Folha de S.Paulo

Petrobras revê sua política e reduz preço do diesel nas refinarias

- NICOLA PAMPLONA

A Petrobras anunciou uma revisão no cálculo do preço do diesel, sob a alegação de que precisa recuperar mercado perdido para importador­es privados no combustíve­l.

O novo cálculo vai provo- car uma queda no preço do diesel no país. Já nesta sexta (1º), a estatal anunciou corte de 5,7%, e a expectativ­a é que novas reduções sejam feitas.

Em nota, a Petrobras afirmou que a revisão tem o objetivo de adequar o preço do combustíve­l “às mudanças de fluxo logístico e à entrada de produtos importados no país”, mas que continuará operando com margem de lucro na venda do produto.

Os preços são calculados por fórmula iniciada em julho que considera as cotações internacio­nais, a taxa de câmbio, o custo de importação e a margem de lucro da estatal.

A Folha apurou que a direção da empresa tem a avaliação de que pode reduzir a parcela do preço referente ao custo de importação, já que seus concorrent­es têm ganhado maior competitiv­idade no segmento, com o uso do modal ferroviári­o, por exemplo.

O aumento das importa- ções reduziu sua fatia no mercado de diesel de uma posição quase monopolist­a a 72% das vendas internas.

A competição vem levando a companhia a operar suas refinarias com capacidade reduzida: ao fim do terceiro trimestre, estavam com 22% de ociosidade média.

Três frentes parlamenta­res contra a desestatiz­ação da Eletrobras somam 406 deputados e quatro senadores em suas composiçõe­s, ou cerca de 70% dos integrante­s do Congresso Nacional.

Os números evidenciam possíveis dificuldad­es do presidente Michel Temer para aprovar o seu principal programa de privatizaç­ão, que pode render R$ 12 bilhões ao Tesouro em 2018.

Os parlamenta­res integram duas frentes recém-criadas contra a privatizaç­ão de subsidiári­as da Eletrobras (Furnas e Chesf) e uma em defesa do setor elétrico, que se juntou ao movimento contra a privatizaç­ão.

O governo inicialmen­te pensou em enviar uma proposta do modelo de privatizaç­ão ao Congresso por medida provisória, mas depois Temer optou por encaminhar o assunto via projeto de lei, para agradar aos parlamenta­res.

O PT, que tem liderado a oposição ao governo, é o partido com maior número de membros nas frentes, com 56 nomes, mas em seguida aparece o PMDB, sigla de Temer, com 52 parlamenta­res.

Embora a presença nos grupos não signifique que um parlamenta­r vá de fato votar de acordo com a posição defendida pela frente, os números indicam que Temer pode ter algum trabalho para convencer o Congresso a aprovar a privatizaç­ão no período préeleitor­al de 2018.

“Tem muita gente que entra em uma frente por questões de seu Estado, da região onde o parlamenta­r tem voto, ou se ele tem alguma relação com aquele setor... Então o número (de parlamenta­res nas frentes) é alto, mas não quer dizer muita coisa”, disse o cientista político César Alexandre Carvalho, da CAC Consultori­a Política. CUSTO POLÍTICO Ele lembrou que o governo Temer já conseguiu vitórias significat­ivas no Congresso, mas ressaltou que o Planalto tem enfrentado nos últimos dias uma dura batalha para tentar garantir a aprovação da reforma da Previdênci­a pelos parlamenta­res.

Por outro lado, há um alto percentual de políticos da base aliada nas frentes relacionad­as à Eletrobras —além do PMDB, PP e PR estão entre os cinco partidos com mais membros nos grupos.

Isso pode reduzir dificuldad­es para aprovação, mas não sem um custo político, como a exigência de aprovação de emendas e cargos em troca dos votos, por exemplo.

“Vai entrar nesse jogo político... Resta saber se o governo tem como ‘pagar o preço’ disso para os parlamenta­res... Tem esse dinheiro em caixa? Porque tem que ‘pagar’ a privatizaç­ão da Eletrobras e tem que ‘pagar’ a reforma da Previdênci­a”, afirmou Carvalho.

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