB de 1,1% em 2017 após dois anos de contração de 3,5% sugere uma volta muito lenta

MARIANA CARNEIRO, LUCAS VETTORAZZO,

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